Nascida no interior do Paraná, Aimée de Heeren, se mudou ainda jovem para a então capital do Brasil na época, Rio de Janeiro. Lá consolidou seu nome na alta sociedade brasileira e foi para o mundo. Viveu entre Paris e Nova York.
Comunicativa, elegante, com amizades icônicas – de Coco Chanel a príncipes, princesas e diplomatas. Frequentadora dos eventos mais exclusivos, a capa de revista e estrela de propagandas, com um guarda-roupa recheado de grifes que acompanhou os primórdios da alta costura. Viu com seus próprios olhos momentos como o auge do cinema mudo, a Segunda Guerra Mundial, a criação da minissaia e até a virada do milênio.
Conheceu pessoalmente a maioria dos presidentes brasileiros de sua época e até apareceu nas páginas regularmente escritas de um diário de capa preta e lombada verde, de uma figura emblemática da história do Brasil: Getúlio Vargas, no qual confirma um boato que a mesma jamais se pronunciou a respeito.
O Jornalista e escritor Delmo Moreira, à procura de um tema para seu próximo livro, se viu fascinado por esse personagem que circulou pela elite e deu o que falar, uma mulher que nunca passou despercebida em um salão de festas. O escritor mergulhou fundo nas pesquisas sobre vida de Aimée e escreveu uma biografia repleta de histórias fascinantes sobre uma vida repleta de pessoas interessantes, eventos exclusivos e segredos muito bem guardados.
Esta é Aimée de Heeren. Muito se averiguou entre fotos antigas, amigos e familiares a data exata de seu nascimento, já que a mesma alimentou uma grande especulação em volta de sua verdadeira idade. Afinal, há quem acredite que se chega a uma idade em que falar de números é um tanto indelicado, opinião com a qual ela concordava, já que se irritava com perguntas sobre esse assunto, pois nem mesmo seus médicos tinham o direito de saber sua idade. Afinal, quem é definido por um simples número? No entanto, chegou-se ao ano de 1908, mas, curiosamente, em seu passaporte diplomático, foi registrado o ano de 1913.
Debut na alta sociedade durante os “Anos Loucos”
Mas um ano certo é que, em 1920, a jovem Aimée chega à cidade na qual tudo acontecia, com seus pais Julieta Sampaio e Genésio Sotto Maior de Sá e sua irmã Vera Sotto Maior de Sá, Rio de Janeiro, onde o fervor da política e os avanços da modernidade aconteciam, com um milhão de habitantes. A década de 1920, que ficou conhecida como “Anos Loucos”, foi marcada por pautas que movimentaram o mundo, como os movimentos sufragistas que reivindicavam os direitos das mulheres, principalmente o direito ao voto. Hollywood estava a todo vapor vivendo a “Era de Ouro” e a Semana de Arte Moderna de 1922 estava perto de acontecer. O mundo estava aquecido e velhos costumes estavam ficando no passado.
Heeren e sua família foram recebidos na capital pelos Simões Lopes. O patriarca da família era o tio Ildefonso, cuja fortuna vinha do comércio de couro, carne e graxa no Rio Grande do Sul. Seus antecessores foram agraciados com títulos de nobreza e, desde a Proclamação da República, em 1889, participavam ativamente da política.
Com laços estreitos construídos anteriormente com Getúlio Vargas, na época ainda deputado, a jovem e sua família não encontraram dificuldade em se restabelecer à nova realidade e rapidamente se acostumaram ao ritmo da elite carioca, frequentando eventos e aprendendo regras de etiqueta, línguas e viajando para o exterior. Era descrita por muitos como uma mulher de beleza estonteante, com seus cabelos morenos e olhos verdes, sendo elogiada por onde passava.
A afobação para sair do ninho dos pais
Foi só um tempo depois que Aimée foi finalmente apresentada ao primogênito de seu tio, Luís Simões Lopes, que voltava de sua época de estudos universitários e ingressava em uma promissora carreira na política, ocupando seu primeiro cargo no Ministério da Agricultura, seguindo os passos de seu pai. Com apoio declarado à campanha de Getúlio, ele estava presente em 11 de outubro de 1930 no movimento que tirou o então presidente Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes. Pai e filho tiveram cargos durante a Era Vargas.
Dois anos depois, em 1932, Luís, então assessor direto do presidente, e Aimée tiveram um rápido namoro e noivaram. Ela tinha pressa em se casar, como toda filha de pais controladores, queria sair o quanto antes de casa. Quando falava sobre o assunto, dava um exemplo: sua mãe escolhia até a forma como tomava seu chá. Sair de casa significava a liberdade de tomar suas próprias decisões, até mesmo sobre como tomaria seu chá.
No dia sete de julho do mesmo ano, casaram-se. Como em um tradicional casamento, tudo foi escolhido a dedo pela noiva, incluindo o local: o lugar conhecido por ser o ponto mais romântico do mundo, Paris. Com direito a uma lua de mel digna de uma rainha no luxuoso Palácio de Versalhes. Tudo parecia perfeito, mas, como diz o ditado, “antes só do que mal-acompanhado”, pois, pelo que parece, o novo casal não estava em sintonia. Aimée confidenciou a uma amiga que a lua de mel foi um verdadeiro desastre. Depois, houve desentendimentos entre o casal, um deles até presenciado por sua irmã, que a aconselhou a se separar, mas, na época, o conselho não foi ouvido.
Amizades e caso extraconjugal
Aimée e a primeira-dama Darcy Vargas eram próximas, e esses laços se estreitaram após 1934, quando Getúlio foi eleito presidente pela Assembleia Constituinte. Os quatro foram vistos constantemente juntos em eventos, jantares e viagens.
Foi em 1995 que o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) divulgou os diários escritos pelo próprio Getúlio Vargas, que documentou em detalhes seus anos de governo. E, em meio a páginas de politicagem, houve espaço para um romance extraconjugal com uma mulher denominada a “Bem-Amada”. Historiadores acreditam que se tratava de Aimée de Heeren.
Para todo fim, um recomeço ainda mais glamouroso
Em 1938, Aimée deixa o Brasil e seu destino é Paris. Agora divorciada, rapidamente ganhou destaque na alta sociedade, fazendo amizade com as pessoas que seriam o ponto inicial da alta costura, Coco Chanel e Christian Dior. Vivendo o auge do glamour, em 1941 foi eleita pela revista Time como uma das cinco mulheres mais elegantes do mundo.
Casou-se pela segunda vez com um multimilionário dono de uma rede de lojas de departamento, Rodman Arturo de Heeren. Os dois, no entanto, viviam vidas separadas. A socialite viveu dois romances nesse meio-tempo, com Assis Chateaubriand e Orson Welles, mas permaneceu casada com o marido até o falecimento dele.
Um último brinde de champanhe
Toda história há de ter um final digno, e De Heeren garantiu o seu quando, em julho de 2003, pessoas de sua vasta lista de contatos foram convidadas para seu “último aniversário”.
Vestindo uma criação da estilista Vicky Tiel, a socialite se despediu de uma vida na qual presenciou, com seus próprios olhos, eventos e pessoas que deixaram para as próximas gerações um mundo diferente do que conheceram. No entanto, foi apenas em 2006 que Aimée de Heeren faleceu.
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O artigo acima foi editado por Duda Kabzas.
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