Her Campus Logo Her Campus Logo
Casper Libero | Culture

O valor dos livros de romance na vida real

Júlia Festagallo Student Contributor, Casper Libero University
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter and does not reflect the views of Her Campus.

Vivemos em um mundo frenético, acelerado, que ânsia por novas informações e conteúdos a cada segundo dos nossos dias. As telas dos celulares e computadores tomam conta de nossas horas, os trabalhos tiram nossa energia e a busca por sucesso se torna uma grande corrida. No meio de tudo isso, será que é realmente importante ler livros de romance? O que para muitos parece algo banal, pode ser um verdadeiro aliado no autocuidado. 

O gênero romance é muitas vezes titulado como uma simples “leitura leve”, mas isso subestima a profundidade e a capacidade que esses livros têm de impactar a vida dos leitores. Ao conectar emoções e explorar a complexidade das relações humanas, os livros de romance podem se tornar verdadeiros ajudantes para a compreensão da vida social. 

“O romance é um dos gêneros mais potentes para o trabalho terapêutico, justamente por sua capacidade de envolver o leitor em histórias que espelham a complexidade da experiência humana”, comenta a biblioterapeuta Priscila Ramos Barbosa. “Os romances, com suas tramas emocionais e personagens complexos, ajudam a puxar o ‘fio do novelo’ da vida de cada um. Eles são muito bem-vindos porque refletem a experiência humana de forma profunda e simbólica”, completa.

A biblioterapia é um tratamento terapêutico mediado por livros. A partir de elementos simbólicos, apresentados nos livros, inicia-se o processo de cura, no qual experiências e sentimentos se alinham à literatura. Ao conversar com Priscila compreendemos que os romances ultrapassam a barreira do ficcional e se tornam espelhos simbólicos que nos ajudam a enxergarmos a nós mesmos: “Ele nos ajuda a manter viva a sensibilidade em meio a um mundo cada vez mais bruto.” 

Romances carregam ensinamentos profundos

Os romances servem como reflexo da condição humana. Lemos personagens com impulsos, medos, desejos, falhas e acertos. São personagens que, embora fictícios, carregam sentimentos e trajetórias reais. Por trás de cada contexto, cheio de conflitos e transformações, o leitor pode, não só compreender o outro, como também voltar o olhar a si mesmo. 

“No geral, o que mais me marca é como essas histórias me fazem refletir. Muitas vezes, aprendo com as experiências dos personagens ou me identifico com as protagonistas de um jeito que me ajuda a entender mais sobre mim mesma e o porquê de eu ser desse jeito”, diz Érika Jacinto, analista administrativa, que faz da sua página no Instagram (@novoepílogo) um espaço para dividir sua paixão pelos livros de romance. 

“Muitas vezes me vejo em situações parecidas com as dos personagens, e isso me faz reconhecer atitudes ou sentimentos que eu nem percebia em mim mesma”, comenta Érika. A experiência ficcional passa a ser ainda mais valiosa ao reconhecermos, nas páginas dos livros, padrões de comportamentos, atitudes e reações similares às nossas. Eles funcionam como uma forma de lição sutil, que se alinha aos nossos pensamentos quando menos esperamos. Por meio das vivências dos personagens podemos enxergar o caminho para lidar com muitos de nossos problemas, ampliando a empatia e promovendo autoconhecimento.  

Empatia e representatividade

E se eu te disser que os livros nos tornam mais empáticas? A leitura tem o poder de abrir mentes. Ao ler sobre a vida e os sentimentos de personagens em contextos diferentes do seu, torna-se mais fácil se relacionar com pessoas diferentes de você na vida real. “Os romances têm se tornado cada vez mais diversos e isso é muito importante. Quando vemos protagonistas que fogem do padrão idealizado, histórias LGBTQIA +, personagens pretos ou com vivências diferentes da nossa, a gente expande o olhar”, aponta Érika. Os livros são uma forma de destrinchar o mundo, navegar por diferentes aspectos sociais e, assim, permitir que enxerguemos de fora dos nossos próprios ambientes, nos transferindo imaginariamente a outras realidades. 

Pensando pelo caminho inverso, hoje existem milhares de estilos de romances e garanto que algum deles se encaixa à sua realidade. Se sentir enxergado e representado dentro de um livro é verdadeiramente terapêutico, é como descobrir que outras pessoas passam pelos mesmo desafios e sentimentos que nós. “Os livros validam nossas vivências, nos incluem e promovem representatividade ao mostrar histórias que dialogam com a diversidade da experiência humana”, aborda a biblioterapeuta Priscila. 

@analureading

pra que terapia se eu posso ler livros com personagens em crise? 😃 #booktok #booktokbrasil #livros

♬ Labyrinth x The Archer x Not Strong Enough – starxshine

Benefícios emocionais e psicológicos 

Ler é um verdadeiro ato de relaxamento, e isso não se aplica unicamente aos romances. Por guiar nossas mentes a um mundo imaginário, com personagens e situações fictícias, os livros nos afastam de problemas e preocupações do mundo real. 

