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Publicar Um Livro Não É Impossível: Dicas Para Você Não Desistir Do Seu Sonho

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This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Com a pandemia da Covid-19, houve mudanças em vários setores do país, dentre eles o universo literário. Essas mudanças também tiveram influência no cotidiano dos cidadãos que foram aconselhados a permanecer dentro de suas casas devido às restrições de isolamento social. Diante da realidade escura que o mundo vivenciava, muitos buscaram alternativas diversas para se entreter. Os livros se tornaram um refúgio, um lugar para viajar em realidades distantes e viver aventuras no conforto do próprio sofá, longe de qualquer perigo. Esse fenômeno perdura até o momento, mesmo com o retorno das atividades e eventos presenciais, de maneira que entre os dias seis de dezembro de 2021 e dois de janeiro de 2022 foram vendidos 4,5 milhões de exemplares, o que representa  5% a mais de obras vendidas no mesmo período no ano de 2020.

A alta demanda por livros foi acompanhada por um crescimento proporcional no número de publicações de novas obras, de modo que em 2021 foram catalogados cerca de 400 mil lançamentos no ramo literário. Dessa forma, a pandemia não trouxe consigo somente o aumento do consumo por livros como o surgimento de um número elevado de autores independentes, com um incremento de 30% do percentual, segundo dados do Clube dos Autores. Todos esses fatores levantam uma questão importante: será que a profissão de escritor é um sonho possível?

Dentre inúmeras perguntas, é fundamental pensar não apenas no processo de se tornar um autor publicado mas na viabilidade do mercado que, apesar de ter crescido, ainda se mostra um espaço pequeno e assustador para aqueles que estão começando sua jornada como autores. Para Clara Alves, autora de “Conectadas” (2019) – livro publicado pela Editora Seguinte com mais de 100 mil exemplares vendidos – e “Romance Real” (2022), este continua sendo “um mercado muito fechado, pequeno e que ainda está muito hesitante com os livros nacionais”. Se você compartilha desse mesmo sonho, confira algumas dicas para não desistir dele com a escritora e revisora Clara Alves!

Foto da escritora Clara Alves com seus livros publicados
Entre no mercado independente

O primeiro pensamento que se tem ao entrar no mundo da escrita é o desejo de ter um livro publicado por uma editora tradicional – como a Companhia das Letras ou a Record – pois imagina-se que milhares irão ler a sua história e que esta é a única maneira de levar o estilo de vida de um escritor. Mas a realidade é que poucos redatores começam nas grandes editoras, como foi o caso de Clara Alves, que não ingressou no ramo pelos meios tradicionais e tampouco teve sua primeira publicação o hit de vendas “Conectadas”, como muitos imaginam. Clara começou sua jornada de escritora na plataforma Orkut – rede que antecedeu o Facebook – onde postava suas histórias, que posteriormente foi substituído pelo Wattpad e a Amazon, sendo estes espaços nos quais a autora pôde publicar suas obras originais sem grandes custos de publicação. 

A escritora acredita que foi mediante seu período como autora independente nestas plataformas que conseguiu entender o funcionamento do mercado literário. Além disso, apesar de não ter sido patrocinada por nenhum grande veículo ou editora, conseguiu levar uma de suas obras na Bienal do Livro do Rio de Janeiro de 2017, de forma física, a partir da estratégia de impressão por demanda. 

Hoje a gente tem um crescimento muito grande do mercado independente e as pessoas podem usar e abusar disso. Elas vão conseguir muitos leitores através daí, às vezes vão até conseguir viver de escrita mesmo sem chegar no mercado tradicional

Clara Alves

Além disso, ela destaca que o mercado independente é uma ótima alternativa para a publicação de livros, considerando a extensão do mercado tradicional que apesar de ter desfrutado de um aumento de leitores, continua sendo um espaço com as portas pequenas. Principalmente quando se pensa em editoras grandes – como a Seguinte e a Rocco – que possuem uma parcela pequena de livros nacionais. Contudo, esses números vêm crescendo aos poucos a partir da demanda feita pelo público brasileiro e nomes notáveis como Clara Alves, Pedro Rhuas, Vitor Martins e Luly Trigo passaram a aparecer. 

