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Será Que Homens Feministas Podem Existir?

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

“Detesto homem que se intitula feminista. Acho válido apoiar a nossa causa (que na verdade não faz mais que a obrigação), mas nada de dizer ‘eu sou feminista’. Homem já tem protagonismo e privilégio em tudo, e o feminismo é um movimento feito por mulheres e para mulheres, agora homem quer virar protagonista no nosso movimento também? Eu não acho legal. Eles não sabem e nem sentem na pele tudo que passamos, então nos apoiar já é mais do que suficiente (…)”, disse Thabata Menezes, estudante de 21 anos, em uma rede social.

Sem dúvidas só uma mulher entende o que é ser mulher. Acordar todos os dias e ter um salário menor, ser subjugada por causa de seu gênero, ouvir homens falando de você como se fosse um pedaço de carne e ter seu corpo totalmente sexualizado não é algo que faz parte da rotina masculina.

Imagem: Diários de uma feminista

Segundo o “Mapa da Violência 2012 – Homicídio de Mulheres”, no Brasil a cada cinco minutos uma mulher é agredida, a cada 11 minutos uma é estuprada e a cada duas horas, uma é vítima de homicídio. Inserir um homem no feminismo é mostrar medos que eles nunca terão. É tentar explicar o que significa a frase “todo homem é um estuprador em potencial” e ouvir um “nossa, eu nunca faria isso” ou “não generalize!”.

Eles não sabem o que é andar numa rua escura durante a noite e sentir muito medo de um homem que está andando atrás de você. Não sabem o que é ter que ser sempre magra, depilada e pronta para transar no momento em que seu parceiro quiser. Ser mulher é ter pressões de todos a todo momento, por coisas ausentes no universo masculino.

Foto: Blogueiras Feministas

Cabe simplesmente às mulheres a função de construir e protagonizar o feminismo, definindo suas pautas e estratégias. O mínimo esperado é garantir que elas tenham poder inequívoco de decisão sobre suas próprias lutas. Um movimento que tem decisões de pessoas que não estão inseridas no meio desprivilegiado não é empoderador e não tem uma real mudança.

Como fazer para apoiar o feminismo sem protagonizá-lo?

Para ser pró-feminista (ou seja, apoiar o movimento sem necessariamente se intitular do meio) é preciso entender que existe uma grande diferença entre conseguir enxergar o machismo e sofrê-lo na pele. Não cabe a nenhum homem dizer a uma mulher o que é o machismo, afinal não é ele que sofre. Não é papel masculino dizer o que deve ser feito ou que é relevante ou não. Afinal, o movimento é das mulheres para as mulheres.

Podemos pegar como exemplo o caso dos atletas da Faculdade Cásper Líbero em 2017. Nas fotos para os jogos universitários de comunicação (JUCA) alguns estudantes fizeram gestos que representavam vaginas, enquanto outros fizeram a “sarrada”. As universitárias apontaram o machismo do ato, que foi parar até em grandes jornais. Nesse momento vários homens apareceram e insistiram que elas estavam enganadas e “loucas”, já que segundo eles, não havia machismo nenhum ali, eram só estudantes “sendo estudantes”. Nesse caso o homem invade um lugar de fala que só pertence às mulheres.

Esse comportamento tem o nome de mansplaining e mostra a total falta de preocupação com a situação, no qual o homem está mais preocupado em fazer valer sua opinião baseada em “achismos” do que ouvir quem não aguenta mais ver esse tipo de situação.

Imagem: Free the Essence

O feminismo não consiste em odiar os homens. O objetivo, desde o começo, foi a igualdade entre os sexos. É não mais ser silenciada, estuprada, tratada como objeto. É ter voz dentro do seu próprio meio. É deixar de ser submissa só por ser do sexo feminino.

“Tá bom. Mas alguns homens fazem diferença no feminismo, poxa!”

Em 2016 um movimento chamado “HeForShe” (traduzido como “ElesPorElas”) viralizou nas redes por chamar os homens para lutar lado a lado com as mulheres. Segundo eles, a missão do projeto seria a igualdade dos gêneros, para que todas as vozes fossem ouvidas, independentemente do sexo. “Todo mundo tem algo a dizer. Cada um tem um papel. Cada uma das contribuições é essencial para se atingir a igualdade de gênero.”

Não é preciso dizer que a campanha foi um sucesso. Com apoio de vários países e quase um bilhão e quatrocentas assinaturas online, o projeto contou com discursos de celebridades como Emma Watson para impulsionarem a mensagem que o projeto queria passar. No Brasil, o canal GNT se propôs a conseguir cem mil assinaturas de homens brasileiros.

Foto: GNT – Globo

Caio Blatt, ator brasileiro (foto acima), foi um dos que marcou presença na estreia do projeto no Brasil e fez questão de assinar e mostrar seu compromisso com a igualdade de gênero. Porém, vimos um comportamento totalmente contrário no começo deste ano.

Em abril, a figurinista Susslen Tonani, no blog chamado “#Agoraéquesãoelas” do jornal A Folha de São Paulo, acusou o também ator, José Mayer, de assédio sexual. No relato, a vítima afirmava que o artista colocou a mão em sua genitália e disse que ela era seu desejo sexual antigo.

Pouco tempo depois o mesmo Caio que apoiou veemente a igualdade de gênero saiu em defesa de seu colega, dizendo que não houve nenhuma intimidação, apenas uma “brincadeira fora de hora” e condenou a ação da rede Globo (na qual Mayer tem um contrato) de afastá-lo das telinhas por tempo indeterminado.

Nesse caso podemos ver como o machismo ainda é enraizado na sociedade e defendido por homens que se dizem “feministas”. Enfrentar uma situação real de machismo é bem diferente do que simplesmente idealizá-la.

Caso a caso

Quando você é homem e apoia ou não fala nada para o seu amigo que está se vangloriando por ter transado com uma mulher ou chamando alguma de “vadia” por não querer ficar com ele, você está reforçando uma ideia que há muito tempo vem enraizada na sociedade. Você está tirando a voz de uma mulher, mesmo que “inconscientemente”.

As pequenas ações contam muito mais para a mudança do que “textões” no Facebook ou assinar petições para fingir ser diferente dos outros. A diferença é no dia-a-dia e não vem do dia para a noite. Talvez você não perceba isso justamente por ser um homem. Você não vai entender porque simplesmente não é a sua realidade. Então, por favor, de uma vez por todas, aceite: O seu lugar não é no feminismo. O respeite, seja pró-movimento, mas não finja entender algo que você nunca será capaz de fazer.

Camila Simões

Casper Libero

Estudante de jornalismo apaixonada pela comunicação e a forma como ela estreita as relações entre as pessoas.
Giovanna Pascucci

Casper Libero '22

Estudante de Relações Públicas na Faculdade Cásper Líbero que ama animais e falar sobre séries.