Há algo admirável em séries que conseguem sobreviver às próprias repetições. Only Murders in the Building, que estreou em 2021 como uma sátira ao boom dos podcasts de true crime, chega à quinta temporada sem trair sua essência: uma comédia de mistério elegante, ambientada entre os corredores excêntricos do edifício Arconia, em Nova York. E, ao contrário do que se poderia imaginar, o desgaste não chega. Ele amadurece.
Logo nos primeiros episódios, a série mostra que aprendeu a dominar o tom da narrativa. O ritmo é mais calmo, o humor mais refinado e o mistério, ainda que absurdo em premissa, encontra emoção em um novo centro narrativo: o porteiro Lester. Personagem secundário desde o início, ele agora ocupa o protagonismo e dá à temporada um tom de melancolia e nostalgia.
A história começa de onde parou a quarta temporada, com a morte de Lester no pátio do Arconia. O que foi classificado como um acidente fatal se transforma em um enredo de segredos, heranças e crimes ligados à máfia nova-iorquina e a bilionários que usam o dinheiro para controlar silenciosamente parte da cidade. O crime funciona como gancho para o resto dos episódios.
O segundo episódio é o coração emocional da temporada. Em uma estrutura quase antológica, acompanhamos a trajetória de Lester desde o início da vida adulta. Sonhador, ele queria ser ator, mas acabou aceitando um emprego temporário como porteiro até “as coisas acontecerem”.
As tais coisas nunca aconteceram e a carreira na atuação não deu certo, mas tudo ficou bem, pois ele se acabou se apaixonando pelo condomínio, pelos moradores e pela Lorraine. O Arconia virou seu palco e os moradores seu público diário. Entre sonhos frustrados, um casamento e uma tentativa falha de aposentadoria, ele se torna o elo entre a velha e nova Nova York.
Essa abordagem mais íntima é uma das grandes pontos altos da temporada. Ao dar luz a um personagem secundário, a série fala sobre o tempo, sobre as vidas comuns e seus segredos. Há uma nostalgia que paira em cada cena, mas ela nunca pesa: pelo contrário, traz leveza.
Enquanto isso, o trio principal continua conduzindo a narrativa. Charles (Steve Martin), Oliver (Martin Short) e Mabel (Selena Gomez) seguem com a mesma química irresistível, de um trio improvável que, a essa altura, já funciona como família. Eles erram pistas, discutem teorias, se metem em confusões absurdas, mas nunca perdem o timing do humor. A série se mantém engraçada pela naturalidade com que esses personagens reagem ao caos.
Os roteiristas também demonstram domínio sobre a própria fórmula, sabendo que o público já reconhece os padrões e brincam com isso. Há momentos em que o roteiro parece rir de si mesmo, especialmente quando personagens comentam o excesso de assassinatos no prédio ou a coincidência de sempre haver uma temporada nova de podcast após cada crime.
Visualmente, a 5ª temporada é um retorno ao clássico. Nova York volta a ser protagonista: os planos abertos da cidade, os cafés lotados, os becos iluminados por neon e as fachadas do Arconia dão um ar cinematográfico ao cotidiano. A direção de arte aposta em tons mais frios e sofisticados, sugerindo um amadurecimento, tanto da série quanto dos personagens.
Ainda assim, há espaço para críticas. A estrutura episódica continua previsível: o crime, as pistas falsas, as reviravoltas e a revelação final seguem o mesmo molde das temporadas anteriores. Para alguns, isso pode soar repetitivo, mas, para outros, é justamente aí que está o encanto. Only Murders sabe o que é e não tenta fingir que é outra coisa.
O final, como sempre, amarra o mistério com ironia. As esposas dos falecidos se unem em uma última reviravolta que mistura tragédia e comédia e o trio encerra a temporada com uma sensação de círculo completo. Nada realmente termina no Arconia, apenas muda de andar.
No fim das contas, Only Murders in the Building é sim uma série sobre crimes, mas também charmosa, espirituosa e surpreendentemente emocional. A 5ª temporada é uma aula sobre como envelhecer bem, e termina preparando o terreno para a sexta temporada, que já está confirmada.
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O artigo acima foi editado por Olivia Nogueira.
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