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This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Abraçando as causas do Pacto Global da ONU, o Festival SPFW+IN.PACTOS aconteceu de 16 a 20 de novembro, com número recorde de marcas participantes. A edição contou com a venda de ingressos para o hub, área externa com locais para alimentação e convívio, e para desfiles no Komplexo Tempo. A ocupação urbana foi uma novidade do evento que, através da curadoria de Carollina Lauriano, trouxe arte contemporânea para a moda, com uma identidade única do espaço. A área do Komplexo Tempo, na região da Mooca, no estado de São Paulo, se tornou uma galeria a céu aberto, preenchida com obras de artistas racializados, indígenas e trans, trazendo á tona a importância da inclusão e da liberdade de demonstrar sua identidade, pilares que acompanham a SPFW há anos.  

A edição contou com a participação de diversas celebridades e com o lançamento de coleções vanguardistas das marcas presentes. Apesar de os desfiles serem o ponto focal da São Paulo Fashion Week, há muito mais a conhecer do festival – dos looks em destaque do público a questões polêmicas, o quinquagésimo quarto festival deixou sua marca na história da moda brasileira.  

EDIÇÃO COM PATROCINADORES

Diferentemente das outras edições do evento, a SPFW N54 contou com diversos patrocinadores, entre eles Truss, C6 Bank, Samsung, Localiza e algumas redes alimentícias, por exemplo. Com stands ao redor das salas de desfiles, cada marca tinha o seu próprio espaço para interagir com o público através de diferentes atividades e apresentação da marca em si. 

A C6 Bank, um dos maiores bancos digitais brasileiros atualmente, exposta logo no corredor de entrada do evento, convidava o público para uma sessão de fotos descontraídas. Os participantes podiam registrar o seu momento através de pequenas polaroides em parceria com dois artistas. 

As pessoas, ainda, podiam comprar produtos como mochilas e cadernos personalizados, “aqui nós temos a ativação da Carbon Store que vende ao público produtos que, antes,  eram exclusivos para os colaboradores”, explica Flávia, organizadora do stand. Os visitantes ainda ganhavam brindes sustentável, produzidos pela própria marca. “Eles são distribuídos pelos próprios promotores. É um lápis que quando o grafite acaba, surge uma semente para que as pessoas possam plantar e cultivar”, conclui a coordenadora.

Já a Truss, loja de artigos para salão de cabeleireiros e beleza, realizava um estudo capilar nos visitantes, além de indicar e fornecer shampoos, condicionadores e cremes específicos para o tipo de cabelo de cada pessoa. “As terapeutas da Truss estão fazendo uma anamnese no couro cabeludo das pessoas que passam por aqui. Mediante ao tratamento que elas indicam, nós fazemos um kit de beleza que o cliente pode levar para casa”, diz Nathalia, uma das colaboradoras da marca.

O stand ainda contava com a presença de diferentes personalidades ao decorrer dos dias. Isabeli Fontana e Isabella Fiorentino, por exemplo, marcaram presença no espaço. As modelos puderam fazer a análise capilar, assim como todos os presentes no evento, além de experimentarem os diversos produtos da Truss

A questão da venda de ingressos

O principal diferencial dessa edição da São Paulo Fashion Week foi a abertura da venda de ingressos ao público. Foram quatro tipos de ingressos: SPFW + HUB, em que por R$ 100,00 (inteira)/ R$50,00 (meia), era permitido a entrada na área do evento, mas não nas salas de desfile, usufruindo dos bares, restaurantes, exposições e outros atrativos;  o SPFW + INSIDE permitia que o visitante pudesse assistir os desfiles de acordo com o horário da sessão escolhida, com preços de R$165,00 a R$400,00, variando de acordo com o combo selecionado, SPFW + INSIDE CENTRAL disponibilizava acesso a todos os desfiles ocorrentes na sala 02 do local, com custos de R$150,00 a R$400. O SPFW CLUB teve seu preço entre R$ 595,00 e R$ 1.450,00 – os valores elevados se devem as vantagens dispostas a quem adquirisse esse tipo de ingresso – além do acesso ao hub  e dos desfiles por sessão, contavam com um lounge vip com bebida (cerveja, refrigerante, água e água tônica), a credencial SPFW, a entrada prioritária à sala de desfile, vaga para um veículo e um kit SPFW.

A vasta gama de opções de ingresso foi vantajosa, a partir do ponto que o público pode adequar sua disponibilidade financeira com a escolha que lhe fosse mais adequada. Porém, mesmo com essa ideia intuindo permitir que mais pessoas pudessem participar do evento, a ideia de elitização ainda esteve presente. Os famosos, sendo pertencentes ao universo da moda ou não, eram posicionados em lugares de melhor visão. Alguns desfiles tiveram suas portas fechadas com assentos disponíveis, mas não houve liberação destes para os visitantes. Tal postura confere a impressão de que a prioridade é o engajamento, por via das redes sociais das celebridades com milhares de seguidores, ao invés de propagar os conceitos da moda e as ideologias por trás de cada coleção.

