Her Campus Logo Her Campus Logo
Casper Libero | Culture > News

Água e Esgoto para Todos: A luta pela universalização do saneamento no Brasil

Her Campus Placeholder Avatar
Julia Vargas Ramires Student Contributor, Casper Libero University
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter and does not reflect the views of Her Campus.

O Dia Mundial da Água, 22 de março, foi criado pela ONU – Organização das Nações Unidas e nos convida a refletir sobre a conservação e o desenvolvimento dos recursos hídricos. No Brasil, o acesso ao saneamento básico ainda é um desafio para milhões de pessoas, impactando diretamente a saúde pública e o meio ambiente. 

Um exemplo disso é que ainda hoje milhões de litros de esgoto sem tratamento são despejados na natureza, contaminando rios, solos e aquíferos. Esse volume corresponde diariamente a mais de 5,2 mil piscinas olímpicas, segundo o Instituto Trata Brasil, comprometendo diretamente nossas fontes de recursos hídricos, principalmente nos grandes centros.

O novo Marco Legal do Saneamento instituiu em 2020, com a promulgação da lei 14.026/2020, regulamentos para alcançar a universalização do saneamento básico até 2033, com uma meta ambiciosa de atendimento de 99% da população com água potável e de 90% de coleta e tratamento de esgoto. 

Entretanto, em 2025, ainda estamos muito longe de chegar a esse resultado. Esse problema persiste mesmo com a existência da Lei 11.445/07, que prevê o saneamento básico como um direito fundamental, evidenciando a necessidade de investimentos e políticas públicas mais eficazes para garantir a universalização do saneamento.

A superação dos desafios é fundamental para assegurar que o direito ao acesso à água potável, a coleta e ao tratamento adequado de esgoto se traduzam em benefícios concretos para a saúde, o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental em todo o país.

A falta de acesso à água e suas consequências

Karla Bertocco Trindade, especialista em infraestrutura e saneamento básico e presidente do Conselho de Administração da Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, comenta que, no Brasil, 30 milhões de pessoas não têm acesso regular à água potável, e 90 milhões vivem sem coleta e tratamento de esgoto, afetando principalmente a população mais vulnerável. 

A falta de saneamento causa cerca de 11 mil mortes anuais, sobretudo entre crianças e idosos, devido a doenças de veiculação hídrica, como desidratação, doença de Chagas, diarreia e hepatite. Karla também destaca que o impacto sobre as mulheres é ainda mais severo: a ausência de infraestrutura adequada dificulta a higiene menstrual e sobrecarrega mulheres que precisam faltar ao trabalho para cuidar de filhos doentes, reduzindo suas oportunidades de renda. 

A universalização do saneamento no território brasileiro se mostra como uma questão de justiça social. Karla conclui que melhorar o saneamento básico tem um impacto direto na vida das pessoas, especialmente das mulheres e crianças em situações vulneráveis. 

Com melhores condições, as mulheres poderiam se integrar mais ao mercado de trabalho, sem tantas faltas devido a problemas familiares causados pela falta de infraestrutura e as crianças também teriam um desempenho escolar melhor, o que abriria portas para um futuro com mais oportunidades. Além disso, a redução de doenças e gastos com saúde contribui para uma vida mais digna e mais oportunidades para todos.

Para garantir a ampliação do saneamento no Brasil é essencial a superação de desafios significativos, que vão além da parte técnica e envolvem questões estruturais e financeiras. A complexidade desse processo desacelera o avanço dos serviços no território brasileiro e dificulta o alcance das metas estabelecidas pelo Novo Marco Legal do Saneamento. 

A redução de doenças e gastos com saúde contribui para uma vida mais digna e mais oportunidades para todos.

Os investimentos em água e esgotamento sanitário, segundo o Diagnóstico Temático Serviços de Água e Esgoto disponível no SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, totalizaram R$22,5 bilhões em 2022, representando um aumento de 30% em relação a 2021.

No entanto, esse valor é insuficiente em relação ao investimento total necessário para a universalização do saneamento estabelecido pelo PLANSAB – Plano Nacional de Saneamento Básico, a preços de 2021, o total estimado seriam R$598 bilhões, o que exigiria uma média anual de R$ 46 bilhões. 

Os desafios

Nesse cenário, Karla Bertocco pontua que os desafios no saneamento são mais financeiros e estruturais do que técnicos. O Brasil depende do capital privado, que exige segurança jurídica e projetos com retorno, o que é difícil com as altas taxas de juros. Além disso, os municípios, com estrutura limitada, enfrentam dificuldades para gerenciar o saneamento e implementar projetos como PPPs – Parceria Público Privada e Concessões Públicas.

