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O Gambito da Rainha, Nova Minissérie da Netflix: Xadrez, Roupas e Vícios Romantizados

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Quem procura essa série pelo nome e espera alguma história ligada à realeza, irá se decepcionar ao ver que esse não é o caso. Na verdade, ela é melhor do que qualquer clichê romântico que envolva príncipes e plebeus ou amizades inspiradoras entre sangue azul e vermelho. Nessa série narra-se a trajetória complicada de Elizabeth “Beth” Harmon (Anya Taylor-Joy), ou melhor, Sra. Harmon, como é sempre chamada, lidando com a perda precoce de sua mãe em um acidente suspeito e seus vícios.

O primeiro vício são os calmantes, aos quais fora induzida a tomar desde pequena. O segundo é um esporte majoritariamente masculino: o xadrez. Além disso, a jovem luta contra estigmas e doutrinas machistas do jogo, como usar roupas “muito chiques” para uma enxadrista e ser mulher, o que na mente de muitos quer dizer não ser apta a aprender as regras e estudar o jogo. Nesse último quesito, ela luta contra o machismo constante em sua trajetória.

Se para jogar xadrez é necessário organização e estratégia, é quase irônico ver Harmon se tornando a melhor jogadora dos Estados Unidos nos anos 60, uma vez que sua vida nunca fora organizada e muito menos estratégica. No passado, a jovem perdera quando pequena a mãe, Alice Harmon (Chloe Pirrie), num suposto “acidente de carro”, o que a fez ir para um orfanato de meninas, a “Casa Muerthen”. Lá foi introduzida aos calmantes e aprendeu a jogar xadrez com o zelador da escola, Sr. Shaibel (Bill Camp).

Quando aquele reconheceu a menina-prodígio que tinha em sua frente, não hesitou em colocá-la em uma competição de xadrez. Não demorou muito para Beth ser adotada por um casal, ou o que parecia ser um, já que, na verdade, seu “pai” – Allston Wheathley (Patrick Kennedy) mostrava pouco interesse em sua adoção, e menos ainda por sua mãe- Alma Wheathley (Marielle Heller) – o que nos faz pensar que logo Beth voltaria para o orfanato. Com sua nova família, ela viu seu sonho – ou melhor, sua válvula de escape de toda uma infância e adolescência perturbada – de competir em grandes torneios de xadrez se esvair.

Nesse momento, nos deparamos com uma Beth conformada com o possível abandono de seus sonhos e, em paralelo, vemos um tema muito importante em pauta: o relacionamento abusivo que acontece por “debaixo dos panos” entre os pais adotivos de Beth. Por mais que eles mantivessem pouco afeto nas cenas que apareceram, é nítido o medo que sua nova mãe sente por perto do pai conservador. Por várias vezes a vemos mudar seu jeito de agir e se portar ao ver que o marido chegou em casa. Com isso, é nítida a leveza que ela sente na presença somente de Beth, como se – enfim – pudesse ser quem realmente é, criando assim um laço quase maternal entre as duas.

Quando seu pseudo-pai vai embora de casa sem aviso prévio, Beth vê novamente no xadrez um opção de fuga da realidade e, como toda viciada, para manter a adrenalina em suas veias. Nota-se facilmente que a jovem se utiliza do pretexto de prover para sua família para atingir seu real intuito: voltar para os torneios. A partir dessa visão, vemos o incentivo e o importante papel de suas “mães” – a de sangue, desregulada por abusos, e a adotiva, alcoólatra por consequência do abandono do marido – na vida e nos vícios de Beth. Ela se joga com tudo no xadrez e teme enlouquecer, como a primeira mãe. Quando mais velha, se lança em bebidas e sedativos, assim como a segunda, em razão de desilusões amorosas e profissionais.

Acompanhamos também a sua árdua batalha nos torneios, nos quais ela se sai muito bem, demonstrando seu dom. A forma como as câmeras são posicionadas nas cenas do tabuleiro de xadrez, colocando o telespectador como se estivesse jogando ou assistindo à partida, faz com que crie-se expectativas sobre a próxima jogada com muita adrenalina e tensão.

Porém, como o zelador Sr. Shaibel dizia: “Todo dom tem um custo”. O custo para Harmon fora não aproveitar sua juventude – bebidas, festas, sexo, amigos – e ter que saber lidar com sua raiva ao perder. Pode-se dizer que esses “custos” foram mal reproduzidos pelos criadores Scott Frank e Allan Scott. Em alguns momentos, a produção erra a dose nos episódios depressivos e rebeldes. No declínio emocional – e até mesmo antes dele, na infância da personagem – as drogas são retratadas não só como normais, porque realmente eram usadas pela elite na época, mas como aceitáveis. Ou seja, ao invés de serem ressaltados os perigos dessas substâncias, o excesso de álcool e drogas nas cenas são mostrados como “medidor de status” – se você usufrui desse maléfico, com certeza você é classe alta e normal.

