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Riley Keough and Sam Claflin in Daisy Jones and the Six
Riley Keough and Sam Claflin in Daisy Jones and the Six
Lacey Terrell/Prime Video
Casper Libero | Culture

Além do palco: o que Daisy Jones & The Six revela sobre o preço da fama?

Giovanna Ferraz de Campos Student Contributor, Casper Libero University
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter and does not reflect the views of Her Campus.

A história escrita por Taylor Jenkins Reid, Daisy Jones & The Six, ficou conhecida em meados de 2020, quando o livro foi lançado e bombou nas redes sociais. Três anos depois, voltou à tona com o lançamento da adaptação. 

Parte de seu sucesso vem da escrita da autora, já que sua maneira de retratar críticas sociais e assuntos importantes, em meio a narrativas emocionantes e personagens marcantes, prende a atenção de qualquer um.

Por outro lado, a trajetória da protagonista é tão marcante e convincente que, ao terminar o livro, ficamos chocados por se tratar de uma história fictícia e não de uma biografia.

Os enredos de Taylor, levam o leitor para uma zona de reflexão em que, até quem não se encantou pelas histórias, continua com elas na memória. Os personagens são tratados de forma realista, com defeitos, qualidades e sem romantização ao longo das narrativas. São histórias próximas da realidade com personagens quase reais.

Quem é Daisy Jones?  

Daisy Jones é uma mulher carismática e apaixonada pela arte da música, muito atraente, impulsiva, talentosa e determinada. Seu sonho sempre foi ser parte de uma banda de sucesso no rock. Nos anos 1970, se tornou a voz de sua geração, a “it girl” da época.

Daisy teve uma infância conturbada, pois além de seus pais ausentes, não tinha outros familiares. Estando quase sozinha, a não ser por sua melhor amiga Simone, desde nova, a garota se envolveu com relacionamentos abusivos e o consumo de álcool e drogas de maneira excessiva.  

Apesar de ser extremamente atraente e carismática, muitos homens se aproximavam de Daisy apenas por interesse, para usá-la como vitrine ou por uma noite. A ausência de uma real conexão, resulta em sentimentos de solidão e frustrações para a cantora.

Quando entra para a banda The Six, Billy Dunne, o vocalista, se sente ameaçado por precisar dividir suas músicas e o microfone com a novata  e, apesar de algumas indiretas, Daisy continua persistente com seus objetivos, mesmo não sendo bem-recebida no início.

Seu estilo – faz de tudo para conseguir o que quer–abre portas para a autora abordar a questão do vício em drogas, na normalização do uso destas substâncias, do machismo e da objetificação feminina nos anos 1970 e dentro da indústria musical. 

O vício e a fama

A cultura do vício era comum nos anos 1970, o uso de substâncias permitia “ser parte do show”. Daisy e os outros membros da banda, como Billy, utilizavam de seus vícios para fugir das pressões midiáticas e esconder seus traumas, frustrações, solidão e desgaste emocional.

Infelizmente, é muito comum, artistas e atores, do mundo da música e do cinema, se envolverem com drogas. Acontece por diversos motivos: seja pela inocência, sentir-se incluído, começar utilizando somente em festas ou eventos fechados, cancelamentos, alta pressão da indústria e do público ou até por ser novo demais para lidar com a fama. 

A banda britânica do final dos anos 1960 aos 1970, Fleetwood Mac, serviu de inspiração para a criação da história de Daisy Jones & The Six. A vocalista, Stevie Nicks, em entrevista para a Classic Rock admitiu: “Éramos todos viciados em drogas, mas houve um ponto em que eu era a pior. A mais viciada. Eu era uma garota, eu era frágil, e eu estava usando muita cocaína. E eu tinha aquele buraco no meu nariz. Então era bem perigoso.

O uso abusivo de drogas no cotidiano da banda comprometeu a saúde de seus integrantes. O “buraco no nariz” a que Nicks se refere, se deu devido à sua dependência em cocaína na época. Em meados de 1986, a vocalista recorreu a clínica de reabilitação, mas infelizmente acabou substituindo seu antigo vício por um novo, no tranquilizante Klonopin. 

