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Casper Libero | Wellness

“Mindful eating”: como a prática de comer consciente mudou minha relação com a comida 

Júlia Festagallo Student Contributor, Casper Libero University
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter and does not reflect the views of Her Campus.

Minha adolescência foi marcada por conturbações alimentares. Foram anos lutando uma batalha interna, na qual a compulsão alimentar e a busca por uma vida mais saudável e equilibrada me levaram a um ciclo de restrições e culpa. Tudo que eu começava com disciplina e determinação acabava em uma sensação de fracasso e o que antes era prazeroso se tornou uma perturbação na minha rotina.

Comecei a comer menos e até com mais pressa, aprendi a contar calorias e os doces, que antes eu amava, se tornaram meus inimigos. Em meio a tudo isso, ouvi falar do mindful eating pela primeira vez. Em uma consulta com uma nutricionista surgiu uma possibilidade de rever minha relação com a comida:  aprender a lidar com ela sem culpa, pressa ou restrições. 

O que é o mindful eating? 

O termo “mindful eating” ou “comer consciente” refere-se a uma prática de comportamento alimentar que prioriza a conexão plena com o momento da alimentação. É um hábito que provém do “mindfulness”, uma técnica de meditação budista, mas sem aspectos religiosos, referente ao foco e a concentração no momento presente. Misturando todos os sentidos – desde o paladar até a audição – o intuito da prática é de se conectar com seus sentimentos, comportamentos e reações em frente ao alimento. 

Lorena Neiva, nutricionista com foco em comportamento alimentar e comer intuitivo, me explicou a importância e a diferença que a alimentação, quando feita com total atenção, tem em nossas vidas. Além de nutricionista, Lorena compartilha em suas redes sociais dicas valiosas sobre o “mindful eating”, além de demonstrar na prática como ele funciona.

“Hoje em dia é muito fácil comer no automático, a vida é muito corrida e os momentos da refeição acabam sendo momentos em que a gente está fazendo outras coisas também…” comenta. “O estado de presença que o mindful eating vai incentivar é justamente prestar mais atenção no momento da alimentação, para conseguirmos sentir mais prazer comendo, identificar os sabores e para principalmente repararmos na fome e na saciedade.”

Em meio a um cenário de dietas, restrições e crenças alimentares impostas, o comer consciente se distingue totalmente do padrão alimentar que eu havia adotado para minha vida até então. Compreender que a base do mindful eating se difere totalmente de uma dieta, independente de qual seja, foi um desafio que eu resolvi encarar, pensando no meu bem-estar mais à frente.

 “Dieta quer dizer que você está trazendo restrições para sua alimentação…o mindful eating não traz essas regras, ele te traz uma perspectiva de atenção” aponta a nutricionista.

Foi assim que eu troquei as restrições do que comer e quanto comer, pelo hábito da presença, tomando decisões a partir da observação de sinais apontados pelo meu próprio organismo.  

Inicie pelo básico e quando você menos esperar o hábito fará parte da sua rotina

Implementar o comer consciente não foi fácil e até hoje é um aprendizado constante. Quebrar um padrão de hábitos é um desafio e, assim como tudo que buscamos obter sucesso na vida, exige uma boa dose de determinação. 

Minha virada de chave foi durante um momento que criei todas as noite após o jantar. Desde pequena tinha o costume de finalizar o dia com um pedaço de doce, mas eram raras as vezes que esse pedacinho não se transformava no doce por inteiro. O primeiro passo foi perceber que esse “desejo” de doce na verdade estava muito mais ligado ao hábito de comê-lo do que à vontade em si.

Muitas das vezes eu já estava satisfeita com o jantar, mas, por estar ligada no “modo automático” corria para atacar a despensa. Reconhecer o sinal de saciedade foi importante para que depois eu pudesse administrar o que eu realmente queria, precisava ou apenas já estava determinado na minha rotina. 

O segundo passo foi aprender a desfrutar do doce com presença, ativando todos os sentidos e evitando distrações. Separar uma porção e comer em pequenas mordidas, reparando na textura, cheiro, cor, e claro, o sabor, facilitou a compreensão de que um pedaço bastava e, caso eu quisesse, poderia repetir amanhã. 

Assim, aos poucos, os alimentos hiper palatáveis, como os doces, pararam de ser “proibidos” no meu vocabulário, e transferir esse hábito para as demais refeições foi mais natural do que eu esperava, e assim entrei em um processo contínuo. 

Mas como fazer isso? 

Segundo a nutricionista, além da importância da necessidade de utilizarmos a prática como exercício constante, o primeiro passo é estarmos mais presentes ali no momento da alimentação, para observarmos mais e aprendermos a lidar melhor com as distrações. 

“Estar mais consciente, mais presente é trazer um olhar de curiosidade. Por exemplo, acabei de comer e estou um pouco cheia, mais pesada…é trazer um olhar de observação do que aconteceu, mas sem julgamento.”

Dentro das técnicas da prática, comer com atenção é apenas uma das estratégias que podem ser adotadas. Dicas como realizar pequenas pausas enquanto mastiga, soltar os talheres, observar os aspectos do alimento, como textura, cheiro e cor, também, podem tornar o processo mais fácil. Acima de tudo, é essencial que você se conecte com seu próprio corpo, compreenda quando está saciado ou com fome. 

A reconexão 

Em meio a restrições, a conexão do alimento com o próprio organismo é perdida, e compreender sinais de fome e saciedade se torna um desafio. Um dos grandes benefícios do mindful eating é a reconexão do seu corpo com as suas vontades e necessidades, tornando a alimentação ainda mais prazerosa. 

“Eu trabalho com o comportamento alimentar, sou apaixonada pelo comer intuitivo, porque a gente não tem como olhar para a alimentação só com o aspecto de calorias e nutrientes. A comida além disso, está envolta de momentos emocionais. Comida é cultura, é social e é muito difícil eu não trazer tudo isso junto na hora de fazer escolhas alimentares”, explicou Lorena, que além de trabalhar com a prática também usufrui dela. 

O hábito de comer consciente retoma o que a sociedade vem perdendo aos poucos – o real intuito da alimentação – que é nutrir, trazer bem-estar físico e mental, mas acima de tudo, unir e conectar pessoas. Se eu pudesse te dar um conselho eu lhe diria para  praticar o mindful eating. Independente de qual seja sua relação ou histórico com a comida, o momento da alimentação ganhará muito mais significado. 

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The article above was edited by Larissa Vilapiano Prais.

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Júlia Festagallo

Casper Libero '29

I'm a journalism student at Cásper Líbero university that believes in power of communication to connect and inspire. Passionate about culture, travel and lifestyle, I'm always eager for a challenge.