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O que podemos esperar da moda após a popularização do Ozempic?

Ana Guercio Student Contributor, Casper Libero University
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter and does not reflect the views of Her Campus.

O cuidado com adultos diabéticos do tipo 2, não controlada, representa 10,2% da população, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Graças ao Ozempic, novo medicamento do laboratório Novo Nordisk, pessoas portadoras de diabetes poderão ter uma melhor qualidade de vida. O medicamento GLP-1, que possui a semaglutida como princípio ativo – um composto que molda a forma como sentimos apetite e nos saciamos -, permite uma aplicação simples através de uma caneta com pequena agulha que, em um curto período de tempo, é capaz de reduzir os níveis de açúcar do sangue. O preço do medicamento pode variar entre 700 a 3 mil reais e um dos seus mais visíveis efeitos colaterais é a perda de peso. Dentro da indústria da moda, o Ozempic é o preço que se paga para se encaixar em um padrão homogêneo de beleza.

Como tudo começou? 

“Oh, oh, oh, Ozempic” cantam as vozes de um comercial televisivo norte americano popularizado em 2022  que, devido a sua fama mundial, atualmente, trouxe impactos negativos para a sociedade moderna em um âmbito global. No Brasil, o medicamento se popularizou de modo a impactar negativamente a moda. A magreza extrema, que o jingle do programa defende, construiu uma onda de comportamentos danosos à saúde.

As polêmicas por trás desse medicamento também começaram através do boca a boca virtual que influenciadores, cantores e artistas ocuparam de forma autêntica. A indústria da moda é um exemplo disso quando, historicamente, a figura de modelos magras foi o que predominou nas passarelas. Com o passar dos anos, a adesão à moda “plus size” permitiu com que a diversidade de corpos fosse aceita em grandes desfiles de moda, como a São Paulo Fashion Week. Porém, atualmente, o Ozempic veio questionar essa diversidade dentro dos padrões de beleza da sociedade.

Diversas figuras públicas como Maya Massafera e Luiza Possi contribuíram para a propaganda desenfreada do medicamento com fins estéticos. Atualmente seus corpos expostos nas redes sociais influenciam outras camadas da sociedade a seguirem o mesmo caminho, muitas vezes, sem acompanhamento médico.

O remédio, que virou uma alternativa para o emagrecimento, favorece a criação de uma moda exclusiva e ao mesmo tempo, para aquelas pessoas aqueles que demandam do medicamento para o controle da diabetes tipo 2, a escassez desse nas farmácias.

O limiar entre a nova Era Estética e saúde

Um exemplo evidente da influência do remédio na moda está na ausência de corpos gordos em conhecidas revistas do meio, como a Vogue, que há três anos não apresenta uma modelo fora do “padrão” em suas capas. Ainda nesse ramo, grandes marcas como Old Navy e Ann Taylor Loft reduziram suas linhas em tamanho plus size. Esses fatos mostram a influência do Ozempic na construção de uma moda excludente formada, exclusivamente, por corpos esculturais que negam as questões de diversidade.

A partir do momento que celebridades passam a perder peso, a própria indústria fashion também passa a perder os seus interesses em defender uma moda inclusiva. Do ponto de vista comercial, a adesão à diversidade de corpos foi apenas mais uma tendência para gerar lucros mas, com o retorno do padrão magro, as marcas passam a abraçar essa causa estética e se desfazem de suas linhas de tamanhos plus size, por exemplo.

Mesmo diante do embate entre diversidade e magreza extrema, vale ressaltar que corpos gordos não irão desaparecer. A tendência por trás da magreza um dia também irá estagnar e a volta da valorização da diversidade tende a ser protagonista nos próximos anos. De acordo com o portal de notícias FIEMG, a moda é um convite para ver o mundo de outro jeito e, caso ela não se expresse de maneira diversa, ela acaba se tornando insuficiente para a sociedade que não é homogênea. 

Mariângela Marcon, vice-presidente da FIEMG Regional Zona da Mata e presidente do Sindicato do Vestuário de Juiz de Fora e Governador Valadares (Sindivest JF-GV), defende que:

Mais do que uma tendência, é uma transformação no setor da moda, que busca eliminar barreiras e oferecer opções para um público mais amplo, reconhecendo a diversidade como um valor essencial” – afirma.

O Remédio da Moda 

Mesmo com as mudanças significativas dentro da indústria da moda, vale lembrar que, mais do que um remédio para tratamento de diabetes, Ozempic está transformando a forma como as pessoas – em específico o público feminino – lidam com a sua imagem corporal. Dados retirados da pesquisa da Gallup apontam que 15,5 milhões de americanos já usaram medicamentos GLP-1 para perda de peso e esse número pode dobrar, chegando a 30 milhões até 2030.

Em personalidades públicas, a cultura do “corpo ideal” ainda faz com que corpos femininos sejam criticados, uma vez que, no meio digital, sua personalidade passa a ser reduzida ao corpo que carrega. Segundo o Portal PUCRS , a lógica é simples: As mídias sociais são responsáveis por ampliar essa pressão estética, pois os filtros possibilitam corrigir aspectos físicos que causam incômodo e, a partir da satisfação com a imagem alterada, a possibilidade de corrigir essas imperfeições se torna mais real. Assim, o Ozempic se torna o remédio ideal para isso.

Mais do que as polêmicas por trás de uma moda não inclusiva, o Ozempic é um remédio prejudicial à saúde quando sintomas de pancreatite e lesão renal são colocados em jogo. Isso mostra que adequar-se às novas tendências da moda podem também custar a vida de pessoas que buscam na magreza extrema a aceitação dos seus corpos.

Dessa forma, o uso do Ozempic com esses fins acende um alerta sobre os desafios éticos e de segurança que emergem quando a medicina e as pressões sociais estéticas se cruzam, a moda nesse meio é um exemplo claro disso. Vale ressaltar que a mudança drástica no setor fashion pode ser capaz de influenciar cada vez mais pessoas a migrarem para essa alternativa, buscando se adequar a padrões de determinada roupa. 

O medicamento, devido ao seu preço alto, pertence a uma elite da sociedade, no entanto, sua repercussão é capaz de atingir todas as camadas sociais. A reflexão que fica é: até que ponto é seguro manipular pessoas para fins puramente estéticos? Promover o uso responsável desse remédio não só protege o bem-estar pessoal, como também impede a disseminação de tendências nocivas como o universo da moda passou a defender.

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O artigo acima foi editado por Nicole Braga.

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Ana Guercio

Casper Libero '24

Student of journalist at Cásper Líbero who likes books, environment and politics