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Solidariedade Em Meio à Pandemia: Como Estão as Favelas Brasileiras Durante o Isolamento Social?

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

O Data Favela e o Instituto Locomotiva realizaram em março deste ano a pesquisa “Mães da Favela”, constatando que em pouco tempo de isolamento social – a quarentena começou no dia 24 – os efeitos para a população menos beneficiada do país já eram preocupantes. De acordo com a pesquisa, as favelas brasileiras contam com cerca de 5,2 milhões de mães, das quais 72% afirmam que a alimentação de sua família ficará prejudicada pela ausência de renda, durante o isolamento indicado por conta da pandemia do coronavírus. Se não trabalharem, mesmo que por um dia, 73% dizem não ter poupança que permita não prejudicar os gastos. Com um mês de isolamento, 92% afirmam que terão dificuldade para comprar comida. Oito a cada dez relatam que a renda caiu por causa do coronavírus no mês de março, e 76% constatam que, com os filhos em casa sem ir para a escola, as despesas em casa aumentaram.

A incerteza sobre a possibilidade de conseguir alimentar a família é apenas um dos fatores que afetam a saúde da população que reside em favelas. Como se manter protegido do vírus em casas que não recebem tratamento de água e esgoto municipais? A questão é de saúde pública, mas no Brasil o coronavírus chamou a atenção para gestões que mantém precárias medidas de higiene em espaços públicos e projetos voltados para as favelas longe das prioridades. 

Diante de vários questionamentos sobre o Auxílio Emergencial, falta de leitos, gestão perdida em egos e trocas de ministros, a solidariedade privada se faz mais do que necessária. Diversas iniciativas têm se esforçado para providenciar materiais de higiene, alimentos e máscaras de proteção para a população residente de favelas.

Banco da Providência

O Banco da Providência, por exemplo, se uniu ao Instituto PHI e Instituto Ekloos para criar o riocontracorona.org. A iniciativa faz parte do projeto União Rio, o qual já distribuiu mais de 800 toneladas de alimento, quase 300 mil litros de materiais voltados para higiene e limpeza, beneficiando 70 mil famílias cariocas em 179 comunidades.

De acordo com Clarice Linhares, superintendente do Banco da Providência, a iniciativa começou em 2003 com o Programa de Inclusão Social de Famílias: “O objetivo é capacitar famílias que vivem em situação de pobreza extrema para o trabalho e geração de renda. Dependendo dos recursos, beneficiamos cerca de 600 famílias por ano”.

Linhares conta que o projeto possui colaboração de 60 agentes comunitários que acompanham os adeptos ao programa: “São pessoas que conhecem as famílias, moram nas comunidades e fazem um trabalho importantíssimo em apoio às assistentes sociais”.

Diante da pandemia, o projeto voltou todos os seus esforços à captação de recursos, contando com o apoio de doações dos “Amigos do Banco”. “As pessoas podem contribuir mensalmente com nossos projetos, é só entrar na nossa página e definir no que investir, temos valores adequados a todos os bolsos, assim muita gente consegue ajudar”, afirma Linhares.

Cufa Minas

A Central Única das Favelas (Cufa Minas), que tem como objetivo criar estratégias para tentar conter o avanço do COVID-19. Juntando os líderes das comunidade, o CUFA faz um mapeamento das famílias vulneráveis, repassam dicas de higienização e buscam alimentos para suprir as necessidades das pessoas. 

Uma das principais ações em Minas é coordenada pela Cufa Minas, tendo como meta abastecer, com artigos de higiene e alimentos, aproximadamente três mil famílias em 150 favelas. “As ações são importantes para  que as pessoas tenham condições de permanecer em casa. Elas precisam ter comida e condições higiênicas para se prevenir.”, afirma Francis Henrique, presidente da Cufa Minas, em entrevista exclusiva ao portal O Estado de Minas.

Como as ações de solidariedade são realizadas por instituições diferentes, o Cufa tem conseguido unir as várias lideranças para unificar a lista das famílias beneficiadas. O presidente da Associação do Aglomerado Santa Lúcia, Dan Carvalho, conta que estruturou uma rede de parceria junto com a Escola Estadual Dona Augusta para realizar as distribuições. “Estamos fazendo essa rede para que a distribuição fique justa, para que uma família ganhe duas cestas básicas num mês, enquanto a outra não ganha nada. (…) Todas essas lideranças têm responsabilidade suficiente para mostrar que aqui ninguém vai morrer de fome.”, afirma ele, também em entrevista ao site.