Devido à pandemia e ao aumento do dólar, as editoras estão tendo maior dificuldade de comprar livros estrangeiros – especialmente se eles forem um investimento arriscado. Portanto, Clara acredita que o mercado editorial está em um momento efervescente para os escritores nacionais, mas “tem uma porta de abertura muito pequena, dá para contar na mão os autores nacionais que realmente estão sendo trabalhados”.

a importância das conexões

Um elemento de grande importância para aqueles que buscam publicar um livro pelos métodos tradicionais é a presença de conexões no mercado. Para Clara Alves, isto mudou a jornada dela, uma vez que foi através de uma amizade que conseguiu se tornar estagiária na imprensa da Editora Record, enquanto cursava a faculdade de Jornalismo. Essa oportunidade permitiu que ela conhecesse o outro lado do mercado e pudesse entender os processos de submissão dos livros. Mas sua entrada como escritora em uma editora tradicional ocorreu apenas na Bienal do Livro do Rio de Janeiro de 2017. No evento, a revisora participou de um pitching para ouvir novas vozes e apresentou sua história original “Como Reconquistar um Amor Perdido”, obra que foi responsável por ser agenciada pela Increasy.

Contudo, é claro que a história de Clara não se repete para todos. A possibilidade de ter um contato direto com o mundo editorial não é o cenário que muitos autores independentes vivenciam no dia a dia. Isto não significa que não é possível criar conexões ou fazer o seu nome ser ouvido. Por exemplo, o Twitter tem se mostrado uma ótima ferramenta para se aproximar de editores, como Beatriz D’Oliveira – editora da Rocco – e Paula Drummond – editora da Alt. Tais editoras estão sempre nas redes sociais em busca dos autores independentes que estão sendo mais comentados e procurando por temáticas específicas de história para encontrar novos talentos.

Portanto, a autora destaca que apesar de ter contatos ser sempre bom – especialmente devido ao fato do mercado tradicional ser muito recluso e todos se conhecerem – é ainda mais importante entender formas de ser reconhecido sem realmente conhecer. Desta forma, é interessante “você estar presente nas redes e estar perto desses editores, mesmo que você não seja tão próximo assim de nenhum deles”. A possibilidade do seu livro inicialmente publicado de forma independente chamar a atenção de editoras tradicionais pode ser através da presença constante nas mídias sociais. Esse foi o caso da autora de “Luzes do Norte”, Giulianna Domingues, cujo livro fez sucesso de downloads, atraindo o interesse da Galera Record que comprou a obra e a publicou de forma tradicional.

Estar presente, mesmo que você não tenha contatos, é o mais importante para sair do mercado independente para o tradicional, porque se você não é visto, você não é lembrado

Clara Alves

Tenha seu livro pronto

Um questionamento válido quando se está escrevendo um livro e pretende-se apresentar a obra diante de alguma editora tradicional é se o livro deve estar finalizado. No caso de Clara Alves, isto não foi uma necessidade, uma vez que “Conectadas” não era uma história concretizada quando a apresentou para o selo jovem da Companhia das Letras – a editora Seguinte. A escritora foi avisada de uma reunião de editoras onde seriam apresentadas algumas histórias, e foi então que decidiu formular uma história inédita para elas, visto que: “eu queria muito ser publicada. Eu sempre gostei de escrever, sempre foi um sonho meu e eu via que não estava dando certo, principalmente porque as minhas histórias não eram inéditas”. 

Foi então que Clara pensou no plot de catfishing e amor LGBT que levou à origem de “Conectadas”, porém sua agente apresentou a história para a editora com apenas 15 páginas do livro escritas, estando no início de sua narrativa. A autora já tinha a ideia do enredo e todo o planejamento de forma que, como a Seguinte gostou da ideia, a editora deu um prazo surreal de dois meses para concluir a obra. Contudo, a editora jamais se comprometeu a comprar o livro, eles estavam apenas esperando a história ser finalizada, portanto ela não possuía garantia nenhuma de que após finalizado, seu livro seria publicado. 

