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Escuta que transforma: como o CVV salva vidas

Gabriela Tortora Student Contributor, Casper Libero University
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter and does not reflect the views of Her Campus.

O QUE É O CVV E COMO ELE FUNCIONA

Fundado em 1962, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, gratuitamente e sob total sigilo e anonimato, para qualquer pessoa que precise conversar. O atendimento é feito por telefone 188 (ligação gratuita, 24h), chat e e-mail, além de atendimentos presenciais em alguns endereços.

A operação é 100% voluntária. Segundo o próprio CVV, são realizados mais de 2,7 milhões de atendimentos por ano, conduzidos por cerca de 3.300 voluntários espalhados por 20 estados e no Distrito Federal. Todos passam por formação específica para desenvolver escuta ativa, empatia e postura não diretiva, pilares que tornam a conversa um espaço seguro, sem julgamentos. 

Canais de atendimento do CVV:

  • Telefone 188: gratuito e 24h.
  • Chat e e-mail: acessíveis via cvv.org.br.
  • Atendimento presencial: em alguns postos do CVV (consulte o site). (CVV)

Importante: O CVV não substitui serviços de emergência médica. Em situações de risco imediato, acione o SAMU (192) ou o serviço local de urgência.

O QUE ESTÁ EM JOGO

O suicídio é um grave problema de saúde pública. No mundo, mais de 720 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos; é a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) lembra que a prevenção é possível e requer respostas multissetoriais, do cuidado em saúde à comunicação responsável. 

No Brasil, análises recentes do Ministério da Saúde mostram que o suicídio figura entre as principais causas de morte na adolescência e na vida adulta jovem — terceira causa entre 15–19 anos e a quarta entre 20–29 anos no período analisado (2010–2021). 

Diante desse cenário, escutar pode ser um ato de prevenção. E é exatamente isso que o CVV faz, 24 horas por dia, sete dias por semana.

POR QUE A ESCUTA SALVA: O QUE A CIÊNCIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DIZEM

Falar sobre suicídio ainda é um desafio para muitas pessoas, um tema cercado de silêncio, medo e estigma. Mas, por trás de cada estatística, existe uma vida, uma história, alguém que precisa ser ouvido. A ciência mostra que esse gesto aparentemente simples — escutar — pode ser um divisor de águas na prevenção. Ao lado de políticas públicas e estratégias bem estruturadas, a escuta atenta e empática salva vidas, oferecendo acolhimento e abrindo caminhos para que quem sofre encontre apoio e cuidado.

A OMS enfatiza que a maioria dos suicídios pode ser prevenida por meio de estratégias baseadas em evidências, entre elas linhas de apoio emocional, restrição ao acesso a meios letais, cobertura midiática responsável e ampliação do acesso a cuidados em saúde mental. 

Para a psicóloga Talita Freitas, 38 anos, especialista em saúde mental, o dado de que a maioria dos casos pode ser evitada, reforça a importância de espaços como o CVV:

“As pessoas não procuram ajuda porque têm medo de serem julgadas ou de não serem levadas a sério. Quando encontram uma escuta acolhedora, sem críticas e com empatia, isso pode ser o fio de esperança que faltava para seguir em frente. A escuta, muitas vezes, salva antes mesmo de qualquer intervenção médica”, explica Talita.

No Brasil, a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio (Lei 13.819/2019) estabelece diretrizes para ações integradas entre União, estados e municípios, incluindo notificação compulsória de violência autoprovocada pelos serviços de saúde e educação, medida que melhora a vigilância e a resposta. 

O RETRATO BRASILEIRO: O QUE MOSTRAM OS DADOS

  • Causas por faixa etária: no panorama 2010–2021 do Ministério da Saúde, o suicídio ficou entre as principais causas de morte na adolescência e juventude (terceira entre 15–19 anos; 4ª entre 20–29 anos).
  • Tendências e desigualdades: estudos nacionais apontam crescimento das taxas entre jovens ao longo da última década e diferenças regionais, com Sul e Centro-Oeste historicamente entre as maiores taxas.
  • Contexto global: a taxa de mortalidade por suicídio (por 100 mil habitantes) caiu globalmente de ~9 em 2000 para ~6 em 2021, mas a carga segue alta, especialmente em países de baixa e média renda.

Leitura dos números com cuidado: especialistas destacam limites de informação (subnotificação e “mortes por causa indeterminada”) e diferenças metodológicas entre fontes. Ainda assim, o conjunto de evidências sustenta a urgência de ampliar prevenção, cuidado e acesso.

