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Casper Libero | Career

“Você é jornalista, 24 horas. Está na nossa veia.”: Ellen Nogueira e uma vida de jornalismo

Olivia Nogueira Student Contributor, Casper Libero University
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter and does not reflect the views of Her Campus.

O jornalismo é muitas coisas. É serviço, crítica, análise e informação. É “sujar os sapatos”, falar com a fonte, escutar o povo e presenciar a história. Para Ellen Nogueira, chefe de redação da CNN Brasil e professora da Cásper Líbero, o jornalismo é vocação.

O começo de tudo

Desde criança, Ellen sabia que queria ser jornalista, mas, com nove anos de idade, teve a certeza de que a profissão poderia mudar vidas. O pai dela ficou muito doente e os médicos não conseguiam chegar a um diagnóstico, mas quando leu uma reportagem na Folha de São Paulo sobre a descoberta de uma nova doença, percebeu que o que estava descrito lá eram os mesmos sintomas do pai. Por causa do achado da filha, ele conseguiu receber tratamento médico e ganhou mais anos de vida e convivência com a família.  

Ela sempre quis estudar na Cásper e no primeiro ano de faculdade começou a trabalhar na Fundação Cásper Líbero. Ao longo de sua carreira, passou também pela TV Gazeta e pelo jornal Notícias Populares. Em 2000, ingressou no grupo Folha de São Paulo, onde atuou como repórter e editora de economia, no Agora São Paulo, até 2009, quando foi para a TV Globo. Na emissora, foi produtora sênior do Jornal Nacional e chefiou a produção do Fantástico. Em 2019, embarcou no que considera ter sido “o maior desafio que enfrentou”: integrar o time responsável por lançar a CNN Brasil.

A rotina maluca

Acompanhando Ellen por apenas algumas horas dentro da redação já é possível perceber um pouco do (agitadíssimo) dia a dia da profissional. Nos primeiros 15 minutos, cinco pessoas vieram consultá-la sobre diferentes assuntos. Ao seu redor, as TVs permanecem ligadas o tempo todo, para que ela possa acompanhar a programação de diferentes canais (e se preciso, pode falar diretamente com a sala de controle, o switcher). Enquanto isso, a comunicação através do digital também não para: mais de 200 notificações no WhatsApp e milhares no e-mail corporativo, que ela tenta ler integralmente.

A parte mais difícil da rotina? Lidar com a vida pessoal. “A gente que gosta dessa loucura, é meio viciante, a todo momento você está atrás de notícia. Eu me sinto sempre ligada ao jornalismo, mesmo em momentos de lazer”. Ellen tem duas filhas (que já disseram que a mãe trabalha demais!), de oito e 12 anos, um gato, uma gata, uma cachorra e outros lados da vida pessoal. “O maior desafio é conciliar tudo. Eu concilio, mas as coisas se misturam, você é jornalista, 24 horas, não tem jeito.”

“A gente nunca deixa de ser repórter” 

Em meio a essa rotina que não para, sobra pouco tempo para exercer o que, para muitos, é ‘a alma do jornalismo’: a reportagem. Mas ela faz questão de esclarecer que a realidade não é bem assim. “Eu sinto falta, mas acho que a gente nunca deixa de ser repórter. Ser repórter é encontrar o que chama atenção e escrever sobre aquilo, e isso a gente faz diariamente. Qualquer jornalista que gosta do breaking news, da notícia, do hard news, nunca deixa de ser repórter.”  

A escrita, no entanto, dá saudade. Sua página como autora no site da CNN Brasil tem poucos exemplares, mas é possível perceber uma semelhança entre praticamente todos os textos: falam sobre assuntos caros à vida pessoal da jornalista. Seu último texto, de setembro de 2024, é sobre uma de suas paixões: as bandas de rock, em especial, Engenheiros do Hawaii.

“Sou muito fã, sou amiga da banda. Tenho muito orgulho deles e quando vou nos shows é uma coisa que me faz bem e acho que eu posso escrever de uma maneira que outras pessoas também gostam, uma coisa mais pessoal”, explica a jornalista.

Situações difíceis e o encontro com um ícone 

Em mais de duas décadas de profissão, Ellen já passou por inúmeros momentos únicos e inesperados, mas existe um tipo específico de situação que ainda é surpreendente. “Quando a gente tem que se proteger como jornalista, seja por um protesto que a gente tem que ir e tem que esconder a canopla, nossa marca, pra que o jornalista fique seguro. Acontece rotineiramente.”

Ela relata que passou por isso durante as eleições presidenciais de 2018, quando foi às ruas para cobrir manifestações do segundo turno. A equipe teve que esconder os símbolos da TV nos equipamentos.

“Às vezes, as pessoas olham para o jornalista achando que ele não concorda com o ponto de vista delas. Não estou falando nem de direita e esquerda, isso acontece em tudo. Mas o jornalista está lá para mostrar o fato”.