DIFICULDADES NA ORGANIZAÇÃO

Em comparação com a SPFW N53, a organização desta edição foi mais bem elaborada. As filas estavam bem demarcadas e a todo momento havia um organizador conduzindo as pessoas aos seus lugares. Mesmo assim, houveram confusões na entrada de alguns desfiles, como o da Sou de Algodão

Uma das regras do evento era de que, caso o desfile começasse, mais ninguém poderia entrar nas salas, mesmo se ainda houvesse público do lado de fora. Com isso, pessoas com ingressos em mãos ou até mesmo convidados das marcas foram barrados nas portas, o que resultou em atritos entre os organizadores, seguranças e visitantes. 

Os conceitos por trás dos desfiles

Com 30 marcas desfilantes, o público se sentia mais em êxtase a cada modelo que ingressava na passarela.  O destaque das coleções foi além de seus designs – as peças carregavam juntamente um significado, que pautava o desfile da marca e criava, no lugar de roupas, um espetáculo artístico único e memorável. 

A edição expôs esse propósito no primeiro dia, iniciando o evento com o desfile da marca Meninos Rei. A coleção foi nomeada “Onde nasce a arte”, e teve como intuito demonstrar em cada look o compromisso com a cultura que vem do gueto, da diversidade e da inclusão social, por meio de estampas africanas e desenhos inspirados na paisagem das favelas. A presença de um mix de corpos, gêneros e idades trajando visuais com cores neon foi a cereja do bolo. O Ateliê Mão de Mãe foi outro nome importante no enaltecimento da pluralidade cultural – a  marca surgiu em meio ao lockdown, na Bahia. A coleção apresenta o poder desse estado, com uma paleta de cores inspirada nas forças da natureza medicinal, energética e espiritual.

Ressaltando também a diversidade, Thear e Greg Joey foram marcas que atuaram com impacto nesse campo. A primeira lançou sua linha nomeada Methamorfose, cujos looks foram idealizados a partir da história de Theo Alexandre, criador da marca, que se descobriu trans aos 42 anos e quis traduzir esse processo em suas peças, através de uma coleção com iterações de casulos, peças largas, fluidas e volumosas. Foi a primeira vez que Thear apropriou-se da seda, que foi utilizada para moldar asas com elásticos e drapeados. Vale ressaltar o trabalho exclusivo com fibras e tingimentos naturais, além das criações em tear manual, com macramê, crochê e renda. Greg Joey, por sua vez, desenvolveu uma proposta de design agênero, demonstrado em peças também volumosas, com golas altas e detalhes de plissados. 

A Sou de Algodão foi outra marca aliada às produções manuais – foram 36 looks feitos com tecelagens, malharias e fiações de algodão, que conversam com os pilares da marca de produzirem uma moda responsável com consumo consciente. Antes do desfile, foram distribuídas ecobags ao público, que guardavam um vasto pedaço de tecido, cuja ideia era permitir que espectador desse vida a uma peça com o material, levando um pouco da experiência da experiência da São Paulo Fashion Week para fora do local.

O algodão também serviu como base para Rocio Canvas. Dobras, torções, drapeados, sobreposições e plissados foram responsáveis por conferir o design contemporâneo da marca. As tramas tecnológicas e as combinações monocromáticas ou bicolores garantiram a elegância e sensualidade clássicas da marca.

Tons de verde, azul, bege, amarelo, preto e branco fizeram parte não somente do desfile da Rocio Canvas, como também da Buzina, marca de Portugal que participou pela primeira vez de uma edição da São Paulo Fashion Week. Sua coleção, Burnish, fez alusão ao significado da palavra em si – polir, lustrar e abrilhantar. A premissa foi de romper com o desconforto e insegurança que algumas roupas têm servido nos últimos anos e trazer os anos 50 como escopo para a coleção, apropriando-se da moda da época. 

O Projeto Ponto Firme intuiu valorizar a cultura e identidade brasileira. Com uma coleção assinada por Day Molina, estilista indígena, a ideia foi trazer looks que representassem a descolonização, a partir do histórico das artes manuais no país. A referência para a coleção foi o Manto Cerimonial Tupinambá, confeccionado com fibras naturais e penas entre os séculos XVI e XVII. A equipe para a produção das peças foi composta por detentos da Penitenciária Adriano Marrey, egressos do sistema prisional, pessoas trans em situação de vulnerabilidade social e pessoas refugiadas. 

Externando-se totalmente do básico, Bold Strap e Another Place trouxeram, além de desfiles extraordinários, conceitos exóticos e criativos por trás de cada look. Bold Invasion foi o nome da coleção estrelada pela primeira. Os traços fetichecore e os signos da cultura queer tradicionais da marca estavam presentes, dessa vez com uma temática alienígena, que apresentou modelos trajados em visuais extraterrestres. Corpos pintados em cores siderais, rendas, pelúcias, plissados e referências praia foram a base dos outfits. A mescla de ironia e sensualidade, com um apelo sadomasoquista é a definição da marca, que utilizou jeans pela primeira vez em seus visuais e, ao colocar os modelos para desfilarem sobre areia rosa, demonstrou que tradicional é seu antagonismo.