Em um estudo realizado pela Universidade de Sussex em 2009, o hábito da leitura tem o impacto positivo na redução dos níveis de estresse em até 68%, mais do que escutar música ou praticar algum exercício físico. E se você pensa que para isso seriam necessárias várias horas de leitura, você está enganada: apenas seis minutos já seriam suficientes, segundo estudo. “Perder-se em um livro é o maior relaxamento. Isso é particularmente pungente em tempos econômicos incertos, quando todos nós desejamos uma certa quantidade de escapismo”, comentou o Dr. Lewis, neuropsicologista cognitivo e co-autor do artigo Reading ‘can help reduce stress’ para o veículo The Telegraph

Os romances também são grandes aliados ao enfrentar temas delicados como identidade, relações tóxicas ou traumas. Eles auxiliam a enxergar padrões nocivos e, perante isso, oferecem vocábulo emocional para falar sobre essas experiências. As histórias dão um significado para o sofrimento, apontando, através da jornada de personagens, um caminho para reconstrução. “Isso funciona porque o cérebro não distingue completamente entre o que é vivido e o que é imaginado. Assim, ao viver a jornada de um personagem, o leitor também reelabora sua própria história”, explica Priscila. 

Não podemos esquecer que os romances são uma forma de fazer as pazes com a mente, aceitar e abraçar quem somos. “Ler romances é, pra mim, uma forma de me escutar com mais gentileza. Eles me ajudam a desacelerar, a entender melhor minhas emoções e até a dar nome para sentimentos que eu não sabia explicar”, comenta Érika. A leitora assídua ainda afirma: “Para mim, os romances são convites para mergulhar nas emoções mais profundas e sair com lições valiosas sobre a vida e o amor.” 

Por onde começar a ler romances?

Para você que nunca leu romances, ou até mesmo já tenha lido e busca está novas sugestões, aqui vão cinco títulos incríveis e leves, mas carregados de muito significado. 

Nem Te Conto, Emily Henry (Indicação da Érika)

A trama gira em torno de Daphne e Miles, dois personagens completamente opostos, mas que dividem uma experiência em comum: ambos foram abandonados pelos seus ex-parceiros (que inclusive estão juntos em um relacionamento). Uma convivência é estabelecida quando os dois passam a compartilhar temporariamente um apartamento e um relacionamento falso surge logo após um inesperado convite para o casamento de seus ex-namorados. “É uma leitura que prova que o gênero pode ser muito mais do que clichê; ele pode ser divertido, profundo e totalmente envolvente”, nas palavras de Érika. 

Simplesmente Acontece, Cecelia Ahern

Muitos conhecem o filme, mas o livro foge totalmente do formato convencional, uma vez que é escrito através de mensagens de texto, bilhetinhos, cartas e e-mail. A narrativa se desenvolve a partir da relação de uma dupla de melhores amigos que enfrenta diversas barreiras para manter a amizade e, inclusive o amor, vivo. Se difere totalmente dos outros livros do gênero por não ter um narrador: entendemos a relação da Rose e do Alex através dos diálogos entre eles.   

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, Taylor Jenkins Reid

A narrativa explora a vida e relacionamentos da estrela fictícia de Hollywood, Evelyn Hugo. O livro conta a história da atriz simulando a produção de uma biografia, intercalando os relatos com reportagens e narrativas jornalísticas. É uma obra tocante ao trabalhar com temas importantes e delicados de forma respeitosa e glamurosa, o que é um eufemismo para definir Evelyn. É um livro inesquecível.  

Lugar Feliz, Emily Henry

Traduzido do título Happy Place, o livro trata da história Harriet e Wyn, “casal” que não está mais junto há meses, mas não encontram uma forma de contar aos seus amigos. É um título que trabalha o amor em múltiplas faces, não só como romance. É um livro sobre esperança e com certeza será uma ótima introdução para o universo dos livros. 

Sete Dias em Junho, Tia Williams 

Por fim, um dos meus prediletos: Sete Dias em Junho. O livro conta a história da escritora e mãe solo Eva Mercy que reencontra um caso amoroso de quinze anos atrás, Shane Hall, também escritor, romancista e completamente enigmático. O mais interessante: ambos percebem que seus livros foram escritos um para o outro ao longo dos anos e, a partir de então, uma segunda chance no amor parece possível. É um livro tocante, que aborda o amor materno e a cura de traumas. 

👯‍♀️ Related: 5 books to fall back in love with reading

__________

O artigo acima foi editado por Clara Rocha.

Gostou desse tipo de conteúdo? Confira a página inicial da Her Campus Cásper Líbero para mais!

Júlia Festagallo

Casper Libero '29

I'm a journalism student at Cásper Líbero university that believes in power of communication to connect and inspire. Passionate about culture, travel and lifestyle, I'm always eager for a challenge.