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Casper Libero | Culture

O ego humano em adaptações cinematográficas e live actions 

Luiza Kellmann Student Contributor, Casper Libero University
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter and does not reflect the views of Her Campus.

Em lançamentos de adaptações cinematográficas, algumas reações são comuns: ondas de hate invadem as redes sociais por mudanças na caracterização de personagens e enredos já conhecidos. Se olharmos esses eventos pela perspectiva da Psicologia, podemos chegar no nosso hábito humano de projetar o ego naquilo que parece fora do comum, como explica o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung.

O que é o ego?

Jung é o fundador da psicologia analítica. Para ele, o ego é o núcleo da consciência, definindo nossos padrões comportamentais. Ele simboliza a autoconsciência, sendo tanto um norteador da nossa vida, quanto uma ferramenta instintiva, atuando defensivamente contra ameaças relativas ao “eu” – que é construído a partir dos próprios desejos e experiências. 

Dessa forma, essa proteção generalizada contra o desconhecido pode fazer o indivíduo se rebelar ao diferente, demonstrando frustração, antipatia e, consequentemente, rejeição.  

Então, “junguianamente” falando, a tendência atual de defesa do “tradicionalismo” no cinema, principalmente em relação a mudanças étnicas, de orientação sexual e de papéis de gênero, seria uma resposta da projeção do nosso ego. 

Exemplos disso em produções culturais

No live action de Branca de Neve (cujo lançamento será em 20 de março desse ano), estrelado por Rachel Zegler, por exemplo, a quebra de continuidade clássica – ou seja, a mudança de uma princesa branca, europeia e fictícia para uma mulher latina e real – resultou em ataques massivos online. O motivo disso? O filme não estar sendo “fiel” ao que a audiência estava acostumada a idealizar e ver. 

Esse caso não é isolado. Na série Bridgerton, adaptação da Netflix dos livros da americana Julia Quinn, a mudança na sexualidade da personagem Francesca Bridgerton (Hannah Dodd), cuja temporada protagonizada não tem data confirmada, desagradou a muitos pelo mesmo motivo. 

Até mesmo outros live actions da Disney, como A Pequena Sereia, estrelado por Halle Bailey, e Enrolados, pelo mero boato de que a protagonista pudesse ser não branca, foram criticados pela mudança de etnia da personagem principal. O que o ego do público muitas vezes considera normal é, na verdade, um reforço de estereótipos e de um sistema opressor. 

E isso nem ocorre somente em live actions. No anime O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim, derivado do clássico O Senhor dos Anéis, a coescritora Philippa Boyens, após alguns julgamentos, precisou vir a público para ponderar que “[…] pessoas virão até ela (a adaptação) e se identificarão com ela, e algumas pessoas não. E às vezes a crítica é justificada e às vezes não”. 

Qual é o problema dessa ação do ego?

Essa conduta popular, direta e indiretamente, ignora o direito de identificação do coletivo diverso pelo simples apego ao conhecido, sendo reforçada com a segregação do ego. 

Consequentemente, é promovido um discurso de dominância. Ou seja, a pessoa apegada, que já conseguiu encaixar sua identidade em algum produto cultural, vê a sua idealização como mais importante do que uma representação física e/ou simbólica que dê voz aos apagados.  

Em outras palavras, isso não significa que as gerações passadas serão extintas. Afinal, grande parte delas faz parte do ideal social do que é o “padrão”. 

A questão é que é egoísta usar o apego como modelo quando existem tantos grupos que não tiveram a chance de pertencer verdadeiramente a uma unidade – que pode trazer confiança, paz e valorização ao “eu” e ao “eles”. 

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O artigo acima foi editado por Juliana Sanches.

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Luiza Kellmann

Casper Libero '29

Journalism student at Cásper Líbero;
I like to work with a sociological, philosophical and/or psychological bias.