Another Place reproduziu uma história de amor na passarela da São Paulo Fashion Week. A coleção “Love Hurts” explora as etapas de um relacionamento. O desfile se iniciou repleto de frescor e euforia, com peças metalizadas, detalhes em renda e transparência. A fase do começo de um vínculo, em que a vontade é se destacar e mergulhar na nova aventura com o parceiro, foi substituída pelo momento da paixão em seu auge. A coleção transitou para estampas psicodélicas, com desenhos de corpos se entrelaçando. O final da performance ficou a cargo de Tainá Muller – após looks com texturas desgastadas, representando o efeito do tempo na relação, a atriz carregava um acessório em formato de coração, que derramava sangue conforme seu caminhar. 

A presença de personalidades e o impacto nas redes sociais

Além de trazer modelos que são referência para as passarelas, cada vez mais vemos que celebridades de outros ramos tem feito participação nos castings dos desfiles das marcas que apresentam suas coleções na maior semana de moda da América Latina, e nesse ano não foi diferente. De cantores como Vitão e Liniker até as digitais influencers Bianca Andrade e Jade Picon.

O mercado da moda vem sendo cada vez mais popularizado pelo estouro dos influencers fashion, principalmente por seu sucesso no TikTok. Assim, se torna cada vez mais interessante para as marcas trazer pessoas que já são conhecidas para atrair público a consumir não só o trabalho da marca, mas também conteúdos de moda em geral. 

O impacto de desfiles como o da Bold Strap nas redes sociais, é gigante. Parte desse sucesso de deve a presença da influencer Bianca Andrade que atuou como ponto importante para o destaque da marca. O público alvo de Bianca, conhecida como “Boca Rosa”, não é exclusivamente interessado por moda e, consequentemente, não possui tendência a consumi-la. Tendo essa ideia em mente, a Bold Strap a coloca na passarela com o intuito de gerar movimentação fora do ambiente do mundo da moda, atraindo atenção ao conteúdo da grife.

Além da Bold Strap, outras marcas usufruíram do poder das redes para montar seus castings, como Misci, LED, Apartamento 03 e Martins.

a escolha dos looks do público

Uma das grandes dúvidas de quem frequenta o evento ou almeja tal é a escolha do look – qual seria a composição perfeita? Camisas de time são permitidas? Em qual tendência apostar ? Com isso, conversamos com algumas pessoas que estavam no evento e apresentaram looks marcantes.

Vitória,19, revelou que, em sua primeira ida a São Paulo Fashion Week, apostou em um look de tricô feito pela própria mãe e explicitou qual foi a fonte de inspiração criativa para o visual.“ Tivemos inspiração nas obras do Van Gogh porque ele usa muito esse tom de laranja, azul”, conta a jovem.

Já próximo ao horário de desfile da marca Another Place, conversamos com Augusto, 21, que trajava um look monocromático vermelho. Ele explica que buscou representar a marca que estava indo acompanhar – “eu gostei muito da estética da roupa e como é o desfile da Another Place, eu quis vir com a roupa da marca”.

Com um visual poderoso e singular, o jornalista Iago Garcia vê a SPFW como um momento de impactar por meio das roupas utilizadas. “SPFW é aquele look que você não usa em casa, que você sai no seu dia a dia, eu acho que você precisa causar um impacto. Então hoje eu falei, eu quero causar , então é isso, eu acho que a moda é se jogar e aqui é um ambiente onde você não vai ser julgado”, disserta o fashionista.

Luan, 29, optou pela composição assim como Augusto, de uma peça da marca do desfile a ser assistido e reforçou a importância dos tênis que usava, para o significado do visual “escolhi um vans, que a minha mãe me deu, que é uma coisa despojada”.

O jornalista Santiago,29 , apostou em um look mais “folgado” e pontuou um critério relevante na hora da escolha do outfit – a questão do tempo. O profissional ficou o dia inteiro no evento, portanto precisava de uma escolha de peças que permitisse a adaptação a diversas situações e permitisse conforto.

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The article above was edited by Mariana do Patrocínio.

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Mariana do Patrocínio

Casper Libero '25

journalism student. aquarius. art lover. fashion addict. yoga practitioner. traveler.
Mariana Letizio

Casper Libero '25

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Ana Lamarão Tavares

Casper Libero '25

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Sarah Silva

Casper Libero '25

Aqui se encontra uma Paulistana daquelas típicas que vivem se programando com o horário, acho que ser capricorniana também tem sua influência KKK. Contudo, entre os horários mais corridos das cidade grande, achar beleza nas histórias e nos olhares intercruzados fascinaram-me .