Cada geração, cada década, cada século, tem sua forma própria de se comunicar e vícios de linguagens podem se tornar marcos temporais de uma faixa etária, e esse pode ser o caso da quase “morte” das letras maiúsculas.
Entenda o que é a geração Z
Quem nasceu entre os anos, 1995 e 2010, é classificado como “Geração Z” que diferentemente de todas as outras, nasceu bem no meio da transição de um mundo onde a internet deixa de ser algo novo para se tornar algo substancial na vida em sociedade. Essa geração, por ter praticamente todas as informações na palma da mão, é extremamente impaciente e imediatista, além de ser super estimulada e adepta a ser “multitarefa”, querendo fazer tudo ao mesmo tempo.
Como a “Gen Z” se comunica?
Por serem nativos digitais, a linguagem e forma de se comunicar dos “Z” têm como características proeminentes estímulos visuais como emojis, gifs, memes e, além disso, eles utilizam também muitas gírias e abreviações, assim podemos citar a abreviação de “você” para “vc”, que ficou tão habitual que atravessou diversas gerações.
O uso intensivo dessa forma de se comunicar, que é mais informal e desafia as normas gramáticas tradicionais, está fazendo com que essa geração enfrente dificuldade para redigir textos e escrever à mão, já que estão acostumados a escrever frases digitadas, curtas e abreviadas.
Está na moda deixar de usar a letra maiúscula?
A letra maiúscula para a Geração Z, que tem seu uso para substantivos próprios ou destacar expressões, por exemplo, está perdendo cada vez mais espaço no uso cotidiano nas redes sociais.
O motivo por trás desse desinteresse, que faz os jovens desligarem a capitalização dos seus celulares, é simples e além de apenas uma questão de marca de estilo, eles também sentem que essas letras podem parecer sérias, rígidas e até mesmo como um “grito”, enquanto as minúsculas parecem mais gentis e sociáveis.
Essa geração considera a capitalização como algo relacionado a outras gerações mais antigas e a situações formais, como o trabalho. Quando eles estão em situações informais, eles buscam tanto utilizar as minúsculas, que para muitos já virou até um hábito. Uma das maiores artistas da geração Z, Olivia Rodrigo, acompanha essa tendência também, e intitula praticamente todas as suas músicas com letras minúsculas, influenciando assim ainda mais jovens a utilizarem dessa nova moda.
Se engana quem acha que essa geração foi a primeira a se “rebelar” contra essas letras, a pensadora e escritora feminista, Gloria Jean Watkins ou “bell hooks” escolheu esse pseudônimo com letras minúsculas, por um motivo que vai muito além de somente uma grafia que desafia as normas gramaticais, é uma forma de fazer as pessoas valorizarem suas ideias e não o seu “eu”.
Impactos no mercado de trabalho
Ao contrário das outras gerações, a Z tem uma capacidade de realizar multitarefas e de se adaptar facilmente aos mais diferentes ambientes digitais, outrossim como ponto negativo, os mais velhos entram em conflito com o imediatismo dessa nova geração, que nasceu tendo tudo na hora que quer e nas palmas das mãos.
Hoje em dia, nas redes sociais, ligar a capitalização do próprio celular é considerado como “porta de entrada” para a vida adulta. Apesar desse novo hábito estar em alta entre os jovens, ao entrarem no mercado de trabalho ou até em cursos superiores, eles desapegam desse modo de escrever, e voltam a utilizar as letras maiúsculas, pois falam com públicos de diferentes gerações e que prezam por uma linguagem mais formal e mais alinhada às normas gramaticais.
O que podemos esperar dessa moda no futuro?
Segundo a linguista da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Michelle Veloso, “estamos num mundo em que tudo é excessivo: muitas informações, muitas ideias, muita conexão virtual, muita aceleração em tudo; ou seja, esse excesso meio que exige da sociedade mais moderna, a geração Z, uma espécie de pedido de socorro, talvez uma ‘transgressão’ para os ávidos amantes da gramática. Mas acredito que a cada geração haverá mudanças muito explícitas, especialmente após a era digital, e, com isso, teremos, sim, muitas mudanças ‘casuais’ na linguagem, em especial na linguagem digital.”
Ela complementa: “Acredito que são formas de facilitar a vida com rapidez de digitação e de expressar informalidade, especialmente em ambientes digitais, sem necessariamente significar um desrespeito à norma culta. Por isso, penso que esse hábito não vai alterar formalmente a gramática no que diz respeito ao uso de maiúsculas e minúsculas, que continuará vigente nos contextos mais formais, acadêmicos e profissionais.”
Quando questionada sobre os riscos desse novo costume, declarou: “o risco maior talvez esteja no possível desuso ou enfraquecimento do ensino e da prática correta do uso das maiúsculas, o que pode trazer dificuldades na comunicação formal para as futuras gerações. Por isso, é importante que a educação linguística continue valorizando o equilíbrio entre a norma padrão e as variações informais, para que os jovens possam transitar com segurança entre diferentes contextos comunicativos.”
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O artigo acima foi editado por Duda Kabzas.
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