A nova produção da Netflix, lançada dia 14 de março, tinha uma expectativa tão alta quanto o seu custo de produção, que foi cerca de 320 milhões de dólares, tornando este o filme mais caro da plataforma.
Com um elenco e diretores de peso, era de se esperar uma produção digna das telonas. No entanto, apesar de ser uma belíssima produção visual e ter alguns momentos de glória ao longo de suas duas horas e oito minutos de duração, o filme dirigido pelos irmãos Joe e Anthony Russo torna-se mais uma obra com muitas frases de efeito, e pouco impacto.
Sobre o que é o filme?
A história se passa entre as décadas de 80 e 90 em um mundo pós-guerra entre humanos e robôs. Nela, acompanhamos Michelle Greene – interpretada por Millie Bobby Brown – que encontra um robozinho amarelo e carismático após ter sua casa invadida.
Juntos, a garota e o robô saem numa missão pelo deserto dos Estados Unidos acompanhada por um mercenário sarcástico chamado Keats – interpretado por Chris Pratt – e seu parceiro robô, Herman, igualmente sarcástico, porém mais divertido.
Nesta jornada, Michelle parte para encontrar seu irmão que, de alguma forma, sobreviveu ao acidente sofrido pela família, e está controlando o robô que protagoniza seu desenho favorito de infância, Kid Cosmo.
O filme é baseado no livro de mesmo nome, belamente ilustrado por Simon Stalenhag, um artista sueco que traz este universo onde, após anos de exploração, as máquinas que antes nos obedeciam se rebelam, exigindo seus direitos.
A premissa é muito interessante, mas poderia ter sido melhor aproveitado pelo longa. Embora repleto de cenas de ação bem feitas e bem divertidas de assistir, um CGI realmente bom, e uma estética que chega perto da obra original, o que faltou para chegar perto de ser uma boa representação?
O que faltou em Eletric State?
As obras de Stalenhag não são apenas imagens estéticamente agradáveis. Possuem uma profundidade crítica, melancólica e intensa que provocam o pensamento sobre a dependência da tecnologia em nosso cotidiano, tudo isso sem adotar o tom moralista e repetitivo do discurso de vó “na minha época não tinha nada disso de internet”.
Simon imersivamente trabalha esse mundo triste e retro futurista trazendo um ar desolador e inquietante, causando um frio na espinha com qualquer imagem que produz.
No filme, a atmosfera da inspiração original luta por atenção em meio a uma tentativa desesperada de criar uma frase de efeito, uma linha engraçada ou um momento marcante que traga retorno para o valor investido e infelizmente, perde força.
A beleza e a qualidade das cenas de ação não são suficientes para disfarçar o quão vazio o filme é. Tampouco são suficientes para nos fazer ignorar os acontecimentos previsíveis e a falta de evolução dos personagens trazem ao filme um aspecto trivial e pouco original, como se apenas houvesse reciclado os tropos de outras histórias e arquétipos de personagens de sucesso.
O roteiro mostra-se como um checklist de acontecimentos, acompanhado de um humor que é típico dos diretores. O modelo, às vezes eficaz para outros filmes de suas carreiras, neste torna-se barulhento, e atropela os silêncios muitas vezes exigidos pelo visual, inibindo as emoções do telespectador, empacando a fluidez de temáticas mais profundas em quase todos os momentos da obra.
A ineficácia do molde torna-o um filme indigno de ser considerado um blockbuster? Pelo contrário. Mas também não o permite ser mais, tornando a nova aposta da Netflix mais uma das milhares de produções de streaming para assistir sem prestar muita atenção, ou seja, filmes que mais são pensados para vender do que para trazer algo de fato inovador.
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O texto acima foi editado por Eduarda Lessa.
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