O Holocausto é uma tragédia histórica que, mesmo em tempos atuais marcados por conflitos ao redor do mundo, não foi esquecida. Ainda desacreditado por muitos, outros continuam tentando deixar a importância de seu aprendizado em evidência na atualidade. Por isso, uma dupla de professores de uma escola particular alemã em São Paulo, junto de seus alunos de diferentes séries, montaram exposição preenchida de trabalhos feitos sobre o assunto.
De acordo com o professor de história Leonardo Nunes, um dos coordenadores do projeto, a exposição “Entre Páginas, Tintas e Malas”, do museu Unibes Cultural, é fruto de um trabalho conjunto feito por alunos do Colégio Benjamin Constant em que pinturas e montagens com fotos antigas e objetos emblemáticos retratam os horrores do Holocausto enfrentado pelos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Este pequeno acervo conta com dezoito pinturas feitas pelos alunos, transitando por vários âmbitos do mesmo tema. Desde os soldados até o cenário de um campo de concentração, mais de dez malas com reproduções de itens e símbolos da época, fotos de vítimas com QR Codes que detalham mais informações sobre cada uma e até um pequeno trilho de trem ao centro com nomes de campos de concentração construídos na época.
Apesar da delicadeza do tema que tais artes retratam, é uma montagem que vale a pena ser visitada. Não apenas pela forte história que carrega, mas pela memória de lições valiosas que não podem jamais ser esquecidas pela humanidade.
Leonardo Nunes contou com exclusividade à Her Campus Cásper Líbero como foi o processo de produção com os alunos e o impacto educacional gerado a partir da iniciativa. Confira a entrevista na íntegra:
1. Quem participou da concepção do projeto?
“Esse trabalho foi feito em duas etapas. A primeira envolveu os alunos que estavam no nono ano e, atualmente, estão no segundo ano do ensino médio. Eles confeccionaram quadros a partir da leitura de livros que retratavam o Holocausto. Esses livros deveriam ‘virar tintas’, ou seja, se transformar em inspiração para as pinturas. Por isso, o nome inicial do projeto era Entre Páginas e Tintas.
A concepção partiu dessa ideia inicial. Posteriormente, os alunos do sétimo ano – hoje no oitavo – selecionaram o livro A Mala de Hana e confeccionaram malas como forma de representar e contar um pouco da história do Holocausto. Assim, a concepção do projeto foi construída com base nessas duas iniciativas.”
2. Os alunos participaram ativamente da produção?
“Sim, todos os trabalhos foram idealizados e confeccionados por eles — desde as ideias iniciais, a organização, até a compra das telas e tintas. Nós, professores, apenas coordenamos de maneira muito superficial, revisando o conteúdo para evitar erros cronológicos ou conceituais que pudessem comprometer a proposta pedagógica. No mais, tudo foi feito pelos próprios alunos, que se organizaram para tornar o projeto possível.”
3. Qual foi a principal mensagem que quiseram transmitir com a exposição?
“Acreditamos que seria interessante pensar essa exposição a partir de múltiplos ângulos e prismas. De um lado, há o projeto pedagógico em seu sentido mais direto: traçar conhecimentos e conteúdos para que os alunos se apropriem deles. Mas, por outro lado, queríamos algo mais humano — um projeto que permitisse aos alunos se conectarem com o passado e com o presente, por meio de uma experiência significativa.
O intuito foi aproximar essas vivências através de histórias reais de sobreviventes do Holocausto, alguns ainda vivos e morando no Brasil. Esses alunos tiveram a chance de conhecer essas narrativas e transformá-las em quadros. Foi uma troca muito profunda. Como professores, sentimos que os alunos retribuíram esse aprendizado com carinho e sensibilidade diante dessas histórias tão bonitas de sobrevivência e existência humana.
A grande mensagem do projeto é: não esquecer. É preciso manter viva a memória de uma das maiores atrocidades cometidas pela humanidade. Nosso objetivo era também conectar os alunos ao passado e ao presente de maneira sensível, através da arte como meio de expressão e reflexão.”
4. Quais dificuldades enfrentaram para desenvolver o projeto?
“Enfrentamos muitas dificuldades. O processo foi bastante burocrático, especialmente por envolver museus, que exigem um nível elevado de organização. Tivemos que pensar em tudo: legendas, como montar a exposição, onde colocar os quadros, a quantidade ideal, a melhor disposição… É um desafio grande, mas compreensível.
Apesar dessas barreiras, nada é impossível de ser superado com organização e diálogo. Todo projeto está sujeito a dificuldades, especialmente um que será apresentado em museus grandes, como os da universidade. Por isso, é importante considerar que ele trará desafios relevantes, mas os principais obstáculos estão nos processos burocráticos entre a escola e os museus.”
5. Qual foi a principal inspiração para realizarem o projeto?
“A inspiração veio da forma como eu e o Rodrigo [também professor coordenador do projeto] pensamos a educação. Acreditamos que o processo educacional não deve ser apenas conteudista ou enciclopedista — não é sobre decorar informações e declarar dados. Queríamos que essa exposição fosse uma experiência transformadora, que atravessasse os alunos em sua dimensão humana e existencial.
Nosso objetivo era promover uma formação que ultrapassasse o conteúdo em si, permitindo que o estudante fosse impactado em diferentes camadas da sua existência. A arte teve um papel essencial nisso: ela permitiu que os alunos expressassem seus sentimentos e conhecimentos de maneira sensível, seja pelos quadros, seja pelas malas. Assim, eles puderam transformar aprendizado em emoção e memória viva.”
“Entre Páginas, Tintas e Malas”
Data: Até dia 29 de junho
Funcionamento: terça a sábado, das 12h às 20h
Local: Unibes Cultural (R. Oscar Freire, 2500 – São Paulo)
Ingresso: Entrada gratuita
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O artigo acima foi editado por Giulia El Houssami.
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