O uso abusivo de drogas no cotidiano da banda comprometeu a saúde de seus integrante. O “buraco no nariz” a que Nicks se refere, se deu devido à sua dependência em cocaína na época. Em meados de 1986, a vocalista recorreu a clínica de reabilitação, mas infelizmente acabou substituindo seu antigo vício por um novo, o tranquilizante Klonopin. 

Outra situação é o caso de Lindsay Lohan. A atriz entrou para o universo cinematográfico muito cedo, fazendo sucesso com apenas 12 anos, no filme Operação Cupido (1998). Por volta de 2007, Lindsay desenvolveu problemas com álcool e abuso de drogas, utilizando-os como uma válvula de escape do julgamento midiático. Após algumas internações em clínicas de reabilitação e prisões, por posse de drogas e dirigir embriagada, a atriz voltou para as telas. E claro, a mídia nunca esquece, então sua carreira foi fortemente afetada pelas polêmicas em que se envolveu enquanto mais nova e lhe custaram anos de tentativas para voltar às telas.

O livro Daisy Jones & The Six retrata os vícios, não como um charme do rock dos anos 1970, mas sim como maneiras autodestrutivas de lidar com a dor, que muitas das vezes é romantizada pela mídia.

A mulher como o segundo sexo

A ideia da mulher como o “outro” do homem, surgiu de Simone de Beauvoir em seu livro O Segundo Sexo. A filósofa retrata o pensamento machista e como ele está ativamente inserido em nossa sociedade patriarcal. De maneira resumida, Simone diz que a mulher é objetificada e fragmentada ao ser reduzida a apenas um entretenimento. Se essa reflexão se enquadra perfeitamente aos dias atuais, imagine no contexto dos anos 1970 para Daisy Jones? E não é a primeira vez que Taylor Jenkins escreve sobre isso. 

No início do livro, quando a protagonista, ainda em sua pré-adolescência, se submete a aparentar ser mais velha do que realmente é, afim de atrair homens que a convidassem para entrar em bares de rock de sua cidade: “Aprendi logo que as pessoas pensam que você é mais velha se você não usa sutiã”. Apesar de ser assim que descobriu sua paixão pela música, também foi assim que iniciou seus hábitos que mais tarde se tornarão parte de sua rotina: álcool, sexo, drogas e festas.  

Mesmo sendo considerada uma mulher poderosa e determinada, o contato com a sexualização precoce e a normalização da sociedade machista da época, fez com que Daisy tivesse experiências que a menosprezaram e colocaram suas necessidades e vontades em segundo plano: “Aprendi sobre sexo e amor do jeito mais difícil. Que os homens pegam o que querem sem se preocupar em oferecer nada em troca, que tem pessoas que só querem saber de uma coisa e nada mais.” 

Vale tudo pela fama? 

Outra grande questão abordada, é o abuso da indústria musical e de gravadoras em relação aos artistas, que em sua grande maioria, controlam as vidas de suas estrelas e as transformam em produto, sendo alvo de entretenimento dentro e fora dos holofotes. Quanto mais conseguirem vender, melhor, pouco importa a saúde mental e física ou as expectativas e sonhos de seus artistas. 

Além disso, a banda Daisy Jones & The Six sofria interferências diretas em seus processos criativos, o que transformava sentimentos que deveriam ser expressos por meio da arte em produtos moldados para gerar sucesso nas mídias — e, consequentemente, mais lucro.

O que me interessava na verdade era compor. Tudo bem ter que cantar, mas eu não queria ser uma marionete no palco, cantando palavras de outras pessoas. Queria fazer uma coisa minha. Cantar minhas próprias músicas.

O que  que fica é: será que vale se sacrificar por inteiro pela fama, desde seu corpo, sua saúde mental e física a seus relacionamentos? O quão longe estamos dispostos a ir pelos nossos sonhos? 

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O artigo acima foi editado por Luana Zanardi.

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