Hoje em dia, é raro encontrar alguém que mantenha uma relação saudável e equilibrada com a imagem que vê de si mesmo. Em um mundo hiperconectado pelas redes sociais, cuidar do corpo se tornou quase um mandamento moderno, mas até que ponto esse cuidado é realmente saudável?
O que muitas vezes nos é apresentado como “autocuidado” pode esconder um rígido modelo de padrões estéticos e cobranças que, em vez de promover maior bem-estar físico e mental, se torna um sofrimento silencioso. Treinos exaustivos, dietas restritivas e comparações constantes servem como um alerta: o que antes era zelo se tornou compulsão.
“O cuidado saudável com o corpo mantém as atividades naturalmente, sem abrir mão das outras coisas da vida”, comenta a psicóloga Adriana Palomares, ao falar sobre a fronteira entre o cuidado e a obsessão com a própria imagem. De acordo com a especialista, quando o desejo por uma vida mais saudável começa a apresentar riscos à saúde, outros âmbitos da vida também são afetados.
O peso invisível das redes sociais
Não é segredo que as redes sociais influenciam a forma como enxergamos nossos corpos. Entre vídeos de “antes e depois”, corpos definidos, rotinas superprodutivas e frases motivacionais, a sensação é de que todo mundo está se superando – e você está ficando para trás. A constante comparação com corpos surpreendentes e, muitas vezes, irreais, gera inseguranças e ansiedade, trazendo o sentimento de culpa por não estar seguindo um suposto padrão. “Por um exagero da mídia e das redes sociais, há a comparação com os padrões estabelecidos por terceiros e considerados erroneamente como certos”, explica Adriana.
Não se pode esquecer que esse modelo ilustrado nas redes sociais nem sempre se aplica na realidade. Por trás dos corpos que encantam, filtros e edições fazem arte. Em alguns casos, até são completamente reais, mas o que não se mostra às câmeras é o método utilizado para obter o que vemos no resultado: a normalização do uso de esteroides anabolizantes. É assim que o autocuidado vira compulsão, a saúde vira estética e o corpo se torna um eterno projeto de correções.
Como identificar algo não vai bem?
Identificar que passou dos limites nem sempre é uma tarefa fácil. Entender que cuidar do corpo deve ser um gesto de carinho – e não de punição – é um processo longo e baseado no autoconhecimento. No entanto, existem sinais que podem te ajudar a perceber que talvez você esteja perdendo o equilíbrio na vida fitness.
O que começa com culpa por sair da dieta ou medo de ganhar alguns quilinhos pode evoluir para treinos compulsivos, distorção da própria imagem, isolamento social por insatisfação com o corpo e sentimento de constante insuficiência. Esses são alguns dos sintomas que devem te deixar em alerta: sua jornada a uma vida saudável pode não estar sendo tão saudável assim.
“Quando os outros prazeres não fazem mais sentido, quando o prazer de comer passa a ser descontrolado, seja pelo exagero ou pela falta de alimentação. Quando o foco principal da vida é a imagem corporal, diante de si e do meio em que vive.” – Adriana Palomares
A relação com transtornos
Em muitos casos, esses comportamentos estão ligados a transtornos que, em grande parte, são silenciados, mascarados pela ideia de autocuidado. “Ansiedade e compulsão pelor atingimento de metas e protótipos pré-estabelecidos. Após isso, pode acabar desencadeando a bulimia nervosa ou a anorexia”, explica a especialista.
Outros transtornos também associados à luta contra o espelho são a vigorexia e a ortorexia. A vigorexia, ou transtorno dismórfico muscular, é uma condição psicológica que afeta a percepção que a pessoa tem do próprio corpo. Nesse caso, o indivíduo se vê como fraco e magro, mesmo quando possui músculos e um físico bem desenvolvido. O transtorno pode levar à prática excessiva de exercícios físicos, a restrições ilógicas na alimentação e à busca por anabolizantes.
Por sua vez, a ortorexia é um transtorno relacionado à preocupação exagerada com o consumo de alimentos saudáveis, o que, nas redes sociais, viralizou como o ato de “comer limpo”. Os comprometidos são indivíduos que alteram seus hábitos alimentares de forma gradual, sem notar que, pouco a pouco, as coisas saem do controle e a conduta torna-se uma questão patológica.
Não hesite: a busca profissional é importante!
As cobranças internas constantes provocam exaustão física e mental – e enfrentar essa situação sozinho pode prolongar o sofrimento. Com isso, o acompanhamento psicológico, psiquiátrico e nutricional é essencial para identificar padrões nocivos, trabalhar a imagem corporal e construir uma rotina verdadeiramente saudável – desta vez equilibrada e leve.
“A terapia comportamental ajuda no autoconhecimento e na quebra de padrões considerados certos, que levam ao sofrimento psíquico.” – Adriana Palomares
Pedir ajuda está longe de ser um sinal de fraqueza. A busca por apoio profissional é um ato de responsabilidade consigo mesmo. É por meio dessa ajuda que o verdadeiro bem-estar transparece a dependência ao espelho e à balança.
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O artigo acima foi editado por Sophia Claro.
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