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Culture

Hippies, punks, clubbers: conheça tribos urbanas ao longo das décadas no Brasil 

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Já ouviu falar em tribos urbanas? Fenômeno cotidiano, elas surgiram da necessidade juvenil de uma sensação de pertencimento e a busca de uma identidade própria. As tribos consistem no agrupamento que ocorre dentro das cidades de jovens que partilham dos mesmos gostos, valores, regras e comportamentos, tendo como maior fator os laços de identificação. Nesses grupos, os jovens buscam evocar suas individualidades que os diferenciam do resto da sociedade. São esses os skatistas, rockeiros, góticos, entre vários outros grupos popularmente conhecidos. Muitas vezes esses grupos carregam grande influência política como os Hippies e Punks

Cada tribo é marcada e reconhecida por sua estética e estilização própria, o que faz com que os mais diversos grupos tenham grande impacto no meio da moda que sempre buscou se adaptar do que vem das calçadas.

Sejam funkeiros, góticos ou até surfistas, todos partilham de um importante traço: uma expressão cultural própria e autêntica. Graças a globalização, vários desses grupos, mesmo de origem internacional, espalharam-se pelas ruas brasileiras e adequaram-se ao contexto do nosso país. A seguir, confira algumas tribos que marcaram as calçadas nacionais ao longo das décadas e suas manifestações. 

Anos 60: Hippies 

Com um ar psicodélico, os hippies surgiram nos anos 60 pelas ruas dos Estados Unidos. Os participantes desse marcante movimento de contracultura faziam fortes críticas à sociedade ocidental e encontravam-se frustrados por presenciar um cenário de violência graças à Guerra do Vietnã. Foi dentro dessas circunstâncias que o grande lema da tribo surgiu “faça amor, não guerra”, e uma nova ordem de vida contradizendo o tradicional tornou-se o maior enfoque do movimento. 

Calças boca-de-sino, óculos arredondados, batas indianas, flores e muita cor compunham o conhecido traje hippie. Com peças majoritariamente artesanais e tecidos com texturas que imitam a natureza, o vestuário hippie seria categorizado como antimoda, ou seja, uma moda vinda das ruas e uma refutação ao próprio sistema tradicional da moda. As vestimentas dos jovens hippies comunicam a mensagem de contestação do movimento.

No Brasil, a chegada dessa cultura jovem ocorreu no período da Ditadura Militar, portanto em território nacional, o movimento adquiriu um teor de resistência ao regime e sofreu grandes repressões. 

Inicialmente, o cenário musical foi o maior meio de expressão para o movimento no país. A face mais nítida de reinterpretação da cultura hippie no país foi o Tropicalismo. O movimento englobava diversos âmbitos da arte, mas teve seu início e maior destaque no meio musical. Contava com grandes grupos e compositores como Os Mutantes, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa, e teve papel essencial na ruptura da cultura brasileira. 

Nos anos de 1975, 1981, 1983 e 1984 ocorreram no país as quatro edições do que ficou conhecido como “Woodstock brasileiro”. O Festival de Águas Claras aconteceu em Lacanga, interior de São Paulo, e contou com a presença de artistas de peso como Raul Seixas, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, João Gilberto, entre outros, e reuniu milhares de hippies do país inteiro. O documentário Baratos de Iacanga de Thiago Mattar, disponível na Netflix, mostra os bastidores do lendário festival. 

Anos 70-80: Punks

Em contraste e como resposta ao movimento hippie, os punks surgiram nos anos 70 nas ruas britânicas com grande influência política e caráter ofensivo. 

O movimento cultural chegou ao Brasil no final da década de 1970 – ainda em um cenário de regime militar – agrupando jovens de classes sociais baixas que se sentiam excluídos de outros movimentos. Mais especificamente, do meio do rock que àquela altura teria elevado seu padrão econômico, os concertos foram incrementados e agora eram super produzidos, caros e ocorriam em arenas gigantescas, ou seja, tornaram-se inacessíveis para aqueles jovens. 

A ideologia punk contestava o sistema capitalista e a situação desfavorecida que os integrantes viviam, muitos identificavam-se como anarquistas. No cenário nacional, os punks se estabeleceram como um símbolo de resistência à ditadura. 

O estilo e moda punk simboliza a revolta e a rebeldia da tribo. Roupas surradas, coturnos, jeans rasgados, jaquetas de couro, cabelos espetados… As peças punks não são harmoniosas propositalmente. 

Em 1982 durante dois dias no SESC Pompéia, em São Paulo, ocorreu o festival O Começo do Fim do Mundo, primeiro grande festival de punk rock no Brasil. Este contou com diversas bandas formadas no ABC e capital paulista. 

Apesar do primeiro dia do festival ter ocorrido sem obstáculos, no segundo dia o festival foi invadido e reprimido pela polícia militar. 

Anos 90: Clubbers

Apesar de não serem tão popularmente reconhecidos como outras tribos, os clubbers destacam-se por popularizar a música eletrônica, quebrarem paradigmas da moda e reinventarem a cena noturna da juventude paulista na década de 90. 

Surgidos entre o fim dos anos 80 e início dos anos 90, com a erupção do gênero techno em Berlim, os clubbers visavam a diversão e o hedonismo em festas regadas de música eletrônica. No cenário nacional, os jovens se concentravam em diversos clubes famosos de São Paulo como o Madame Satã, Hell ‘s Club e o icônico clube LGBT Clube Massivo. Mais tarde, os clubbers abriram portas para o surgimento das raves.  

Os clubbers comunicavam seu espírito de liberdade por meio de seus looks chamativos e extravagantes. A estética do movimento abusava do neon, vinil, cores espalhafatosas e muito brilho. A estilização da comunidade é chamada de “montação”, termo apropriado do universo das drag queens, já que a tribo apresenta relação direta com o meio LGBTQI+. 

Anos 2000: Funkeiros

Alcançando seu auge no início dos anos 2000 nas favelas cariocas, a estética funk e o gênero musical tornaram-se peças fundamentais para a imagem identitária brasileira. 

O movimento busca reafirmar a identidade racial e periférica na letra das suas músicas ressignificando símbolos constantemente associados de forma pejorativa ao contexto das favelas. 

Alvo de repressão e marginalização, o funk se deu então como uma expressão cultural de resistência dando visibilidade às favelas. Os funkeiros divertem-se se reunindo nos chamados bailes funks, festas com músicas altas e diversos DJs e MCs. Os bailes são uma das grandes diversões populares das cidades, produzido pelo povo para o povo. 

Já a estética e moda Funk tornaram-se símbolo brasileiro. Correntes, óculos juliet, tênis de marca, minissaias são alguns itens clássicos que compõem a vestimenta funk. Desde o surgimento do chamado “funk ostentação” em São Paulo, acessórios caros e de marcas famosas passaram a fazer parte do movimento, os MCs citam os itens em suas letras como símbolo de superação e conquista para aqueles que vivem na periferia.

O funk expõe a linguagem das favelas e as diversas vivências dentro delas. Para os funkeiros, o funk serve como diversão, protesto, trabalho e forma de expressão de sua própria identidade. 

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O texto acima foi editado por Ana Luiza Sanfilippo.

Isadora Quaglia

Casper Libero '26

Journalism student. Passionate about film and culture, true believer of it's power as social agent.