A evolução desse setor não envolve apenas a superação dos desafios estruturais e financeiros, mas também depende da criação de normas regulatórias para a mensuração dos resultados diante da implementação de novas práticas. Questionada sobre suas expectativas para os próximos anos, Karla respondeu: 

“Com o Novo Marco Legal do Saneamento, em 2020, a ANA, antiga Agência Nacional De Águas, passou a ser a Agência Nacional de Águas e Saneamento, responsável por criar normas para o setor. A expectativa é que essas normas sejam implementadas pelas agências locais, permitindo a comparação dos resultados e avançando na universalização dos serviços. Atualmente, o acompanhamento é feito por sistemas de informação, como o SINISA, mas a mudança real virá com a certificação dos dados pelas agências locais nos próximos anos.”

A capacitação de profissionais é outro desafio para a expansão e manutenção dos sistemas de saneamento no Brasil. Com o aumento expressivo dos investimentos no setor, a demanda por técnicos qualificados cresce, tornando essencial a formação de mão de obra especializada para garantir a execução dos projetos. Karla observa que o aumento significativo dos investimentos em saneamento desde 2020 tem revelado a falta de preparo na cadeia de suprimentos do Brasil. 

Ela destaca, por exemplo, que com a Sabesp dobrando seu CAPEX (investimento de capital) e os investimentos saltando de R$ 6 bilhões em 2024 para cerca de R$ 15 bilhões em 2025, há uma demanda crescente por materiais, equipamentos e mão de obra qualificada. Com a crescente demanda a indústria pode não atender plenamente, principalmente as regiões fora dos grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, que concentram a maior parte do mercado de serviços e equipamentos e projetam grandes investimentos. Sem técnicos suficientes, alguns projetos podem ser inviabilizados, tornando a capacitação profissional essencial na garantia da execução dos investimentos previstos até a universalização do saneamento em 2033.

Karla aponta que o principal indicador para acompanhar a universalização do saneamento deve ser o número de residências conectadas às redes de água e esgoto, com seus indicadores acompanhados anualmente, verificando o avanço nas conexões e a funcionalidade das redes. Além disso, é crucial monitorar, diariamente, a qualidade e regularidade dos serviços de água, coleta e tratamento do esgoto, garantindo que atendam às especificações necessárias. 

Também é importante observar o volume de investimentos e se eles estão sendo aplicados adequadamente. A meta ideal seria comparar os resultados com os indicadores previstos nos contratos, como o percentual da população conectada em determinado ano. Outros indicadores, como a redução de perdas e a pressão da rede, são relevantes, mas o foco inicial deve ser a conectividade e a qualidade dos serviços.

O acesso universal ao saneamento básico é um fator determinante para a qualidade de vida da população, pois reduz a incidência de doenças, melhora as condições sanitárias e contribui para a preservação ambiental. Além dos benefícios diretos à saúde pública, a ampliação dos serviços de água e esgoto promove maior inclusão social, permitindo que comunidades vulneráveis tenham acesso a condições dignas de moradia e higiene. 

Com um planejamento integrado e ações efetivas, o Brasil pode garantir o cumprimento da Lei 11.445/07, reduzindo desigualdades e promovendo um futuro mais saudável e sustentável.

👯‍♀️ Related: Unpacking the Past: The Evolution of Cigarette Packaging and the Debate on Free Speech or Public Health in Tobacco and Nicotine Advertising.

__________

O artigo acima foi editado por Clara Rocha.

Gostou desse tipo de conteúdo? Confira a página inicial da Her Campus Cásper Líbero para mais!

Her Campus Placeholder Avatar
Julia Vargas Ramires

Casper Libero '28

Sou técnica em Administração de Empresas, mas sempre fui movida pela curiosidade e pelo desejo de aprender coisas novas. Gosto de entender como os processos funcionam e encontrar formas de torná-los mais organizados e eficientes. Minha fluência em inglês me permite acessar diferentes conteúdos e me conectar com novas ideias, o que amplia ainda mais meu olhar sobre o mundo.

Desde pequena, a leitura e a escrita fazem parte da minha vida. Sempre fui aquela pessoa que anda com um livro na bolsa e um caderno cheio de anotações. Escrever, para mim, é uma forma de organizar pensamentos, contar histórias e dar voz a diferentes perspectivas. Esse amor pelas palavras me levou a ingressar no curso de Jornalismo, onde estou descobrindo novas maneiras de comunicar e transformar ideias em conteúdo.