Her Campus Logo Her Campus Logo
Culture

Receitas de família que deixam o coração quentinho

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Ninguém pode negar que a comida é uma das coisas mais versáteis que existem. Não só porque um único alimento pode ser preparado de infinitas formas diferentes ou fazer eternas combinações com outros alimentos: a versatilidade da comida vem da sua presença em espaços, eventos, lugares e até em momentos tão diferentes

Você se lembra daquela comida que tem em todo Natal? Ou no prato que você prepara como pedido de desculpas quando briga com alguém? Até mesmo a receita que sua avó viu sua mãe fazer e você quer apresentar para os seus filhos? A comida representa muito mais que simplesmente matar a fome – ela representa lembranças, afetos e muita saudade. Pensando nisso, que tal conhecer alguns pratos familiares que marcaram gerações?

Para aquecer as noites de inverno portuguesas

Sandra Gonçalves vêm de uma família tradicional lusitana. Nascida no Brasil, ela compõe a primeira geração de crianças não nascidas em Portugal. Mas, como boa filha de portugueses, ela aprendeu a cozinhar como viu sua mãe, que havia visto sua avó. “Meus pais não eram brasileiros, portanto boa parte da cultura de casa foi portuguesa. Cresci com música e hábitos alimentares muito diferentes das crianças que eu conhecia”, conta.

Portugal é marcado por invernos intensos, que obrigam as famílias a se adaptarem para suportar o frio. E foi assim que nasceu a receita mais típica da família de Sandra: nhoque de batata e caldo de grão de bico. 

Eu adorava ver minha mãe fazendo e participava da preparação. Os portugueses consomem muita batata, então ajudava a descascar  para fazer a massa do nhoque e também para compor o caldo do grão de bico, que minha mãe já comia lá em Portugal quando minha avó fazia para aquecer as noites geladas de inverno.

Sandra ainda comenta que tudo que nos remete a quem amamos é importante para nós e compõe nossa história. “Me despedi de minha mãe muito cedo e queria ser para meu filho exatamente o que minha mãe foi para mim”, diz. A receita pode até ter recebido algumas adaptações quando chegou na vez dela de fazer, mas ainda é sucesso de público quando faz em casa.

Comida unindo famílias

Quando Maria Alice Correa se preparava para o primeiro casamento, aos 18 anos, duas receitas especiais se fizeram presentes no almoço que apresentou as duas famílias; uma delas já bem conhecida pela senhora de quando ela ainda era menina. “Minha avó paterna fazia um cuscuz delicioso, e ela sempre me contava que foi uma cozinheira, filha de escravos, que fazia e ela aprendeu”. 

A receita começava pelo comum, a farinha de milho, mas o peixe, os camarões, tomates e ovos eram frescos, comprados no Mercado Municipal no centro de São Paulo. Também tinha pimenta baiana, salsinha, cebolinha e outros condimentos que só a avó de Maria Alice sabia.

No noivado, tinha cuscuz, claro. Mas hoje, aos 79 anos, a senhora também se lembra da sobremesa: o pavê de amendoim da tia de seu marido. No fim das contas, além do amor, naquela época o que uniu as famílias foi a comida.

De quando éramos pirralhos

Lendo o nome Brigitta Licy, já dá para ter uma dica de que ele não é original do Brasil. O nome Hildegard, então, entrega: o kartoffelpuffer é uma comida tipicamente alemã que era muito feita, respectivamente, pela mãe e pela avó de Carina Palácio. Como era costume na casa desde que era pequena, Carina fala da receita com carinho e um sotaque único, e a receita alemã se abrasileirou e virou o famoso “catofe puf” da família. 

A bisa ensinou para a vovó e todo mundo adorava.

