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Ecoansiedade: o que é e a importância de um bem-estar mental em tempos de crises climáticas 

Ana Guercio Student Contributor, Casper Libero University
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter and does not reflect the views of Her Campus.

O medo do fim do mundo representa uma dor capaz de afetar o nosso corpo e, quando pensamos nas sucessivas destruições ambientais e crises climáticas, isso não é diferente. Sentir-se angustiado, preocupado e desesperado diante de desastres naturais, da morte e da extinção de espécies, além do aumento do aquecimento global, tem um nome: ecoansiedade

Segundo o Podcast Para dar nome às coisas, nomear essa mistura de sentimentos não resolve os problemas do mundo, mas ajuda a transformar nossa relação de medo diante deles. Ou seja, a chamada ecoansiedade pode ser compreendida e experimentada também por outras pessoas. A reflexão proposta ao final do episódio destaca  a importância de não fugir desse medo crônico, mas aprender a lidar com ele. 

A tranquilidade que as redes sociais não proporcionam 

Segundo uma pesquisa realizada pelo PNUD com a Universidade de Oxford e o Instituto GeoPoll, 56% das pessoas pensam nos problemas relacionados ao clima pelo menos uma vez por semana. Além disso, 53% disseram ter aumentado sua preocupação em comparação com a mesma situação no ano anterior. Vale lembrar que esse é um fenômeno mundial que afeta principalmente os jovens e tem ganhado, gradativamente, mais presença na mídia. 

Fatores psicológicos, sociais e evolutivos ligados à espécie humana nos conectam emocionalmente e criam em nós processos de identificação com outras pessoas, gerando uma resposta empática. A divulgação de imagens alarmantes sobre eventos climáticos nas redes gera essa empatia, mas, por outro lado, também constrói nos usuários sensação de impotência, estresse e frustração diante de  uma situação que foge do controle, o que gera medo e preocupação com o futuro. 

Para a psicóloga e analista junguiana Zara de Oliveira, as redes sociais funcionam como um ponto focal ao qual ficamos vidrados e superestimulados de forma em que tudo é capaz de nos afetar. Por outro lado, o uso das redes nos faz ter consciência daquilo que acontece e está acontecendo no mundo. Essa consciência cria em nós conexões com outras pessoas e mostram que todos podem ser influenciados por todos – mas isso depende do uso e da intensidade que fazemos dessas redes. 

Tais redes criam situações de urgência e perigo constantes e, quanto mais conectados a elas, mais distantes da natureza ficamos, e assim, mais ansiedade é gerada. A noção de que o fim do mundo está cada vez mais próximo torna-se real, e o medo crônico da catástrofe ambiental cresce, o que dificulta a construção de um bem estar mental. 

“A natureza é viva e também responde” 

A analista também reforça que as crises climáticas não surgiram de forma aleatória ao ser humano e a partir do momento que a nossa conexão com a natureza “deixou de existir” passamos a explorá-la. Ela ainda reforça que nos sentimos abalados diante das crises ambientais uma vez que existe uma crise interna pré-existente dentro de nós. Ou seja, a partir do momento em que deixamos de reconhecer nossas raízes e nos autonegligenciamos, nos tornamos vulneráveis e propensos a mais crises de ansiedade, por exemplo. 

“As catástrofes só reforçam essa insegurança que estou sentindo que já existia dentro de mim.”

Zara de Oliveira  

Vale lembrar que todo tipo de exploração gera uma resposta da natureza, e a ecoansiedade é um exemplo disso. Isso não se trata apenas da nossa ansiedade em relação à natureza, mas também do comportamento dela diante das explorações humanas. 

Antes de pensar em tratamentos medicamentosos, a psicóloga argumenta sobre a necessidade do contato com a natureza como um remédio eficaz para a nossa mente: “Ela é viva e ela responde e a medida que ela responde ela regenera, a medida que você se regenera você começa a ter atitudes diferentes, mais tranquilas e saudáveis em relação a você mesmo”. 

“Só aquilo que realmente somos tem o poder de curar”

O paradoxo proposto pela reflexão de Zara explica que é cultivando o que temos de melhor que conseguimos nos tornar seres vivos completos e nos desenvolver como humanos. Assim como a natureza gera frutos, também somos capazes de nos desenvolver. Quando chegamos ao estágio de desenvolvimento completo, somos capazes de nos acalmar e achar nosso rumo.  

“Quando a gente olha para a natureza e seguimos seu exemplo a gente pode fazer o espelhamento disso para a gente”

Zara Oliveira 

Para alcançar esse estágio de desenvolvimento, sintomas de angústia e ansiedade diante das crises climáticas não precisam ser descartados, mas devem ser vistos como um processo que nos fortalece e nos ensina que para lidar com a natureza, precisamos antes, aprender a lidar com nós mesmos. Psicoterapias e práticas de meditação podem ajudar nesse processo. 

“Nós não dominamos, nós fazemos parte dos ciclos, fluxos e ritmos que a natureza nos proporciona: apaziguamento sobre nós mesmos e aquilo que virá.” 

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O artigo acima foi editado por Maria Eduarda Goulart

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Ana Guercio

Casper Libero '24

Student of journalist at Cásper Líbero who likes books, environment and politics