Em 14 de abril de 1941, um decreto assinado por Getúlio Vargas proibiu as mulheres de praticar futebol de forma profissional. 84 anos depois do Decreto-Lei 3.199, o futebol feminino vive uma outra realidade: o aumento do consumo entre os brasileiros.
Uma pesquisa realizada em maio de 2024, pela parceria entre Quaest, CNN e Itatiaia, apontou o crescimento no percentual de torcedores que consomem a modalidade. Para Maria Beatriz de Teves, repórter e subeditora do Meu Timão, esse aumento de telespectadores se deve por uma soma de fatores.
Mudança de mentalidade entre os clubes
“As equipes passaram a investir mais, o que elevou o nível da disputa e deixou os campeonatos mais interessantes de acompanhar. Um bom exemplo é o Corinthians: a torcida comprou a ideia desde o começo, lotando estádios, fazendo festa e acompanhando de perto as conquistas do time. Isso acabou puxando os rivais também. O Palmeiras, por exemplo, começou a investir pesado e hoje faz frente ao Corinthians em várias competições. Esse movimento em cadeia ajudou a dar mais visibilidade e valor ao futebol feminino”, comentou a jornalista.
Maria Beatriz também afirmou que as redes sociais possuem um papel fundamental no que diz respeito à popularização da modalidade. É através da internet que são compartilhados calendários, venda de ingressos e, principalmente, é onde é criado um canal direto com a torcida. “Um exemplo legal, é o do Corinthians: o movimento ‘Invasão por Elas’ começou com um grupo de torcedores que criou uma página e começou a mobilizar a galera para os jogos. Isso fez uma diferença enorme, tanto que vários jogos passaram a encher”, ressaltou a repórter do Meu Timão.
Tayna Fiori, jornalista do ge.globo, também comentou sobre o Corinthians no futebol feminino e a importância da sua linguagem com o torcedor. “O Corinthians, que é um clube que tem muito engajamento, que tem perfil de futebol feminino há algum tempo já que tem uma linguagem com seu torcedor. Criou um produto que são as brabas e isso realmente faz com que o torcedor esteja mais presente no estádio.”
A luta continua
Mesmo a pesquisa realizada pela Quaest ter apontado o aumento no consumo do futebol feminino, ainda há desafios que precisam ser superados. Atletas da modalidade ainda relatam a falta de investimento e o descaso por parte de alguns clubes.
A luta por melhores condições ainda é uma realidade, por isso, para Maria Beatriz, quanto mais investimento, mais visibilidade para a modalidade. “No fim, é um ciclo: quanto mais investimento e visibilidade, mais o futebol feminino se fortalece, atrai novos talentos e se torna mais atrativo para o público. Todo mundo ganha com isso”, afirmou Maria Beatriz.
A repórter do Meu Timão também comentou que é importante os clubes enxergarem o futebol feminino como prioridade e não como obrigação. Quando os clubes compreenderem que o investimento precisa ser a longo prazo e em todas as áreas, não apenas no futebol profissional masculino, a mentalidade será outra.
Para a jornalista do ge, apesar de constantes, essa é uma luta que já vem tendo resultados. “São mulheres jogando bola, são mulheres, tentando ingressar numa coisa que culturalmente elas sempre foram proibidas e afastadas, né? Mas acho que é importante a gente ressaltar como ela tem melhorado também.”
O impacto de grandes eventos esportivos no consumo do futebol feminino
Grandes eventos esportivos, como Olimpíadas e Copa do Mundo Feminina, ajudam a impulsionar a modalidade. É por meio desses eventos que o público passa a ter um maior interesse pelo futebol feminino, já que os jogos são transmitidos em horários melhores e em canais abertos.
“Quando as competições são bem divulgadas e transmitidas em horários acessíveis, como foi o caso da Globo em algumas edições da Copa do Mundo, o público responde. As audiências batem recordes, não só na TV aberta, mas também em canais como a CazéTV. O brasileiro gosta, se interessa, e quando vê as jogadoras em destaque, como aconteceu com a Marta na última Copa América, isso gera repercussão no mundo todo. Esses momentos ajudam a quebrar barreiras e a mostrar o valor da modalidade para muito mais gente”, ressaltou Maria Beatriz.
Tayna também comentou que esses eventos esportivos fazem grande diferença. Para ela, é nessas competições que há uma união nacional, o que faz com que o público abrace outras modalidades. E todas as vezes que o Brasil tem uma seleção sendo representada, principalmente na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos, a conexão entre os brasileiros cresce.
“Você pode gostar ou não de futebol feminino, mas acho que a Seleção Brasileira ela te dá esse espaço para você torcer e estar ali presente”, completou Tayna.
A próxima Copa do Mundo feminina ser no Brasil é uma das grandes conquistas para o futebol feminino brasileiro. Já que a torcida sempre se mobiliza e torna esses grandes eventos ainda mais marcantes.
Conquistas e desafios
A caminhada para que o futebol feminino tenha mais audiência ainda é longa, mas muitas vitórias já foram conquistadas ao longo dos anos. O apoio e investimentos são fundamentais para que a modalidade se desenvolva. Para Maria Beatriz, a conscientização é fundamental. “Quanto mais a presença das mulheres em campo for normalizada, menos espaço sobra para o preconceito”, afirmou a repórter do Meu Timão.
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O artigo acima foi editado por Marcele Dias.
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