Presente em todas as regiões do país, a Festa Junina é um evento tradicional que vai muito além das quadrilhas, comidas típicas e trajes caipiras. Com raízes profundas na história e cultura do Brasil, com influências que remontam à Europa e às práticas religiosas do período colonial.
Neste texto, vamos explorar a origem dessa festividade, entender como ela se transformou ao longo do tempo e descobrir por que continua sendo um marco tão importante na vida de milhões de brasileiros.
Origem
A Festa Junina é uma festividade popular brasileira realizada no mês de junho. Foi trazida pelos portugueses, mas foi modificada com o passar dos anos.
“Ela foi trazida da Europa pelos colonizadores. A festa também recebeu influência das celebrações dos solstícios de verão (celebração do dia mais longo do ano com rituais ao Sol, alegria e renovação) no hemisfério norte, que coincidem com o início do inverno no hemisfério sul.
Originalmente uma festa pagã, a Igreja Católica, com o crescimento do cristianismo, incorporou e adaptou essas festividades, associando-as aos santos populares da época”, explica Robson Nobre, professor de história.
Ao chegar no Brasil, essa celebração passou por um processo de “mistura” de religiões e culturas, trazendo elementos tanto da cultura indígena quanto africana. Os indígenas, por exemplo, introduziram práticas como as fogueiras e rituais de promessas.
“Já havia fogueira, a ideia de pular a fogueira na Europa é muito comum em alguns países, mas os indígenas vão introduzir os rituais de promessa”, explica o professor. Enquanto a influência africana também se fez presente nas expressões culturais e musicais.
No Nordeste, a festa ganhou ainda mais força com o ciclo do milho, já que junho marca a época da colheita na região, influenciando diretamente as comidas típicas.
Além de seu caráter religioso original, a Festa Junina tornou-se uma das maiores manifestações culturais do país, sendo celebrada tanto em áreas urbanas quanto rurais, com destaque para a valorização da identidade caipira e o orgulho das tradições populares brasileiras.
O simbolismo da fogueira nas Festas Juninas
A fogueira é um dos principais elementos da Festa Junina, algo que as pessoas esperam encontrar. Ela carrega um simbolismo cultural e religioso que segundo a sua tradição, a origem está ligada a Santa Isabel, mãe de São João Batista, que acendeu a fogueira para avisar Maria que estava grávida.
Mas existem três tipos de fogueiras, cada uma dedicada para cada santo: Santo Antônio (13 de junho), São Pedro (29 de junho) e São João (24 de junho). “A diferença é que a fogueira para Santo Antônio é uma fogueira quadrada.
A fogueira para São Pedro é uma fogueira triangular, representando a Santíssima Trindade. E a fogueira para São João é uma fogueira mais pontiaguda.”, diz as diferenças Robson.
A fogueira, com o passar do tempo, ganhou novos significados culturais, os povos indígenas contribuíram com práticas, como pajelanças que envolviam a fogueira. É muito comum o ato de fazer pedidos diante dela, mostrando diversos significados da fogueira para diferentes culturas.
Além de ser um ponto central nas celebrações, a fogueira representa união e continuidade das tradições. Nas regiões do Sul do Brasil, o frio típico em junho favorece esse costume, acompanhada de bebidas quentes, reforçando o clima de acolhimento das festas.
Música, Dança e Cultura: A Expressividade dos Ritmos e Trajes na Festa Junina
As festas juninas são ricas em manifestações culturais que vão muito além das comidas e das fogueiras — a música, a dança e os trajes típicos também desempenham um papel fundamental na construção da identidade dessa celebração, o que se modifica das festas trazidas pelos europeus.
Os ritmos que embalam as festas são majoritariamente de origem afro-brasileira, com forte presença do baião, do forró e do xote, estilos tradicionalmente nordestinos que refletem a musicalidade popular da região.
A quadrilha junina, uma das atrações mais esperadas, “é inspirada em uma dança clássica do século XVI.” Como a quadrilhe francesa, mas foi incorporada ao contexto brasileiro com novos elementos, tornando-se uma expressão típica das festas do interior.
Além da música e da dança, os trajes juninos também contam histórias. “No século XX os trajes vão se fechar. Essa coisa do traje caipira, roupas coloridas, roupas de chita, roupas quadriculadas, tudo que está ligado à tradição caipira, sertaneja. No Sul eles não utilizam esses trajes, eles estão mais também ligados à questão da imigração recente e europeia e usam a roupa dos colonos.”
Assim, os ritmos musicais, os trajes e os alimentos das festas juninas são expressões culturais vivas que revelam a diversidade regional do Brasil e sua capacidade de transformar influências históricas em celebrações genuinamente populares.
Importância Cultural e histórica
“A Festa Junina traz o orgulho de si.”
É fundamental as pessoas conhecerem a cultura e história de seu país, e algo que essa celebração diz muito é sobre o povo brasileiro.
“Quando a criança se veste com a camisa xadrez, coloca o chapéu de palha, coloca a calça jeans ou a calça de chita, pinta o dente de preto, insinuando que o caipira é simples. É tão bacana e é um culto à nossa gente. É um culto às tradições, ao trabalhador, à trabalhadora. Hoje o cangaço, as pessoas se vestem de cangaceiro, se vestem de sertanejo, se vestem com o colono do sul, o gaúcho, é um culto à nossa identidade. O quanto a gente é trabalhador, o quanto a gente é batalhador.”
A escola tem um papel fundamental para não deixar essa tradição ser esquecida. É dentro da sala de aula que muitos estudantes têm o primeiro contato com a origem das festas juninas, com os ritmos típicos e com os significados por trás de cada símbolo — da fogueira ao milho, da quadrilha às roupas xadrez.
“Quando a criança escuta uma história sobre a Festa Junina na escola, ela tende a comentar sobre isso em casa. Isso abre uma oportunidade para envolver também a família no processo educativo, incentivando pais e avós a compartilharem suas próprias lembranças e tradições juninas. Assim, cria-se uma continuidade entre gerações, fortalecendo os laços familiares e valorizando a cultura popular.”, conta sua experiência como professora, Cátia Barros.
É com esse gesto simples que se constrói a resistência cultural.
Mais do que uma festa, se torna uma expressão do orgulho nacional. Celebrar essa tradição é celebrar o próprio Brasil junto de suas raízes, diversidade e sua força cultural.
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O texto acima foi editado por Eduarda Lessa.
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