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This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

A vigésima primeira edição do Big Brother Brasil foi a que trouxe a maior representatividade negra até hoje. No total, tiveram nove participantes negros e, dentre eles, Karol Conká e Projota chamaram atenção antes mesmo do reality começar, por serem famosos que as pessoas não imaginavam e que havia especulações da possível participação. O ano de 2020 foi marcado pelo debate racial e por uma sociedade mais consciente da necessidade de representação, com uma cobrança ainda maior feita por pessoas pretas, mas também por brancas que se atentaram à questão. A morte de George Floyd, e consequentemente o debate do tema racial fervendo, talvez tenha sido um dos pontos importantes responsáveis por essa maior conscientização e quantidade de pretos no reality. O programa da Globo tem um grande alcance e gera impacto no pensamento cultural brasileiro, sendo importante a ocupação desse espaço na mídia.

Crowd of protesters holding signs
Photo by Life Matters from Pexels
A participante já eliminada Lumena Aleluia, psicóloga com interesse em algumas áreas como de relações raciais e de gênero segundo seu currículo na Plataforma Lattes, chamou muita atenção logo na primeira semana, quando, em uma atividade da AVON, os homens da casa decidiram se maquiar e criar personagens afeminados como forma de “brincadeira”. Ela entrou na questão da transfobia, “o que você brincou hoje, para outras pessoas e outros grupos, o nome é violência”, disse ela para o participante Caio. Após o ocorrido, muitas mulheres trans a apoiaram e tentaram explicar a situação para o público, já que muitas pessoas apontavam a atitude da psicóloga como uma “militância errada”.

Militar Errado Existe?

Mesmo sendo uma questão importante a que Lumena levantou após a situação envolvendo os homens da casa, houve uma visão predeterminada pelo público de que ela iria militar por tudo. A psicóloga disse diversas vezes durante o programa que não tinha a intenção de “levantar bandeiras” – porém, sempre acabava falando sobre, principalmente, o racismo. 

Além disso, mais pra frente, Lumena e sua amiga Karol Conká tiveram desavenças com a participante Carla Diaz e em um episódio acharam estranho a mulher não ter colocado Arthur, com quem estava tendo uma relação amorosa, no seu pódio de finalistas no Jogo da Discórdia, mas sim os participantes João e Camilla. Para elas, a atriz havia chamado os dois apenas por serem negros. Mais tarde, Conká disse que eles estavam aceitando “migalhas”  e entregando “terras em troca de espelho” para Carla. Lumena já havia citado racismo estrutural em um Jogo da Discórdia: “me chamou a atenção que a dor de uma mulher fenotipicamente branca acionou um acolhimento e a dor de uma mulher fenotipicamente negra causou o distanciamento da casa”, disse ela sobre o episódio do ciúmes que Karol teve com Carla e Arcrebiano, dizendo que a atriz estava se insinuando para o homem.

Além disso, em uma briga entre Camilla e Karol, a cantora sugeriu que a influencer estava criando uma competição entre duas mulheres pretas. “Não vem levantar militância em questão de afinidade não”, disse Camilla.

Para o Instituto Formação Antirracista, formado por Camila, Cauê e Tainá, se posicionar é importante e essencial, e o que hoje chamam de militância é o pensamento mínimo que deveria acontecer, sendo necessário que toda pessoa consciente se posicione. Para eles, militar é fazer o que você pode para transformar positivamente a sociedade, e existem desde maneiras de conscientização e diálogo até atitudes mais práticas, que ajudam diretamente as pessoas, para fazê-lo.

Cauê disse que não há maneiras corretas de se militar, mas é preciso atenção aos conceitos e situações para não banalizá-las.

Racismo Reverso e o Direito Colonial de Ser Racista

A primeira situação que levou algumas pessoas a pensarem sobre racismo com brancos foi logo na primeira semana, quando o participante Lucas Penteado deu a ideia dos pretos da casa se unirem. Para Cauê, a ideia foi muito importante e não é algo sobre pessoas brancas. “Na hora do jogo e das escolhas práticas, é importante que pessoas negras se unam porque historicamente as brancas se unem para nos destruir e sempre se priorizam. Mas cada um tem um critério, e no jogo é importante segui-los. Agora, entre uma pessoa branca muito legal e uma pessoa negra muito chata que faz tudo que eu discordo, eu iria escolher a pessoa branca. O critério racial não é acima de tudo.”

Além disso, em uma de suas conversas com Karol Conká sobre Carla, Lumena disse “não gosto dessa coisa sem melanina, desbotada”. Após essa situação, Thammy Miranda até abriu uma denúncia contra Lumena por racismo reverso à Carla Diaz. Ana Maria Braga também usou o termo em seu programa do dia primeiro de março, mas assumiu seu erro no dia seguinte, já que racismo contra brancos não existe.

As atitudes errôneas de Lumena e Karol não resumem o que é a luta racial. Pessoas negras têm comportamentos e visões de mundo diferentes, até porque todos os indivíduos são diversos e possuem suas pluralidades. Porém, grande parte do público acabou “tomando a liberdade de ser racista” por conta dos comentários da dupla e de seus aliados dentro da casa. Expõe suas opiniões na internet, que muitas vezes generalizam, como se todos os pretos fossem iguais, o que nunca acontece quando são falas de pessoas brancas. “O erro delas deu todas as possibilidades de aplicarem os modelos de racismo no Brasil. Uma oportunidade para expor aquilo que já tem estruturado e profundo dentro dos brasileiros. E ainda dizem: Não odeio pessoas pretas, gosto da Camilla e do Lucas. Se aproveitam de desculpas para poder banalizar uma luta racial”, disse o antropólogo Cauê.

O Nível do Julgamento

Karol Conká bateu o recorde de rejeição da história do Big Brother Brasil e saiu com 99,17% dos votos. O julgamento da cantora foi consequência de suas atitudes dentro da casa, porém é importante analisar e julgar todas as pessoas por seus comportamentos, suas qualidades e defeitos, da mesma forma. A própria assessoria do participante Lucas Penteado rompeu o contrato com o ator após polêmica em uma festa do reality, o que ainda não havia acontecido com participantes brancos que chegaram até a assediar mulheres em outras edições. Pretos são diversos e erram, da mesma forma que pessoas brancas, e “passar pano” ou massacrar por conta da cor da pele é injusto. Será que o nível do julgamento é o mesmo, ou seria uma oportunidade que o povo estava esperando para destilar seu ódio, machismo e racismo?

O antropólogo Cauê disse que se chocou ao ver pessoas mobilizando mais ódio contra Karol Conká do que contra o presidente assumidamente racista e genocida do país. “Inclusive páginas pretas, isso me entristeceu. Ver que meu povo dava força para as armações da branquitude. De qualquer forma penso que ela deve, agora que saiu, ser acolhida pelas pessoas negras e mulheres por tudo que ela já fez e representava, e de fato tentar se abrir para o que aconteceu, não precisa gostar dela, mas não precisa odiar e querer matar… Literalmente”.

Segundo os membros do Instituto Formação Antirracista, aprofundar melhor no debate racial por causa do BBB 21 serviu para entender que as pessoas estão muito mais por fora do que acham sobre a questão racial, o que não deveria acontecer já que o racismo é o que a maioria dos brasileiros sofrem todos os dias e está na base do país. Para eles, se essa média de pessoas pretas no reality permanecer nas próximas vezes, o público pode se acostumar com a ideia de pretos na televisão e não generalizá-los a uma coisa só.

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Brazilian journalism student whose passion is a mixture of writing and listening to music. My lemma is always to be happy and respect people :)