Em um ano em que discutir mulheres na arte virou quase obrigatório, Cyclone chega aos cinemas neste 03 de dezembro trazendo uma protagonista que viveu essa pauta antes que ela tivesse nome.
Selecionado para a 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme dirigido por Flavia Castro revisita a capital paulista dos anos 1920 para contar a história de uma jovem dramaturga que tenta conquistar o direito de assinar sua própria voz.
Uma protagonista que trabalha, sonha e luta ao mesmo tempo
A personagem vivida por Luiza Mariani é uma operária que passa o dia em uma gráfica, sustenta a família, estuda quando dá e escreve peças escondida. Quando ela ganha uma bolsa para estudar teatro em Paris, parece que finalmente alguma coisa vai dar certo.
Só que não… O maior obstáculo não é a distância, e sim o próprio mundo ao redor, um Brasil onde as mulheres ainda nem eram donas do próprio corpo, muito menos da própria arte. É uma história que acontece há mais de cem anos, mas que soa perigosamente atual.
A trama se inspira na escritora Maria de Lourdes Castro Pontes, conhecida como Miss Cyclone, única mulher do grupo ligado a Oswald de Andrade nos anos 1910. Ao invés de seguir sua biografia ao pé da letra, o filme transforma essa figura histórica em uma ficção potente, construída por mulheres que conhecem bem o que significa batalhar por espaço na cultura.
Luiza Mariani interpreta a personagem há duas décadas no teatro e agora leva o projeto para as telas como atriz, produtora e colaboradora de roteiro. É literalmente uma história de insistência feminina dentro e fora da ficção.
A São Paulo dos anos 1920 como personagem viva
Filmado em locações reais, como o Theatro Municipal, Cyclone cria um retrato da cidade em um momento de efervescência artística e tensão social. Figurinos, fotografia e ambientação ajudam a transportar o público para uma São Paulo que estava descobrindo a própria modernidade.
Durante a pré-estreia do filme, Eduardo Moscovis, que interpreta um diretor de teatro, contou em entrevista com a Her Campus Cásper Líbero como a sua imersão foi imediata. “A gente tem sempre uma ajuda para entrar e chegar nesse lugar. Tem o figurino, tem a ambientação, tem o lugar.”, comentou o ator. Ele explicou que estar vestido nos figurinos e época, estudando a época, e atuando dentro do próprio Theatro Municipal, fica tudo mais fácil.
A cidade que aparece no filme é histórica, mas também muito reconhecível, cheia de energia, disputas e transformações.
Um filme que volta ao passado para cutucar o presente
Cyclone acompanha uma mulher que só queria escrever, mas vivia num mundo que fazia de tudo para impedir. E, talvez por isso, o filme converse tanto com 2025. Lembra que a arte sempre foi um campo político e que, quando uma mulher tenta existir como artista, ela está enfrentando camadas de limitações que não nasceram ontem.
Durante a pré-estreia, a diretora Flávia Castro também contou à Her Campus Cásper Líbero como esses obstáculos eram ainda mais profundos na São Paulo dos anos 1920. Ela destacou que a Miss Cyclone, na vida real, precisava pedir autorização ao ex-marido para viajar, mesmo sendo divorciada, em uma época em que o divórcio já era visto com desconfiança e autonomia feminina era rigidamente controlada.
Para Flávia, esse detalhe revela uma estrutura social que transformava a vida das mulheres em uma negociação constante, e que o filme expõe justamente para mostrar como essas dinâmicas continuam ecoando hoje. Depois de passar pelos festivais de Xangai, Munique e pelo Festival do Rio, Cyclone estreia nos cinemas brasileiros em 03 de dezembro, com distribuição da Bretz Films.
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O artigo acima foi editado por Clara Rocha.
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