Aviso: contém spoilers!
A adaptação cinematográfica de Wicked já havia conquistado plateias em 2024 com o primeiro filme. Agora, Wicked: For Good, lançado no dia 20 de novembro de 2025 no Brasil, entrega não apenas a conclusão da história, mas duas músicas originais que prometeram transformar a maneira como o público compreende as protagonistas Glinda e Elphaba. Neste artigo a HC analisou como essas músicas trabalharam e adicionaram mais camadas às nossas bruxinhas de Oz.
Glinda além do brilho: a confissão de “The Girl in the Bubble”
Durante mais de duas décadas, Glinda foi associada à imagem de perfeição: a bruxa boa, radiante e adorada. No palco, sua bolha mágica sempre foi símbolo de leveza e encantamento. Em “The Girl in the Bubble”, essa mesma bolha ganha nova interpretação, agora como metáfora de isolamento emocional.
A canção surge em um momento crucial do filme, quando Glinda confronta sua versão pública enquanto uma legião violenta de caçadores de bruxas se reúne às suas portas. O número marca a derrota ideológica da “persona popular de Glinda”, em que ela finalmente questiona o preço de ser uma ferramenta de propaganda nas mãos da Madame Morrible e do Mágico.
A música se coloca como resposta ao embate com Fiyero (interpretado por Jonathan Bailey) em sua festa de noivado, onde ele aponta que Glinda não conseguiu resistir à “popularidade”. Ao fim da canção, Glinda abandona a Cidade Esmeralda para tentar salvar Elphaba dos caçadores, uma escolha que exige dela o tipo de coragem que sempre foi colocada de lado em sua vida pública. A canção ressoa como retrato de uma crise de identidade.
Elphaba e a busca por pertencimento em “No Place Like Home”
Se Glinda canta sobre as amarras da expectativa externa, Elphaba expressa uma dor mais íntima: a ausência de um lugar para chamar de seu.
O título faz referência direta à fala icônica de Dorothy no filme O Mágico de Oz de 1939, quando a personagem de Judy Garland repete “There’s no place like home” para retornar ao Kansas. Em Wicked: For Good, a frase ganha camadas de ironia e melancolia quando cantada por alguém que nunca teve um lar: físico ou emocional.
“No Place Like Home” aparece quando Elphaba descobre um grupo de animais fugindo de Oz por um túnel secreto sob a Estrada de Tijolos Amarelos. Ela canta para convencê-los a ficar, mas o número transcende esse contexto imediato: é uma confissão sobre pertencimento, aceitação e o desejo de ser acolhida sem reservas.
A canção foi desenvolvida em colaboração com a própria Cynthia Erivo e representa uma das poucas oportunidades no arco de Elphaba para expressão emocional mais vulnerável, algo que a personagem raramente se permite.
músicas em diálogo
O que torna as composições particularmente interessantes é a forma como funcionam em espelho. Enquanto Glinda enfrenta o excesso de luz, atenção, expectativa, Elphaba lida com a ausência. Uma se sente sufocada pelo olhar alheio; a outra, invisível apesar de tudo o que faz.
Juntas, as canções articulam aquilo que o relacionamento entre as duas personagens sempre sugeriu, mas que o palco nem sempre teve tempo de explorar: ambas carregam feridas profundas, apenas de naturezas distintas. E é justamente essa complementaridade imperfeita que sustenta a amizade central de Wicked.
Expansão cinematográfica
A divisão da adaptação em dois filmes permitiu à equipe criativa, incluindo o diretor Jon M. Chu e os roteiristas Winnie Holzman e Dana Fox, aprofundar relações que, no ritmo acelerado do segundo ato do musical, recebiam tratamento mais condensado.
As novas canções são parte dessa estratégia. Stephen Schwartz, o compositor e letrista do musical Wicked, já havia sinalizado em 2022 que o segundo filme contaria com músicas inéditas “para atender às demandas da narrativa”. Para o artista criativo, o formato cinematográfico ofereceu espaço para material que, no palco, poderia comprometer o momento dramático do segundo ato.
Ambas as faixas são elegíveis ao Oscar de Melhor Canção Original, um reconhecimento que nenhuma composição do primeiro filme pôde disputar, já que não havia números completamente novos.
Recepção e contexto
Nem toda a crítica, porém, recebeu as novas músicas com o mesmo entusiasmo. Em resenha publicada pela NPR (National Public Radio), por exemplo, o crítico observou que “No Place Like Home” e “The Girl in the Bubble” “acrescentam pouco além de tempo de duração” – uma avaliação que contrasta com a recepção calorosa de parte do público.
A divergência ilustra um debate recorrente em adaptações de musicais: quando novas canções enriquecem a narrativa e quando funcionam apenas como adições comerciais. No caso de Wicked: For Good, a resposta parece depender de quanto o espectador valoriza o aprofundamento psicológico das protagonistas em relação ao ritmo da trama.
O que muda em Oz
Independentemente da avaliação crítica, as duas músicas cumprem função específica no universo expandido de Wicked: humanizam personagens que, por décadas, corriam o risco de se cristalizarem como arquétipos.
Glinda deixa de ser apenas “a boa” para se tornar alguém que precisa escolher ativamente a bondade, mesmo quando isso significa abandonar tudo o que construiu. Elphaba, por sua vez, revela que por trás da rebeldia e da dureza existe uma criança que ainda busca o que nunca teve: um lugar onde ser amada não seja um fardo para os outros.
São confissões que o teatro nunca ofereceu tão diretamente. E é precisamente por isso que, para muitos fãs, Wicked: For Good representa não apenas a conclusão de uma história, mas a revelação de tudo aquilo que as personagens sempre quiseram dizer e que só agora, finalmente, encontraram espaço para expressar.
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O artigo acima foi editado por Luiza Kellmann.
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