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DAPHNE RUBIN-VEGA as Daniela, STEPHANIE BEATRIZ as Carla and DASCHA POLANCO as Cuca in Warner Bros. Pictures’ “IN THE HEIGHTS,” a Warner Bros. Pictures release.
DAPHNE RUBIN-VEGA as Daniela, STEPHANIE BEATRIZ as Carla and DASCHA POLANCO as Cuca in Warner Bros. Pictures’ “IN THE HEIGHTS,” a Warner Bros. Pictures release.
Photo by Macall Polay / Warner Bros
Casper Libero | Culture

A dança além do passo: Cultura, inclusão e as nuances da profissão no Brasil

Maria Luiza Mazza Student Contributor, Casper Libero University
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter and does not reflect the views of Her Campus.

A gente não precisa falar nada específico, a gente trabalha com o nosso corpo e consegue entregar um recado. Eu gosto muito disso, acho que é importante“, Ana Carolina Seluque, diretora do Liberté Dance Studio

Um dos principais desafios dos dançarinos brasileiros atualmente é a falta de condições. Em entrevista para a Her Campus Cásper Líbero, a diretora do Liberté Dance Studio, Ana Carolina Seluque pontua a importância de atender alunos de diferentes classes sociais em escolas de dança e a necessidade de ambientes mais humanizados, com ações afirmativas, como disponibilização de bolsas de estudos para alunos carentes. 

Muitos bailarinos não possuem condições para arcar com acompanhamento médico, alimentação correta, academia, entre outras necessidades que a profissão, dançarino, exige. Como resultado dos altos custos envolvidos, muitas pessoas desistem do sonho da dança, a falta de oportunidades e de perspectivas de futuro para a profissão no país também são fatores agravantes. Como é o caso de Enzo dos Santos, estudante de 12 anos que conseguiu uma bolsa de estudos integral em 2023 para dançar nos Estados Unidos, no South America Summer Program, mas não conseguiu realizar esse sonho pela falta de condições financeiras.

Existe um corpo ideal para a dança?

Muitas pessoas acreditam que dançarinos precisam ter o corpo ideal. No imaginário popular a bailarina precisa ser alta, magra, branca, ter cabelos loiros e lisos, olhos claros e acima de tudo, ela deve ser delicada. E se eu te contar que isso não tem absolutamente nada a ver com a dança? Todas essas características são padrões impostos pela sociedade que foram tidas como verdades absolutas durante anos, entretanto não possuem fundamentação alguma.

A dança é uma arte e o corpo do dançarino pode ser compreendido como o motor, ele que fica encarregado de fazer com que a arte aconteça. Não existe um corpo ideal para se tornar dançarino. Desde que você tenha vontade e queira transmitir algo pelo seu movimento, você possui o corpo ideal. Não se compare ou fique pensando que você não é o tipo certo para dançar. Todo corpo dança e todo corpo faz arte. Como pontuou Ana Carolina “não existe um corpo ideal para a dança, mas sim existe a dança ideal para você, que vai te motivar e fazer feliz”.

Dançar e seus benefícios

Quando dançamos o nosso corpo libera hormônios como a endorfina, serotonina e dopamina, responsáveis por causar aquela sensação de bem estar e felicidade. A atividade auxilia no combate de doenças psicológicas como depressão e ansiedade, além de ajudar a melhorar a memória, capacidade de realização de diferentes tarefas ao mesmo tempo e autoestima. Além do impacto positivo na saúde mental, um estudo de 2017 feito por pesquisadores alemães comprovou que a dança funciona também como um antídoto para o envelhecimento do cérebro. 

Pesquisadores australianos realizaram uma revisão de estudos publicados na revista científica Sports Medicine e concluíram  que a dança é superior a outras atividades para melhorar motivação, memória, cognição social e reduzir o sofrimento em pessoas com Doença de Parkinson, por exemplo. No aspecto físico, nosso corpo cria resistência ao dançarmos, ou seja, com músculos mais fortalecidos há menos chances de lesões no futuro, resultando em longevidade.

Dança e comparação

O mundo da dança, principalmente do Ballet, é repleto de pressão psicológica. Se comparar com outros dançarinos pode ser prejudicial para o desempenho dos profissionais, sem mencionar os efeitos negativos na saúde mental. 

Existem diversos estilos, ritmos e formas de se expressar pela dança. Cada dançarino possui sua maneira de se expressar, não é pela quantidade de prêmios, medalhas e aplausos que a qualidade de um profissional deve ser compreendida. Na dança há espaço para todos criarem sua arte e se expressarem. 

Durante a entrevista, a diretora do Liberté refletiu sobre a forma que lida, em seu estúdio, com esse ambiente tóxico de competição. “Acabamos de ir para uma competição, levamos muitos trabalhos e 80% foram premiados, mas tiveram os 20% que não foram. O pessoal não ficou com sentimento de fracasso. Os próprios colegas se ajudaram falando: ‘Gente, mas vocês arrasaram, foi muito bom, foi a melhor passada que vocês tiveram’, então, o pessoal se incentiva em vez de desmotivar.