Desse modo, é interessante que a sua história esteja concluída ou próxima ao fim antes de ser mostrada às editoras. A autora de “Romance Real” acredita que teve “um pouco de sorte ao entregar a história certa no momento certo, e em um momento em que o mercado jovem estava começando a crescer muito”. No entanto, Clara também reconhece que foi uma escolha arriscada, por ter um prazo tão pequeno e ter que correr com a escrita, já que é importante trabalhar com calma e ter uma história bem embasada. 

Para a maioria das pessoas, é melhor terminar o livro, dando o próprio tempo dela mesmo. Também não se pressionar para terminar de escrever porque às vezes quando a pessoa cria uma expectativa muito grande da editora gostar do livro, na hora pode não acontecer, ou você pode travar a pessoa

Clara Alves

conheça seu argumento de venda

Clara argumenta que mais importante do que ter seu livro pronto é saber vender sua ideia para os editores. Você pode ter uma história clássica – inclusive considerada clichê – sem reviravoltas e sem surpresas, porém se você sabe vender a sua ideia, você pode convencer os editores de que sua obra vale a pena.

Se você sabe vender o seu “peixe”, você sabe como entregar, mostrar para a editora: “essa é uma história simples mas eu tenho certeza  que ela vai encantar os leitores por isso, isso e isso”, é muito mais fácil você se vender do que já ter a história ou o livro todo pronto

Clara Alves

entenda sua história: qual é o seu objetivo?

Umas das principais necessidades ao escrever um livro é entender o que você quer contar como autor através da sua história – qual é o seu objetivo com a obra? Antes de você escrever sua narrativa, é importante ter um embasamento do que a história irá atingir, o que ela irá contar e quais são as personagens principais, mesmo que não se saiba qual será o fim delas, o mais importante é o leitor entender a mensagem. Para compreender o enredo de “Conectadas”, Clara Alves organizava de cinco em cinco capítulos o que iria acontecer em seguida, mesmo que com apenas uma frase, para ter uma direção para onde o livro estava indo. 

Esse processo nem sempre é uma tarefa fácil A autora comentou que o seu segundo livro publicado pela editora Seguinte, “Romance Real”, sofreu complicações durante a estruturação da narrativa. A autora conta que o desenvolvimento do livro foi bastante solto, mas quando chegou na metade do livro não sabia para onde a história estava se direcionando, de forma que teve que reescrever tudo em um mês, juntando várias versões do livro que já tinham sido redigidas anteriormente.

Eu só conseguia fazer a história fluir quando eu voltava e reescrevia a história do zero e ia ajustando coisas que não estavam coerentes, mas eu entendi que isso fazia muito parte do meu processo

Clara Alves

o mundo real é seu maior aliado

Obter inspirações para as suas histórias é imprescindível no processo de criação de um livro, mas nem sempre sabemos onde obtê-las. Uma opção é ler obras do mesmo gênero que o autor está escrevendo, pensando sempre: “se eu estivesse escrevendo essa história, o que eu faria com essa cena? Será que eu faria essa cena desse mesmo jeito?” De acordo com Clara, ler histórias de mesmo gênero ou de temas parecidos ajuda a manter uma criatividade constante. Principalmente pelo fato da autora escrever romances adolescentes, ela comenta que: “o clichê é 100% nosso aliado quando a gente está escrevendo romance adolescente. Cenas vão se repetir, adolescentes vão cometer as mesmas burradas, essa é uma coisa normal porque é um gênero bem universal e muito do clichê”.

A escritora também comenta que uma das maiores inspirações dos autores deve ser sempre o mundo real, ou seja, cenas do cotidiano do escritor e também dos seus leitores. No caso da autora de “Conectadas”, ela gosta de trazer questões familiares para seus romances, mas acredita que qualquer fator do cotidiano pode se tornar um elemento de destaque para o enredo.