Apesar desse descuido dos produtores, “O Gambito da Rainha” é como um torneio disputado: você não consegue parar de assistir às partidas. Ao contrário de muitas minisséries, essa é fácil de se maratonar por conta dos episódios cativantes. Os atores interpretam extremamente bem seus respectivos personagens, mas quem realmente brilha na produção é Anya Taylor-Joy ao interpretar com excelência uma menina-mulher com vários traumas, mas que, ao mesmo tempo, lida com um vício que a obriga ter responsabilidades, deixando sua adolescência e infância de lado.

A minissérie

É uma produção norte-americana que está quase há um mês no Top 10 da Netflix brasileira. A trama é repleta de traumas, feminismo, autoconfiança e vícios. 

Sinopse
Em um orfanato nos anos 1950, uma garota prodígio do xadrez luta contra o vício em uma jornada improvável para se tornar a número 1 do mundo.

Ficha técnica
Diretor: Scott Frank.
Estreia: 23/10/2020.
Elenco: Anya Taylor-Joy, Thomas Brodie-Sangster, Harry Melling , Marielle Heller e Bill Camp.
Gênero: Drama.
Temporadas: 1 (7 episódios);
Plataforma: Netflix.

O closet que vai além da moda

Com toda certeza, ao assistir a série, você sentiu inveja do guarda-roupa da personagem ou quis roubar um dos inúmeros terninhos e saias em tons pastéis ou escuros de “xadrezinho” – até aqui o esporte se mostra presente.

O closet de Beth vai além de roupas chiques e belas. Com o passar dos episódios, as roupas da personagem, feitas pela figurinista Gabrielle Binder, expressam a autoconfiança que Beth vai criando com suas vitórias até conseguir enfrentar o enxadrista russo – considerado o melhor do mundo. Nessa partida, ela se arrisca a usar um belo batom vermelho, algo que não era anteriormente encontrado em seu look no início dos torneios.

Quando a fase de seu declínio emocional chega, não somente suas roupas se transformam em algo desleixado – nesse momento o guarda-roupa é tomado por cores que não combinam ou conjuntos de regata e calcinha -, como também sua maquiagem se transforma em uma bagunça de lápis preto pesado, que realça o olhar perdido e desesperado da personagem. Batom escuro, lágrimas e bebidas.

“O Gambito da Rainha” é uma história real? 

A série é baseada em um livro de mesmo nome escrito por Walter Tevis. Fala-se muito que Tevis, por ser um enxadrista, se inspirou em torneios que participou ou assistiu para escrever as cenas de xadrez, as quais foram muito bem gravadas na série. Além disso, durante as gravações, o diretor e produtor Scott Frank contou com a presença de um mestre de xadrez, Bruce Pandolfini, que o auxiliou dentro das gravações e fora delas também ao treinar os atores para encenarem do jeito mais natural e verdadeiro possível.

Por mais que haja uma inspiração em torneios e jogadores reais, Elizabeth “ Beth” Harmon nunca existiu, muito menos a história de vida dela. Em uma entrevista concedida à revista The Times, o autor diz que “Beth” é uma homenagem às mulheres inteligentes no mundo e que, dentre inúmeras inspirações para a criação dessa personagem, sua filha e tia foram duas delas.

 Se Heath Ledger estivesse vivo, essa série não teria acontecido

Isso, exatamente o que você leu. Se o intérprete do coringa não tivesse morrido no começo de 2008, muito provavelmente “O Gambito da Rainha” não iria existir em forma de série, mas sim em de filme. Isso porque, em 2008, o roteirista Allan Scott estava a procura de um diretor para a adaptação da obra e o nome de Ledger foi um indicados para ocupar o cargo.

O ator australiano estava apaixonado pelo projeto, segundo disse Scott em uma entrevista cedida ao jornal britânico “The Independent”. O encontro de ambos para discutir o filme estava marcado para o final de 2008 e eles já cotavam Ellen Page (Juno) para o papel da protagonista, que hoje é interpretada por Anya Taylor-Joy.

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A matéria acima foi editada por Bruna Sales

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Maria Clara Vaiano

Casper Libero '23

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