“América aos americanos” resquícios de nacionalismo no século 21. Em uma sexta-feira comum de 2017 os Estados Unidos da América acordaram sob novo comando. Depois de dois mandatos de Barack Obama, a nação americana elegeu um novo e contraditório presidente, Donald Trump.
Aos 70 anos de idade, Trump se tornou o homem mais velho até então a ser eleito para um primeiro mandato como presidente do país. Diante de enormes boatos de fraude em meio ao processo eleitoral e tendo vencido apesar de ser minoria no voto popular, o presidente republicano assumiu uma postura radical antes mesmo de ser eleito, provando que a nomeação de um dos maiores cargos de poder mundial pode ser conquistada através de uma mídia inflamada e algoritmos bem treinados.
A campanha de Donald Trump foi fortemente baseada em sua imagem pessoal. O slogan “Make America Great Again” se encaixou perfeitamente aos interesses de eleitores ufanistas que se sentiam menos importantes sob comando dos democratas. Ao se aliar ao tradicional conservadorismo, contra causas sociais, acordos ambientais e imigração, Trump recebeu amplo apoio de homens brancos de classe média, normalmente sem nenhum diploma universitário.
Após grave recessão econômica somada à grave crise humanitária decorrente de atitudes duvidosas do governo durante a pandemia de Covid-19, Trump foi derrotado em 2020 pelo candidato democrata Joe Biden.
A ascensão de Donald Trump
Nos últimos dois anos de governo do democrata, sua popularidade entrou em queda repentina. Apesar de números consideráveis na economia, o alto custo de vida e a inflação crescente foram decisivos aos americanos.
Encarando uma onde de fortes dúvidas que englobavam a escolha de um nome capaz de concorrer a eleição pelo partido Democrata, Donald Trump se lançou como candidato à presidência novamente, e mesmo após debates públicos vergonhosos baseados em polêmicas e “fake news”, retornou à presidência de uma das nações mais relevantes no cenário global – graças à fraca memória e altíssima tendência à manipulação dos cidadãos americanos.
Entretanto, o que os estadunidenses não esperavam era que o republicano não estava alucinando diante de falas conservadoras e extremistas, pelo contrário, planejava colocá-las em prática o mais rápido possível. Para isso, no primeiro dia do segundo mandato, Donald Trump assinou uma enxurrada de ordens executivas que se resumem, majoritariamente, em retrocesso em políticas de gênero e diversidade, acordos que contribuem para a preservação ambiental e principalmente, ideais que prezam pela tolerância ao imigrante, culminando na chamada “política de deportação”.
a Deportação americana e seu o impacto global
Não à toa Trump transformou o ódio por imigrantes no slogan da sua campanha. O resquício histórico americano deu espaço ao preconceito e tornou permissivo adotar a ideia do imigrante como criminoso e escória da nação.
Dias após a posse, foram ratificadas uma série de medidas que objetivaram a marginalização do cidadão não naturalizado. O presidente norte-americano suspendeu a admissão de refugiados nos EUA e todas as viagens agendadas previamente foram canceladas, ele também instruiu o procurador-geral a buscar pena de morte contra imigrantes sem status legal que cometem crimes mais graves, que são potencialmente puníveis com a morte.
Trump emitiu ainda uma ordem para acabar com a cidadania por direito de nascença para crianças nascidas no país, caso a mãe e o pai forem cidadãos estrangeiros ou até mesmo imigrantes residentes permanentes legais. Tal política é normalmente incorporada em países com histórico autocrático ou, até mesmo, teocracias.
Todas essas medidas atreladas ao procedimento de deportação rápida, conhecido como “remoção acelerada”, permite que as autoridades expulsem uma pessoa do país sem uma audiência perante um juiz de imigração. As decisões tem tornado o território americano um ambiente hostil para estrangeiros, um nicho populacional que representa quase 15% do país.
Green or Red card?
Como caso sintomático, destaca-se o nome de Mahmoud Khalil, estudante da Universidade de Columbia, acusado formalmente por Donald Trump e ameaçado de deportação por supostamente se aliar ao grupo terrorista Hamas após participação pacífica em manifestação contra a Guerra em Gaza. O jovem foi preso mesmo após apresentar Green Card.
“Esta é a primeira prisão de muitas que virão”, disse Trump em sua plataforma de rede social “Truth Social”, acusando o jovem de ser um “estudante radical a favor do Hamas” – grupo militante islâmico que controla a Faixa de Gaza.
Khalil, que não foi acusado de nenhum crime, foi inicialmente detido em um Centro de Imigração de Nova Jersey antes de ser transferido para um centro de detenção em Jena, na Louisiana, de acordo com os registros do ICE. A advogada afirma que o ICE também ameaçou deter sua esposa, uma cidadã americana que está grávida de oito meses. Quando tentou visitá-lo em Nova Jersey, os funcionários disseram que Khalil não estava lá.
O novo governo Trump acusou a Universidade de Columbia de não combater o antissemitismo no campus e, na semana passada, decidiu rescindir US$ 400 milhões em subsídios federais para a universidade.
Tais atitudes governamentais destacam uma instituição que se afasta lentamente da democracia, revogando direito a protestos e cortando verbas de órgãos estudantis relevantes. Em síntese, os Estados Unidos parecem estar mais próximos da perda do que da conquista. Perda da tolerância, perda da liberdade, perda da cultura, perda da democracia.
Retorno do “Título 42”?
“Nosso governo não protege nossos cidadãos americanos cumpridores da lei, mas fornece abrigo e proteção a criminosos perigosos que entraram ilegalmente em nosso país vindos de todo o mundo”, cita Donald Trump.
Uma das propostas do presidente girou em torno da chamada “Lei dos Inimigos Estrangeiros” que engloba a prisão de alemães, italianos e japoneses que vivem nos EUA, tendo em vista que uma grande parcela de estrangeiros dessas nações passaram a guerra presos em campos de concentração porque o governo os considerou potencialmente perigosos.
Caso Trump a acate cegamente, a decisão acarretaria na expansão desvairada do Executivo, que teria poder irrestrito para deter e expulsar quaisquer imigrantes sem documentos, mesmo diante da dificuldade em consegui-los por razões monetárias ou discriminatórias, sem alguma possibilidade de recorrer a recursos legais que preservem sua vida construída fora de seu país de origem.
Não é a primeira vez que o presidente desenterra uma lei antiga para deportar imigrantes. Durante a pandemia, a em sua primeira administração, citou riscos para a saúde pública como justificativa para fechar as fronteiras do país e deportar rapidamente os estrangeiros que tentaram atravessar ilegalmente para os EUA. Na época, ele mencionou o “Título 42“, uma antiga lei de saúde pública que permitia o bloqueio dos migrantes antes que eles colocassem os pés no país e até limitava a oportunidade de solicitar asilo.
“O sonho americano retornará em breve”, disse Trump no discurso de posse.
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O artigo acima foi editado por Nicole Braga
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