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SÉRIES DE ESTIMAÇÃO: POR QUE ASSISTIMOS A MESMA SÉRIE VÁRIAS VEZES?

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Sofia Paiva Student Contributor, Casper Libero University
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter and does not reflect the views of Her Campus.

Quando se é apaixonado por séries ou quando se conhece alguém com esse perfil, provavelmente, os termos série de estimação e série de conforto não são novidade. Até porque elas são caracterizadas por nos fazerem acessar as plataformas de streaming e consumi-las de novo, de novo e de novo. Embora, no fundo, compreender o que elas são não seja a essência da curiosidade que as séries de estimação promovem, mas entender o seguinte ponto: por que assistimos a elas várias vezes?

Em um mundo frenético, cheio de trabalhos e coisas para fazer, os seriados se mostraram ferramentas que promovem um estado de relaxamento. Essa sensação nos desconecta da realidade por um período de tempo, focando a atenção em um conteúdo externo, além de funcionar como refúgio simbólico por oferecer experiências que quebram o tédio, despertam a imaginação e nos colocam em contato com realidades que não vivemos, mas que, de alguma forma, nos completam ou nos provocam. Conseguimos, portanto, liberar tensões internas há tempos acumuladas.

Várias vezes, após tornar o consumo de séries um hábito, nos apegamos àquelas que falam de temas relacionados a nossa vida, nossos sentimentos ou as fases que estamos vivendo. Pode ser romance, superação, amizade, humor ou até mistério. O padrão costuma refletir nossos valores, o que nos faz falta, ou nossos desejos naquele momento. No fundo, essa questão beira a subjetividade do indivíduo já que, muitas vezes, sair de processos que nos remetem à rotina diária se torna uma atividade democraticamente satisfatória, mas, quando uma série parece capaz de acumular todas as características que nos atraem, é daí que pode nascer a famigerada série de estimação. Dentre aquelas que mais são colocadas nessa posição, cita-se: Friends, How I met Your Mother, Grey ‘s Anatomy, Gilmore Girls, Brooklyn 99, Todo Mundo Odeia o Chris e Grace and Frankie.

Isso se comprova, inclusive, por meio da forma como o corpo humano reage a elas. Segundo o psicólogo logoterapeuta Felipe Santiago, “assistir séries queridas vai além do passatempo: é uma forma do cérebro regular o estresse e buscar segurança emocional”. O fato de conhecer a história, o desfecho e as personagens é determinante, pois nosso sistema nervoso entende que ali não há ameaça e isso reduz os níveis de cortisol (hormônio do estresse) ao passo que ativa áreas ligadas ao prazer e à memória afetiva, liberando hormônios como a dopamina e a serotonina. Por tanto, “rever uma série é, neurologicamente, como voltar para um lugar onde já fomos felizes – isso acalma, conforta e ajuda a organizar emoções”.

Ele reforça que a sensação de segurança e o alívio do estresse são sinais do impacto positivo das séries conforto. Sem contar o “reconsumo”, definido no estudo realizado pela Universidade de Chicago como processo no qual o consumidor ganha ideias mais profundas e ricas após reconsumir um produto midiático, dando vazão a uma maior conscientização de seu próprio crescimento na compreensão e apreciação do objeto reconsumido. Em síntese, há a criação de camadas cognitivas mais profundas, desenvolvendo melhor as áreas de interpretação e atenção, além de ampliar a identificação com os personagens e as tramas. Não surpreende que momentos de insight e até catarse – quando a gente chora, ri ou sente com a história – se tornem parte de reassistir a uma série de estimação.

O psicólogo aproveita para acenar as consequências negativas que podem acompanhar esse processo. Nesse sentido, o escapismo excessivo, a dificuldade em lidar com a realidade ou até a procrastinação são comportamentos endossados em prol do conforto promovido pela série. Por isso, ele ressalta a necessidade de estar consciente de que, apesar da satisfação desfrutada, “muitas vezes preferimos o escapismo a enfrentar uma situação que promoveria nosso crescimento como ser humano”, mas é deixada de lado, gerando estresses ainda mais desgostosos no futuro. A importância de equilibrar o consumo de séries conforto com as práticas do dia a dia se mostra, então, o cenário ideal para os amantes desse universo.

Essas reflexões nos levam a concluir que a razão pela qual consumimos a mesma série várias vezes é que elas nos remetem a estados emocionais de conforto, de reestruturação e de segurança emocional. Assim como criam vínculos emocionais, funcionam como um refúgio mental, um espaço onde podemos pausar as incertezas da vida real e nos reconectar com aquilo que nos faz bem.

O artigo acima foi editado por Beatriz Tomagnini.

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Sofia Paiva

Casper Libero '28

– Viveu em quatro das cinco regiões do Brasil, sendo elas: Sudeste (Apiaí, Valinhos e São Paulo – SP, além de Pedro Leopoldo – MG); Centro-Oeste (Bodoquena -MS); Sul (Curitiba – PR) e Norte (Belém – PA);

– Estuda na Faculdade Cásper Líbero.