BASTIDORES DA CONVERSA QUE ACOLHE

O que acontece quando você liga 188? Você é atendido(a) por uma pessoa voluntária treinada para escutar ativamente, validar sentimentos, evitar julgamentos e não oferecer conselhos prontos. A ideia é caminhar junto, ajudando quem procura o serviço a organizar pensamentos e emoções, identificar possibilidades de cuidado e seguir em segurança naquele momento. O foco é a pessoa e sua história, não um roteiro rígido. 

Por que pode funcionar: em crises emocionais, ter alguém que escuta com atenção e sigilo diminui a sensação de isolamento, reduz impulsividade e abre espaço para pedir ajuda formal (familiares, serviços de saúde, CAPS/UBS, emergência). A literatura internacional coloca linhas de ajuda entre as medidas com boa relação custo-efetividade na prevenção. 

Talita complementa que a humanização do atendimento é o que faz diferença:

“Não é sobre dar conselhos ou ter todas as respostas. É sobre estar presente, permitir que aquela dor seja dita em voz alta sem ser interrompida ou diminuída. Esse espaço seguro reduz a solidão emocional e, em muitos casos, já é suficiente para a pessoa vislumbrar outras formas de cuidado”, ressalta a psicóloga.

MAIS QUE CAMPANHA, UM CONVITE AO CUIDADO

O Setembro Amarelo é a maior campanha brasileira de conscientização sobre prevenção do suicídio. Ao longo do mês, instituições públicas e privadas promovem informação qualificada, formação de redes e ações de cuidado, do ambiente escolar ao trabalho, da atenção primária à mídia. O objetivo é quebrar o silêncio com responsabilidade e facilitar o acesso a ajuda.

Boas práticas de comunicação podem ser catalizadores para a dispersão da campanha, seja para imprensa, escolas, empresas ou até influenciadores), como por exemplo: 

  1. Falar é preciso, mas com linguagem responsável: evitar glamourização, detalhes de métodos ou tom sensacionalista.
  2. Enfatizar prevenção e acolhimento, sempre incluindo canais de ajuda.
  3. Respeitar o luto e a privacidade de famílias e comunidades.

Trazer sinais de alerta de modo educativo e sem alarmismo, estimulando a busca de ajuda profissional.
(Orientações alinhadas às recomendações da OMS e de políticas nacionais.)

COMO SOMAR NA REDE

  • Divulgue o 188 e os canais cvv.org.br (chat/e-mail). Inclua em cartazes, intranet, assinaturas de e-mail e sinalizações internas.
  • Forme multiplicadores: escolas, universidades, coletivos e empresas podem promover rodas de conversa, capacitações e fluxos de encaminhamento.
  • Fortaleça a porta de entrada da saúde: UBS e CAPS são pontos estratégicos para acolher e encaminhar, especialmente quando articulados com a comunidade e a rede de proteção social. (Diretriz prevista na política nacional.) 
  • Mídias e creators: adotem protocolos editoriais para coberturas e posts sobre o tema, com foco em prevenção e serviço, sempre com os canais de ajuda ao final.

Escutar transforma. Em um país onde o suicídio pesa com força particular sobre adolescentes e jovens, ter alguém do outro lado da linha, preparado para acolher, sem julgar, a qualquer hora, pode ser a diferença entre o desespero e um novo passo de cuidado. O CVV materializa essa ideia todos os dias, em milhões de conversas anônimas, discretas e humanas. Mas a prevenção não é tarefa de um único serviço: é política pública, é rede, é cultura do cuidado.

Neste Setembro Amarelo, e em todos os meses, que nós possamos normalizar pedir ajuda, oferecer presença e divulgar os caminhos para o acolhimento.

Para a especialista em saúde mental, mais do que campanhas de conscientização, é preciso criar uma cultura de cuidado:

“Não basta falar sobre saúde mental apenas em setembro. Precisamos de ações contínuas, em escolas, empresas e comunidades. Quanto mais normalizamos pedir ajuda e acolher sem preconceito, mais vidas serão salvas”, finaliza Talita.

Canais de ajuda (guarde e compartilhe)

  • CVV – 188 (ligação gratuita, 24h), chat e e-mail em cvv.org.br.
  • Emergência médica: SAMU 192 (ou serviço local de urgência).
  • Rede SUS: procure a UBS mais próxima ou um CAPS em sua cidade. (A política nacional integra saúde, educação e assistência social na prevenção).

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    O artigo acima foi editado por Gabriela Belchior.

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I’m Gabriela Tortora, a 19-year-old Journalism student at Cásper Líbero. I’m passionate about books and sports, and I truly believe that words have the power to transform, inspire and connect people. As Victoria Schwab writes in The Invisible Life of Addie LaRue, I believe in living countless lives through stories — and in sharing those stories with the world. ♡