Gosto de fazer coisas que vão me ajudar a entender como funciona o dia a dia da vida humana, porque é basicamente isso que a gente está fazendo no livro

Clara Alves

booktok: use as plataformas a seu favor

Com a pandemia da Covid-19 houve uma alta no número de usuários na plataforma de vídeos TikTok, onde postam vídeos sobre assuntos variados, incluindo recomendações de livros. Este fenômeno foi chamado de “BookTok”, onde diversos criadores de conteúdo produzem vídeos para falar apenas do universo literário, fazendo críticas, recomendações e resenhas de suas obras favoritas. O impacto da plataforma foi inegável no aumento de leitores brasileiros que, de acordo com a autora de “Conectadas”, foi uma das principais razões para o sucesso do livro. Clara apontou que: “mais do que eles divulgarem um livro, eu acho que o BookTok ajudou muito a crescer a comunidade de leitores”, de forma que a autora recebeu diversas mensagens de usuários comentando que “Conectadas” foi o primeiro livro que liam em anos, tudo graças aos aliados leitores que produziram conteúdos sobre a história.

Clara Alves fez a maior parte da divulgação de sua história por meio do TikTok e do Twitter, tornando o livro conhecido para que quando ele entrasse em promoção, o público tivesse interesse em comprar. A autora também comentou que o preço é também um dos maiores fatores que fazem o livro crescer. Portanto, é importante usar as plataformas do momento, como as que ela utilizou, para vender sua história não somente para os editores, bem como para o seu público. 

O TikTok estourou uma bolha imensa, é muito surreal. Eu conseguia chegar a uma quantidade de visualizações que nenhuma outra plataforma tinha conseguido até o momento

Clara Alves

não pense muito no futuro

Uma das principais dicas da autora é buscar não pensar no futuro que aguarda o seu livro, isto é, não pensar se ele vai chegar nas grandes editoras, se terá uma audiência grande ou pequena ou se terá milhões de vendas. Estes pensamentos fazem com que o autor perca o pontapé inicial de começar a escrever. Se ele se preocupa muito com as palavras, não consegue fazer o livro fluir e por consequência perde a essência de escritor. A autora comenta que quando se começa a publicar e a carreira de escritor se torna uma profissão, há muito mais pressão e torna-se mais difícil aproveitar a experiência.

Portanto, quando se está escrevendo as primeiras obras, o mais importante é “curtir o processo” de escrita e sua história, o que vai acontecer com ela no futuro não é importante durante o processo de escrita.

Sempre que as pessoas me perguntam, eu falo “senta e escreve”. Não se preocupa se vai ter começo meio e fim, se você vai estar começando pelo começo ou pelo final, só escreve e curte aquilo

Clara Alves

Ame o que você faz

A carreira de escritor é tão difícil como qualquer outra. Ela consiste em muitas edições e processos falhos, de bloqueios e de questionamentos, por isso o amor sempre entra em jogo quando se está escrevendo um livro. Escrever pensando no luxo, na publicação tradicional ou até no dinheiro, acaba corrompendo a essência da obra. É necessário se conectar com a história e entender que está sendo realizada de coração, especialmente nos primeiros rascunhos, que são os que podem ser escritos com mais calma sem tantas responsabilidades e pressões.

Se você não curtir aquilo, se você não amar escrever, se você não se divertir no processo, vai ficar 90% mais difícil de seguir em frente

Clara Alves

você já é um escritor

O mais importante de tudo é aceitar que mesmo sem um livro publicado de forma tradicional ou por alguma grande editora, você já é um escritor! O mercado tradicional não é a única saída para quem quer seguir com essa profissão. Fazer parte do mercado independente não faz com que o autor não seja um escritor. Clara Alves comentou também que existem diversas pessoas que preferem permanecer no mercado editorial independente, pois permite ter uma liberdade maior, além de atingir um público que não vai às livrarias.

Não adianta você diminuir o seu processo, diminuir quem você é porque você não está em uma editora tradicional, não é a única forma. A gente não tem editora tradicional suficiente no Brasil para comportar a quantidade de autores bons que a gente tem, então está tudo bem se você não conseguir chegar lá. Você continua sendo um escritor e você pode ser um escritor foda mesmo não estando em uma escritora tradicional

Clara Alves

Adriana Marruffo

Casper Libero '25

- mexican (but enjoying living in Brazil) journalism student – pop culture lover, dancer and writter 🤍 – 19y old – e-mail: adrianamarruffo@hotmail.com