Curiosidades para além dos palcos

Dança é cultura

Por mais que pareça óbvio, dança é estar em constante troca com a cultura. A dançarina Carolina Tarlá, de Ribeirão Preto, começou a dançar em 2023 e hoje em dia faz parte de um grupo chamado Eye2See. Ela reflete sobre o aprendizado e a troca que você tem ao entrar no universo da dança, e o aprendizado que se tem sobre outras culturas. Para ela, além da diversidade brasileira, há uma troca com as tradições e elementos estrangeiros.

Dançar é muito mais que um esporte, uma simples atividade física, é um aprendizado diário sobre a cultura do próprio país e a de países estrangeiros.“A dança no meio cultural acaba sendo um dos galhos… Porque (a cultura) tem uma raiz muito grande, eu imagino a cultura em si como uma árvore que tem seus galhos.

Colegas que se tornam família

Há algo de especial na ligação que as pessoas desenvolvem dançando. Algumas séries e filmes acabam ilustrando essa conexão, como é o caso de The Next Step (2013). Vários dançarinos acabam se conectando ao se encontrarem para ensaiar, coreografar e dançar. Essa troca durante os ensaios para espetáculos e apresentações desenvolve muitos laços afetivos e amizades inesperadas que duram, em alguns casos, a vida toda. 

Além da vibe da dança ser algo único, a união que os dançarinos criam ao se apoiarem em competições, por exemplo, acaba emocionando e se transformando em laços duradouros. Carolina pontua: “Eu conheci muita gente nova (por conta da dança) que hoje em dia são essenciais em minha vida”

A profissão no Brasil

A nomeação, Professor de Dança, dada pela  Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), abrange todos os profissionais que lecionam algum estilo, como Ballet, Jazz, Hip Hop e outros. Também não existe uma regulamentação específica para todos que dançam, ou seja, o Governo só reconhece os direitos da dança para pessoas que são formadas no Ensino Superior ou Ensino Técnico próprio para a atividade. 

O que isso quer dizer? Bom, dançarinos que não têm acesso à escolaridade não são reconhecidos pelo Governo e acabam não tendo seus direitos garantidos. Segundo a Câmara dos Deputados, para exercer a atividade o profissional não não precisa de diploma, mas este só será reconhecido caso possua diploma, tendo por Lei seus direitos garantidos. 

Racismo presente 

O racismo na indústria da dança, ainda se faz muito presente. A produção de trajes de Ballet pensados para pessoas de pele negra, por exemplo, ainda é uma luta. Sim, vocês não leram errado!

A bailarina Ingrid Silva, primeira bailarina da companhia Dance Theatre of Harlem, em uma entrevista para o site  Primeiros Negros, comenta sobre a dificuldade de sua carreira em relação as vestimentas do Ballet. Ingrid ganhou um alcance internacional quando começou a postar nas redes imagens de suas sapatilhas, todas pintadas com base de maquiagem para chegarem ao tom de sua pele, já que os modelos disponíveis no mercado eram sempre confeccionados em cores claras. A situação foi tão comentada que a brasileira ganhou um artigo para chamar de seu no The New York Times, e um dos pares customizados por ela está exposto no Museu Nacional de Arte Africana Smithsonian, em Washington. 

Mamães dançarinas  

Depois que uma dançarina descobre a gravidez surgem muitos questionamentos, mas o principal seria “Agora que eu vou ser mãe, eu preciso parar com a dança?”. A resposta é: não! Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, dançarinas não precisam encerrar suas carreiras para serem mães. 

Ana Carolina comenta sobre a descoberta de sua gravidez. Para a diretora e dançarina foi um momento repleto de questionamentos, não só em sua vida pessoal, mas também profissional. Segundo ela foi um período perturbador, porque ela não queria parar de dançar. 

Quatro bailarinas mundialmente conhecidas encontraram força e conforto em um grupo privado no Whatsapp com dezenas de mães dançarinas. Essas bailarinas são nada mais nada menos que Ingrid Silva, Grace Whitworth, Xin Ying e Allison DeBona. Após um tempo elas criaram uma página no Instagram chamada Dancers & Motherhood, que visa criar uma espaço para mulheres que dançam  compartilharem suas experiências, criando assim uma rede de apoio – a qual elas só foram ter ao entrarem neste grupo de Whatsapp. 

Conselhos para começar a dançar

As dançarinas Carolina e Ana Carolina, elaboraram uma lista com quatro dicas para aqueles que desejam levar a dança para o dia a dia.

  • Procure um espaço humanizado. Um estúdio no qual as pessoas não vão te diminuir o tempo inteiro, ou comentando sobre seu corpo e criando rivalidade entre alunos. Ana Carolina reforça a importância disso, pois a mesma já passou por espaços de dança abusivos, que desmotivaram ela a continuar na profissão, então procure espaços que só te farão crescer e que te motivem. 
  • Não precisa ter vergonha de começar. Todo mundo começa de algum lugar, seja dançando em casa, na rua ou na escola. Ninguém nasce sabendo, então mesmo que você ache que não está na fase por causa da sua idade, saiba que não tem momento certo para começar!
  • Tente achar uma dança que você realmente goste de fazer! Existem diversas categorias de dança, você não precisa se prender as clássicas como o Ballet, cada um tem seu estilo e se você começar por algo que não se identifica, só irá dificultar o processo. 
  • Apenas comece! Não tenha medo de fazer arte. 

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The article above was edited by Malu Alcântara.

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Maria Luiza Mazza

Casper Libero '28

Completamente apaixonada por arte, história, cultura e música.