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This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Em 21 de março de 1960, em Joanesburgo, na África do Sul, um protesto contra a Lei do Passe foi realizado, lei esta que obrigava a população negra a portar um cartão com os locais permitidos para circulação. Porém, mesmo tratando-se de uma manifestação pacífica, a polícia do regime de apartheid abriu fogo sobre a multidão desarmada, resultando em 69 mortos e 186 feridos. Diante do fato, a ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu, em memória ao ocorrido e às vítimas, o dia 21 de março como o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial.

“A carne mais barata do mercado é a carne negra (…)

– Só cego não vê

Que vai de graça pro presídio

E para debaixo do plástico

E vai de graça pro subemprego

E pros hospitais psiquiátricos.”

A canção “A Carne” de Elza Soares, cantora e compositora, dá voz e visibilidade à luta que a população negra enfrenta diariamente, não só no Brasil, como também no mundo.

Andando ao lado da discriminação, quase como uma fiel companheira, a desigualdade social se faz presente no cenário racista do país. Segundo dados do Ministério da Saúde, aproximadamente 80% da população completamente dependente do SUS é negra. Estudos e estatísticas também apontam como o grupo mais vulnerável às doenças, pois está sob maior influência dos determinantes sociais de saúde, como as condições em que vive e trabalha, a insalubridade e as baixas condições sanitárias, sendo a desigualdade o palco para a situação.

Os campos onde a discriminação atua são muitos. Dentre eles, o mais evidente é o mercado de trabalho, onde, em média, 56,6% dos negros ganham menos que os brancos e, para mulheres, a situação é ainda pior, sendo o salário de mulheres negras apenas 44% de homens brancos, exercendo a mesma função, segundo dados de uma pesquisa feita pelo coletivo Africasper da Faculdade Cásper Líbero.

Apesar de algumas medidas serem tomadas atualmente para o combate à desigualdade e ao racismo, comportamentos e falas racistas continuam recorrentes, até mesmo por pessoas dentro do poder público e fora do nosso cotidiano, como no discurso do presidente Jair Bolsonaro para o Estadão, em 2018. Ele afirma: Eu não entraria em um avião pilotado por um cotista nem aceitaria ser operado por um médico cotista”. Bolsonaro e seus filhos também dedicam grande parte do seu tempo para fazer campanha contra as cotas raciais.

Visando exemplos de resistência e luta, a Her Campus buscou histórias reais contadas por pessoas reais, como a de Gabriele Cordeiro Almeida Santos, de 19 anos. Nascida na Bahia, mas criada em São Paulo, ela conta: “Desde pequena meu pai sempre trabalhou comigo a questão de eu ser uma mulher negra. Ele continuamente ressalta que eu preciso lutar duas vezes, uma por ser mulher, e a outra por ser negra.” Ela acrescenta: “Apesar do meu pai sempre trabalhar isso em mim, não foi sempre que eu tive essa consciência. Eu alisava o cabelo quando eu era pequena, o que apaga boa parte da minha identidade. Aliás, eu creio que só comecei a me enxergar de fato como uma mulher negra quando eu assumi o meu cabelo, o que não foi só uma transição capilar, foi uma transição de identidade.

“Eu preciso lutar duas vezes, uma por ser mulher e a outra por ser negra.”

Foto por: Gabriel Santos.

Sobre sua luta no âmbito profissional e pessoal, ela diz: “Esse ano eu tranquei a faculdade de fisioterapia pra viver o meu sonho, que é a fotografia. Foi um choque de realidade pra mim, porque, como eu disse, meu pai me alerta sempre sobre minhas ‘duas lutas’, quando eu tranquei o curso, pensei que não seria ninguém, que seria apagada da sociedade. Agora, me vejo nessa luta de conseguir reconhecimento e voltar a estudar. O racismo interfere muito em coisas indiretas, ele é estrutural!”.

Neste 21 de março, tenhamos consciência de nossos atos e privilégios, para não continuar a reproduzir comportamentos discriminatórios, que reforçam o preconceito racial enraizado no mundo todo.

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Esse artigo foi editado por Larissa Cassano.

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Sophye Fiori

Casper Libero '24

Graduate student of journalism at Cásper Líbero college. Since always looking for stories to be told.