No entanto, principalmente em tempos turbulentos, todas essas iniciativas trazem consigo um espírito de comunidade e empatia. Jhutay Nogueira, por exemplo, participa há mais de 22 anos de projetos de solidariedade no Morro das Pedras, em Belo Horizonte. “Temos como missão transformar nossas dores em ação. Em situação de pandemia ou chuva, toda vez que acontece uma tragédia, quem sofre mais é a periferia. (…) É um trabalho de formiguinha.”, conta ela.

Voz das Comunidades

O combate da desinformação é outro obstáculo para quem ajuda a população que reside em favelas brasileiras. Visando auxiliar os moradores de periferias em todo o país, o jornal Voz das Comunidades tem se desdobrado na produção de conteúdo informativo. Com o aumento da acessibilidade da internet nos últimos anos, o jornalismo comunitário continuou a se expandir.

Possibilitando uma interação maior com o público, o Voz das Comunidades se adaptou às novas plataformas, gerando uma produção de extrema relevância dentro das favelas. “A importância de um jornal totalmente voltado para as comunidades é servir de instrumento de socialização e exercer um direito constitucional à informação, cuidando de questões importantes, porém ignorado pelos grandes veículos de comunicação.(…) Temos como objetivo prestar serviço de utilidade pública.”, afirma Neila Marinho, assessora de imprensa do jornal.

Com a pandemia, os trabalhos do veículo se intensificaram. “Estamos realizando a campanha ‘Pandemia com empatia’ que surgiu da necessidade de ajudar a comunidade”. Marinho ainda explica que, embora estejam recebendo doações, elas ainda não são suficientes para atender a demanda. “A comunidade já enfrenta tantos problemas, e com a  pandemia as condições de atender as medidas básicas de prevenção ao COVID-19 só pioraram.”, explica.

Além das doações, o grande empenho do Voz das Comunidades está se dando no esforço para alertar e informar os moradores, que muitas vezes não possuem acesso a todos os conhecimentos cascateados pela grande mídia. “No início da pandemia faixas foram espalhadas pela comunidade, carro de som com informações sobre as medidas de prevenção, grupo de riscos e etc. Além de noticiários diários, contamos com esclarecimentos sobre a doença junto de especialistas da área da saúde e suporte jurídico sobre os benefícios concedidos pelo governo.”, diz Marinho.

Até o encerramento desta reportagem, foram registradas 5.104 mortes provocadas pela COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus, e 73.511 casos confirmados em todo o Brasil. E, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, a pandemia veio para escancarar – ainda mais – a desigualdade social existente no país. Entre os dias 17 e 24 de abril, houve aumento de 45% nas mortes ocorridas em famílias de baixa renda. Já para os mais ricos, que possuem acesso à serviços de saúde de qualidade, o número, ainda alarmante, acabou sendo menor: 36%.

Muitas favelas apresentam dificuldades com saneamento e acesso à água potável, portanto, o descaso do poder público já ocorre há muito tempo, bem antes da crise causada pela pandemia. Por isso, sem apoio das autoridades, as iniciativas privadas de apoio às comunidades tornam-se cada vez mais necessárias.

“É um dilema muito grande discutir quarentena dentro de uma favela, pois entre se prevenir e ter que garantir o sustento da família muitas pessoas acabam correndo o risco para manter sua dignidade”, finaliza Neila Marinho, do jornal Voz das Comunidades.

Como ajudar?

BANCO DA PROVIDÊNCIA:

bancodaprovidencia.colabore.org/vamosjuntos/people/new

(21)3257-2769

institucional@providencia.org.br

CUFA MINAS GERAIS:

cufaminas.org/#Colabore

VOZ DAS COMUNIDADES:

vozdascomunidades.com.br/pandemia-com-empatia/

(21)96463-2334

contato@vozdascomunidades.com.br

cuore in allarme journalist, writer, artist and everything else in between ✉ laurapferrazzano@gmail.com
Carolina is a national contributing writer and was formerly a summer and fall 2021 editorial intern at Her Campus. She's a Brazilian journalist and writer, and she's very passionate about TikTok, coffee shops, and Taylor Swift.
Journalism student of Cásper Líbero University and Senior Editor at Her Campus . Follow me: @gabs_sartorato