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Casper Libero | Culture

“A grande conquista é o mental”: faixa preta Amanda Valente fala sobre mulheres nas artes marciais

Mariana Moreira Student Contributor, Casper Libero University
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter and does not reflect the views of Her Campus.

Durante muito tempo, as artes marciais se associavam exclusivamente a uma prática masculina, como para o combate, à guerra e à força bruta. Assim fortificando a imagem de que mulheres não se encaixavam nessas modalidades. Felizmente, com o tempo, foram-se mostrando mudanças significativas e agora vemos mais mulheres dentro dos ringues e tatames. 

Como muitos estudos já apontam, a prática de exercícios físicos traz grandes benefícios tanto para o corpo quanto para a mente. Acrescentando isso a toda filosofia agregada às artes marciais, os benefícios são intensificados. Está comprovado que praticar lutas pode ajudar a reduzir os níveis de ansiedade e depressão, além de aumentar a autoestima e confiança, controlar a agressividade, entre muitos outros.

“De uns anos para cá, eu tive um aumento de mulheres procurando uma arte marcial”, conta Amanda Valente, faixa preta 5º Dan de Taekwondo Songahm, praticante e instrutora com 18 anos de experiência. Segundo ela, o interesse feminino não se limita a uma faixa etária específica: “Tem de tudo. Desde crianças e adolescentes, até adultas na casa dos 20, 30 ou 50 anos. Já tive até um aluno que começou aos 78 anos.”

Destacando a importância do empoderamento feminino, o conhecimento das artes marciais pode ser levado em conta no dia a dia. Muitas mulheres não se sentem seguras ao andar sozinhas nas ruas, por exemplo. Nesse tipo de situação, podem ter as lutas a seu favor, pois criam uma ferramenta de defesa. 

Segundo a faixa preta, o aumento da procura está fortemente ligado a esse desejo de aprender defesa pessoal – especialmente em cidades como São Paulo, onde a sensação de insegurança nas ruas é uma realidade enfrentada diariamente por muitas mulheres. “Elas querem se sentir mais seguras andando na rua ou de transporte público”, explica Amanda.

corpo, mente e autoconfiança

Os benefícios vão muito além da autodefesa. A prática também está ligada ao aumento de força muscular, equilíbrio e flexibilidade. Mulheres praticantes de artes marciais relatam um aumento de bem-estar, melhora na concentração, maior resiliência e autocontrole. 

Outro fator importante é como as artes marciais as fazem terem um melhor entendimento sobre seus corpos e tudo que elas são capazes de fazer. Além da tonificação dos músculos e eliminação de gordura, a arte marcial ensina a mulher que ela e seu corpo são capazes de muito mais do que se imaginava.

Para Amanda, o maior ganho está na saúde mental: “Se sentir mais liberada, mais tranquila, com menos estresse. A grande conquista que vejo tanto em mim quanto nas minhas alunas é a parte mental. Isso é o que mais transforma.”

Ela também observa como a prática ajuda mulheres a reconectarem com seus corpos e a superarem preconceitos relacionados à idade ou à performance física: “Eu particularmente acho bacana quando vejo mulheres mais velhas praticando porque existe esse preconceito, do tipo: ‘O seu corpo está inativo, então você não é mais capaz de fazer’. Mas, é muito pelo contrário, eu vejo inclusive faixas pretas em idade mais avançada.”

Essa consciência corporal e emocional é um dos pilares das artes marciais. E quando aliada ao empoderamento feminino, se torna uma ferramenta de autonomia e autoconhecimento. Para a instrutora, isso já é natural:

“Como eu vivo isso há 18 anos, já não tenho mais esse preconceito de pensar ‘Ah, é uma mulher’. Eu já enxergo como normal. Acho que a mulher pode fazer o que quiser.”

Colocando em perspectiva certos acontecimentos mundiais, vale mencionar que de acordo com o Comitê Olímpico Internacional (COI), as Olimpíadas de Tóquio de 2020, adiada para 2021 em decorrência da pandemia da Covid-19, contou com a maior participação de atletas femininas de todas as edições do evento. Segundo a organização, cerca de 45% dos competidores de esportes de combate eram mulheres. As atletas dessa porcentagem competiram nas lutas de judô, boxe, luta e taekwondo.

Já no início das Olimpíadas de Paris, o Brasil conquistou seu primeiro ouro pelas mãos da judoca Bia Souza. Em entrevista ao CNN Esportes, Bia falou sobre a capacidade de inspirar novas gerações e mandou um recado especialmente para as mulheres negras.

“Minha família sempre vai ser minha base. Sempre serão os motivos pelos quais eu vou lutar. Então, poder inspirar a galera a correr atrás dos seus sonhos, acreditem! Como eu disse, pretos e pretas do meu Brasil, lutem, acreditem, que todo o sonho pode ser realizado, basta acreditar, ter fé e coragem, porque é um preço alto a se pagar, mas quando vem a recompensa tudo vale a pena”, afirmou Bia.

Ao trazerem força, resistência e foco, as artes marciais contribuem para uma transformação profunda no modo como as mulheres lidam com seus corpos e seus limites. Amanda Valente resume essa jornada com clareza: “É uma somatória de fatores. Melhorar o físico, o controle mental, as emoções e, principalmente, andar na rua com mais segurança. Você sabe o que fazer, como se comportar em uma situação de risco. Isso muda tudo.”

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O artigo acima foi editado por Clara Rocha.

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Mariana Moreira

Casper Libero '28

Estudante de Rádio, TV e Internet (Faculdade Cásper Líbero). Autora de 3 livros infantojuvenis e poeta nas horas vagas. Faixa azul em taekwondo e em fase constante de autodescobrimento.