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Culture

Elitização do cinema: os filmes atuais atendem a todos os públicos?

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

O encarecimento e a elitização do lazer vem se mostrando cada dia mais visíveis quando comparados aos preços e públicos de anos anteriores. Descubra um pouco mais sobre o universo cinematográfico inserido no nosso dia a dia.

Apesar dos cinemas serem abertos publicamente e estarem sempre com o catálogo recheado de novos conteúdos, existe um grande impasse ao público, o preço dos ingressos. Devido a inflação e as criações de diversas plataformas de streamings, sejam elas legais ou piratas, houve uma migração significativa do público que antigamente só frequentava os cinemas.

“O exibidor precisa pensar numa reação coletiva. Isso sem contar a questão da janela reduzida: porque ver Vingadores nos cinemas se poucas semanas depois estará de graça ou por um valor reduzido no streaming?”, disse Márcio Fraccaroli, presidente da Paris Filmes.

Em 2022, a FENEEC (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas) teve a iniciativa durante uma semana de setembro de todos os ingressos 2D serem vendidos por R$10 com os combos de pipoca e bebida mais acessíveis. Com os valores promocionais, houve um aumento de 296% no público e 127% na renda comparado ao ano passado. Para termos mais perspectiva desse crescimento do preço dos ingressos, um gráfico com dados do Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro nos exemplifica. 

Veja a tabela dos preços de ingressos de cinema dos últimos anos

Os valores hoje em dia variam entre R$20 e R$25, o que já diminui a probabilidade de uma parte de um leque da sociedade consumir a arte, mas além disso, o que falar sobre a nova tendência dos filmes em valorizar mais a linguagem e as estruturas sociais do que o contato com o público e a emoção? Bom, desde o momento em que uma nova tecnologia surgiu, as telas do cinema não são mais as mesmas. 

Isso se mostra bem presente no Oscar. Durante os anos 20 a 60, na época da Era de Ouro de Hollywood, os filmes possuíam valores familiares, focos em histórias e muita literatura, mas com a chegada do cinema blockbuster, que são os filmes inicialmente pensados para a popularidade e o lucro que terá em cima deles, as histórias clássicas se perderam. 

Os filmes premiados hoje no Oscar são voltados a um público pertencente à elite normalmente com um viés político, maior reflexão e linguagem distinta do cotidiano, não existe mais a magia e conexão de público e crítica. O filme “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” que levou sete títulos em 2023 conta com um enredo de ação, drama e comédia, a opinião do público é bem divida. 

“Pra quem julga com esse olhar mais técnico, pode ser algo admirável de se atingir, mas para quem busca um filme para rir, pensar ou se emocionar, ele tem um pouco de tudo, mas não é excepcional em nada. A reflexão que o filme trás só chega bem tardiamente, depois que a pessoa já enjoou de cenas bizarras e constrangedoras de comédia pastelão”, disse Vinicius Guedes, que parte do público-alvo do longa.

“Um filme filosófico disfarçado de vertiginosa comédia de absurdos. Surrealista, o roteiro usa o conceito de multiversos para defender a tese da falta de sentido intrínseca à vida , que nos convoca o tempo todo a criar sentidos – os melhores que conseguirmos…, comentou Madza Ednir.

A pauta sobre incentivo ao maior acesso nos cinemas foi tão popularizada e divulgada que foi tema da redação do Enem em 2019 “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”. Os participantes tiveram acesso a textos motivadores para formular seus argumentos, tiveram introdução a um trecho do artigo “O que é cinema”, um trecho do texto “O filme e a representação do real”, um infográfico com o percentual de brasileiros que frequentam as salas de cinema e um trecho do texto “Cinema perto de você”. Professores e cineastas opinaram sobre o tema. 

“O cinema é o espelho da nossa cultura. Já foi dito que um país sem cinema é uma casa sem espelhos. A gente tem que democratizar, fazer chegar a todas as camadas da população, não apenas em shoppings com ingressos caros. Milhares e milhares de cidades do Brasil não têm cinema. É uma forma de as pessoas acessarem mais conhecimentos, é fundamental ao país”, afirmou Marcelo Gomes, diretor de cinema.

O que é mais irônico é que, mesmo depois dessa grande repercussão e da denúncia sobre a pauta, em 2021, a ANCINE e o Ministério da Economia estudaram a possibilidade de acabar com a meia entrada de cinemas, museus e teatros no Brasil. 

O texto acima foi editado por Ana Luiza Sanfilippo.

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Luiza Nogueira

Casper Libero '26

Estudante de Jornalismo da Cásper Líbero apaixonada em séries, filmes e assuntos atuais importantes do cotidiano indo atrás do seu sonho!