O contato com a fonte também é um dos maiores desafios da profissão e Ellen tem uma história mais do que especial. “Entrevistar o Pelé foi mágico. Ter acesso a um ídolo brasileiro daquela maneira, ver como ele estava, entrar na casa dele. Foi muito maravilhoso e deu muito certo.” Mas nem tudo foi fácil… “A gente teve uma saia justa por perguntas que ele não se sentiu muito à vontade e a gente estava na casa dele.”  

“É normal no jornalismo ter que saber lidar com a fonte. Ela nos ajuda com a informação, esse exercício é diário. Respeito, imparcialidade, que é o que a gente tem que usar como base e mostrar que estamos do lado da fonte, não importa qual lado ela esteja e nem a gente, e empatia. Aí você consegue, numa saia justa, com jogo de cintura, lidar com algumas situações que ocorrem rotineiramente na profissão”, ensina a jornalista.

A relação com Abílio Diniz

Nos últimos anos, Ellen viveu o que considera ter sido um dos momentos mais especiais da carreira, quando pôde conviver e trabalhar diretamente com Abílio Diniz, administrador e empresário que fundou o Grupo Pão de Açúcar.  

“Uma das coisas que mais gostei de fazer foi ter dirigido o programa dele. Eu vi tanta vitalidade, aprendi tanto. Ele sempre dizia que a gente tem que ser feliz, primeiro de tudo, [depois] aprender e compartilhar, então eu peguei isso para minha vida.” Ela foi responsável pelo programa Caminhos, que durou dois anos e teve três temporadas, entrevistando políticos, empresários e juristas importantes do Brasil, como Gilmar Mendes, Rodrigo Pacheco, Luiza Trajano, Geraldo Alckmin, entre outros.

“Estar junto com o Abílio fazendo essas entrevistas com pessoas que mudavam o país, com as histórias dele, foi super emocionante pra mim. Ele me ensinou muito em termos de gestão. A importância de aprender com os outros e compartilhar esse conhecimento, acho que mudou minha vida.”

Erros e arrependimentos

Porém, uma carreira tão rica e singular não foi construída somente com bons momentos e decisões acertadas. “Já cometi erros e eles me ensinaram muito. Em alguns casos, me arrependo de não ter ouvido mais uma pessoa para verificar a informação e isso gera, por exemplo, um ‘erramos’. Lá atrás isso me ensinou: desconfie sempre, mesmo que seja de alguém que você confia muito”.  

Lidar com erros no jornalismo não é fácil, mas a profissional reflete que o importante é estar atento e pensar o que pode ser aprendido com eles. “É natural, vai estar lá em você. Os erros formam uma casca. Na próxima vez, você vai agir de maneira diferente. Faz parte da profissão, mas é quando acontece que você para, olha e fala ‘poderia ter agido de maneira diferente’ é um alerta pra que você fique melhor e amadurecido. É um processo interno que vai te fazer melhorar e lá na frente vai entender”.  

A fé no jornalismo, o futuro e o orgulho da profissão

Conversando com Ellen, é possível não só ver, mas sentir o amor dela pelo jornalismo. “Quero continuar achando as notícias, dando furos, fazendo com que as pessoas se interessem pelo que a gente dá, pelo que a gente vai atrás”. Dentro das redações há pouco mais de 25 anos, a profissão continua sendo fonte de alegrias e muita satisfação. 

E ela fala o que ainda a motiva. “Quando a gente consegue algo que ninguém tem, porque eu vejo o esforço de algum jornalista em caçar uma fonte, em ser incansável para conseguir uma informação, isso ainda me dá muita fé no que a gente faz. Uma grande cobertura e você vê todo mundo se esforçando junto pra deixar alguma coisa redonda mesmo, cheia de informação, de análise, com qualidade, com profundidade… é o que dá brilho nos olhos. E quando eu vejo outras gerações chegando”.

Foi pensando nesses novos profissionais que ela deu um novo passo e tornou-se professora da graduação da Cásper Líbero em 2025. “É uma conexão direta, estou gostando muito”. Quatro dias por semana ela compartilha suas experiências e conhecimento com os alunos, além de também aprender com eles.

“Eu tenho orgulho de ser jornalista. Orgulho daquela menina lá atrás que queria ser jornalista porque achava que o jornalismo ia salvar o mundo. De não duvidar disso e ainda achar a mesma coisa. Algumas pessoas não acham que vale a pena e eu entendo. Talvez os feriados, os finais de semana, as horas, o sono que a gente perde com o jornalismo. Eu acreditei que valia a pena. Cansa, às vezes você fala ‘Meu Deus’, mas tá na nossa veia, é nosso sangue correndo, não tem o que fazer.”

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O artigo acima foi editado por Beatriz Martins.

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Olivia Nogueira

Casper Libero '26

Brazilian journalism student who loves to talk about music, books, TV shows and Formula One.