Caçula de três irmãos, Carina conta que o irmão do meio, mais forte dos três, ralava as batatas para ajudar a mãe a fazer a comida. O surpreendente foi que, 30 anos depois, o irmão mais velho encontrou o kartoffelpuffer na MaiFest, a festa alemã do Brooklin, em São Paulo. “Quando ele mandou a foto, eu falei ‘Renato, o ‘catofe puf’. Eu, ele e o Beto adoramos essa comida.

A moça conta que escolheu essa receita por se lembrar de quando era jovem. “Traz uma memória afetiva de quando éramos pirralhos e minha mãe fazia o rango para nós”, diz, emocionada. Tendo falecido em 2013, dona Brigitta deixou o legado de muita sabedoria, amor e saudade de um kartoffelpuffer único.

O jeito mineiro

Maria Rita Passos teve que parar para pensar na hora de escolher uma comida. Nascida e criada no interior de Minas Gerais, em uma cidadezinha de 15 mil habitantes chamada Itanhandu, as comidas tipicamente mineiras eram tantas que a senhora teve que escolher sua favorita. E escolheu: o bolo de fubá. Aliás, bolão de fubá. “Lá em Minas, minha mãe falava bolão de fubá”, conta.

Quando era pequena, a responsável pelo bolo era a mãe de dona Rita. Quando ela faleceu, a senhora ainda era pequena, e quem passou a fazer o bolo era a dona Irene, irmã mais velha da família. O tempo foi passando e, com uma mão firme de cozinheira nata, Maria Rita não demorou a aprender a fazer o bolão típico de sua família. 

“Minha mãe aprendeu com a minha avó, que passou para a minha irmã e passou para mim. É muito bom, faz lembrar do tempo que a gente era criança”, conta dona Rita. Hoje em dia, a senhora de 76 anos encanta os paulistas com seu fantástico bolo de fubá. Lá em Minas, as sobrinhas e sobrinhas netas também fazem a mesma receita no mesmo fogão de lenha original da mesma casa onde Maria Rita nasceu.

Brick Oven
Alex Frank / Spoon

Das festas italianas para o Brasil

Teresa Avona entrega que não é daqui só de abrir a boca. O jeito doce e simpático com que seu sotaque sai mostra que ela vem de outros cantos. Outra coisa que entrega são os netos, quando chamam pela nonna; nascida na Itália há 77 anos, Teresa não poderia falar para a gente sobre outra receita: um clássico macarrão. Não, falar macarrão é injusto, a nonna da família Avona não pode deixar faltar em nenhuma comemoração seu clássico fusilli fresco com coelho recheado.

“Eu via minha avó fazendo, depois via minha mãe fazendo e passei a ajudá-la”, conta Teresa. Quando chegou ao Brasil, com 16 anos de idade, a saudade do sabor das terras italianas foi crescendo e, para manter as tradições na memória, o prato se tornou um clássico. “Quando eu faço aqui em casa é uma festa, todo mundo gosta”.

Da mesma forma que eu via minha avó e minha mãe fazendo, eu faço aqui no Brasil e vejo minhas filhas fazerem. Tenho certeza que até meus netos vão continuar fazendo

O prato a lembra das avós, das tias e, principalmente, das festas: as mulheres trabalhavam dias inteiros para fazer massa fresca para 150 pessoas. Hoje a nonna não precisa fazer o macarrão com coelho para tanta gente, mas continua sendo o queridinho dos familiares da senhora gentil e amorosa.

O artigo acima foi editado por Mariana Torezan.

Gosta desse tipo de conteúdo? Confira a página inicial da Her Campus Casper Libero para mais!

Clarissa Palácio

Casper Libero '25

Paulistana nata, feminista, leonina e apaixonada por rosas, sou fotógrafa formada e escrevo desde os 7 anos de idade. Comecei com poesia, histórias de fantasia, depois música e, aos 13, descobri o jornalismo – aí não teve jeito, foi paixão à primeira vista. Já passei pelo Estadão, Uol e Repórter Brasil. Quero poder escrever sobre tudo e deixar o mundo um pouquinho melhor para quem vem - e já está - por aí!