As chamadas canetas emagrecedoras, popularizadas na internet como “canetas milagrosas”, foram desenvolvidas à princípio para o tratamento da diabetes tipo 2. Hoje, no entanto, são vistas como um mecanismo precioso no processo de emagrecimento. Produtos como Ozempic, Mounjaro, Wegovy e Saxenda, por exemplo, são medicamentos injetáveis que prometem a perda de peso por meio do controle de apetite e o aumento da sensação de saciedade. Mas até que ponto a aplicação dessas canetas é benéfica?
O fenômeno das canetas emagrecedoras
Em 2024, o Ozempic viralizou nas redes sociais ao mesmo tempo em que trends enaltecedoras da magreza voltaram a entrar em alta. Em meio a modelos super magras e publicidades que idealizam esse padrão de corpos como ideal, a estética de rostos enxutos e ossos salientes passaram a ser associados à elegância, beleza e até mesmo ao sucesso.
O medicamento, que até então vivia nas sombras das prateleiras das farmácias, se tornou o centro dos holofotes ao mostrar efeitos favoráveis no processo de emagrecimento. O que antes exigia um trabalho árduo, de treino e dieta, passou a ter um atalho e o Ozempic tornou-se um desejo de consumo para aqueles que visam perder alguns quilos, mesmo que não tenha sido desenvolvido para fins estéticos.
Com o passar do tempo e a obsessão pela magreza aumentando, novos fármacos viralizaram, alimentando promessas de resultados cada vez mais rápidos e eficazes. A demanda dessas canetas cresce em ritmo acelerado, rendendo lucros à indústria farmacêutica. Segundo relatório do BTG Pactual o faturamento das redes varejistas com esse tipo de produto deve ultrapassar R$5 bilhões no ano de 2025.
Mas você sabe como AS CANETAS funcionaM?
Esses dispositivos administram componentes ativos diretamente injetados no tecido subcutâneo, de forma semelhante às canetas de insulina. Eles atuam, principalmente, na redução do apetite.
Entre os compostos, destaca-se a Semaglutida, presente no Ozempic e no Wegovy. Trata-se de uma molécula que se liga diretamente ao receptor GLP-1, hormônio responsável pela sensação de saciedade, e o ativa.
“O uso para emagrecer foi um efeito inesperado e inicialmente considerado adverso, porém com o tempo e como ocorre com muitas medicações, começaram a perceber esse efeito como benefício, além da melhora das diabetes, já que ele promove o emagrecimento.”
Claudio Ambrosio, médico endocrinologista que administra as canetas em tratamentos.
De acordo com o médico, o perfil ideal de pacientes para o uso das canetas inclui aquele com comorbidades, como hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto, triglicérides ou doenças osteoarticulares, como a artrite por exemplo.
Efeitos colaterais e riscos à saúde
“Usei Ozempic por um ano e três meses…Já na primeira semana eu não conseguia comer tudo aquilo que comia antes, ficava sem apetite. Só no primeiro mês eu tive bastante enjoo, qualquer cheiro de comida já embrulhava o estômago…” comenta Nathali Marcon, jovem de 18 anos que realizou o tratamento sob supervisão médica, por insatisfação com o seu corpo, e perdeu 20kg durante o processo.
O tratamento com as famosas canetinhas, mesmo sob supervisão médica, pode levar a diversos efeitos colaterais. Os mais comuns são os gastrointestinais, tais como náuseas, vomito, diarreia e refluxo. Também podem ocorrer perda de massa muscular, desnutrição, desidratação e fadiga.
Em alerta feito por Bruno Halpen, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica, a pancreatite é um dos potenciais riscos no tratamento.
Além disso, caso não haja uma mudança de hábitos, os resultados obtidos com o uso do medicamento serão reavidos. “Os principais pilares, para um bom resultado são alimentação correta, atividade física rotineira, uso com acompanhamento médico com técnica adequada.”, afirma Dr. Ambrosio, sobre os fatores importantes para um tratamento de emagrecimento eficaz, seguro e que, mesmo sem o medicamento, seja sustentável.
A falsificação dos medicamentos
Além de ser um tratamento arriscado, as canetas emagrecedoras não cabem no bolso de todos aqueles que desejam emagrecer, com preços que podem ultrapassar os R$2.000,00 mensais. Dependendo do medicamento e a dosagem, esses produtos exigem receita médica retida nas farmácias. Como consequência, opções mais baratas e sem a necessidade de liberação médica começaram a aparecer.
Uma reportagem do Jornal Nacional aponta que canetas falsificadas produzidas no Paraguai estão sendo comercializadas no Brasil por meio da divulgação em redes sociais, sem fiscalização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) . “…Não tem como saber o efeito colateral, além de comprometer o resultado desejado.” adverte o endocrinologista.
No fim, o que se vende não é apenas um medicamento, é uma promessa estética de pertencimento a um específico padrão de beleza. A obsessão com a magreza agora vem embalada em uma seringa e trava um embate entre o corpo dos sonhos e os riscos a saúde, expondo um desafio médico e social que ainda está longe de ser solucionado.
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O artigo acima foi editado por Sophia Claro.
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