Aquele banho demorado com sabonete perfumado, seguido de um skincare bem feito, pode parecer inofensivo. Mas e os resíduos desses produtos, qual o destino deles depois que usamos? A verdade é que, a maioria dos cosméticos que amamos não fazem mal apenas para o nosso bolso, mas também para o planeta. Da produção ao descarte, o impacto ambiental é gigantesco.
Só em 2024, o mercado de beleza no Brasil movimentou cerca de 27 bilhões de dólares, alcançando, desse modo, o top 5 no ranking mundial nesse setor econômico. Com uma previsão de crescimento contínuo, a esperança é de que, até 2027, o país atinja US$ 32 bilhões, conforme os dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) e Statista.
Em contrapartida, durante a produção de cosméticos convencionais, a indústria cosmética chega a utilizar mais de 10 mil substâncias químicas, chamadas de POP’s – Poluentes Orgânicos Persistentes – conhecidas por sua alta resistência à degradação, impactando diariamente a esfera ambiental. E quando chegamos a matéria final, nós usamos o conteúdo e descartamos, gerando ainda mais lixo que não consegue ser degradado.
Ingredientes que ninguém te conta (mas o planeta sente)
Quantas vezes você olhou, de verdade, os ingredientes que têm dentro da sua máscara capilar? Para a maioria das pessoas, a resposta será a mesma: nunca. Basta ter as palavras mágicas: “Hidratação” “Reconstrução” e “Nutrição” que a compra já está feita. Mas por trás dessas promessas, há agentes que não combinam com um futuro ambiental.
Silicones e parabenos marcam presença na maioria dos cosméticos. Com impactos tanto para o próprio consumidor, quanto para o meio ambiente, esses componentes são usados para conservar o produto, melhorar a textura ou até prolongar a duração na pele ou no cabelo. Apesar de parecer ter benefícios bem claros, essas letrinhas miúdas das embalagens entram no grupo das POP’s, se alocando em rios, lagos e no solo, afetando ecossistemas inteiros. Não suficiente, o problema duplica quando descobrimos que todos esses impactos são sentidos também pelo nosso corpo, reações alérgicas e questões hormonais podem ser causadas pelo uso prolongado de produtos com esse tipo de substâncias.
Na maioria das vezes, camuflados em meio a tantos ingredientes, nem percebemos a presença desses vilões. Termos como “methylparaben” ou “dimethicone” – parecem inofensivos, mas deveriam acender uma luz vermelha quando citados nos rótulos.
Por isso, entender o que tem nos nossos produtos de beleza é um passo importante para consumir de forma mais consciente — e proteger tanto o nosso corpo quanto o planeta.
Microplásticos: o glitter que vai parar no oceano
O alarde sobre a presença de microplásticos nos glitters tem seu destaque temporário, todos os anos, durante a época de Carnaval. O assunto toma as redes sociais, porém, quando a folia acaba, a sua importância vai junto.
Um dos resíduos mais preocupantes no meio ambiente, essas partículas minúsculas, presentes em esfoliantes, maquiagens e até pastas de dente são praticamente impossíveis de filtrar no tratamento de água. Isso significa que essas partículas acabam indo diretamente para os oceanos.
E como já é de se esperar, debaixo d’água, esses pedacinhos são ingeridos por peixes, tartarugas e outros animais marinhos, que podem acabar trazendo esse plástico para a nossa mesa de jantar, gerando assim, um ciclo vicioso.
Da prateleira ao lixo: o destino das embalagens
Para uma boa ascensão de produtos de beleza, a estética da embalagem sobrepõe a funcionalidade, e os produtos acabam sendo produzidos pensando no apelo visual, mas sem preocupação com o pós-consumo.
Todos os anos, são produzidas cerca de 120 bilhões de embalagens de cosméticos, para serem usadas apenas uma vez e irem logo para a lata de lixo. Segundo o LCA Centre, um grupo holandês que estuda impactos ambientais, quase 70% das emissões de carbono decorrentes dessa indústria poderiam ser reduzidas, caso os consumidores consumissem a opção ‘refil’ de seus produtos.
A quantidade alarmante de descarte incorreto de embalagens de plástico chama a atenção. Em estudos, a Euromonitor, empresa inglesa especialista em pesquisa de mercado, concluiu que um brasileiro produz, em média, um quilo desse tipo de lixo durante apenas uma semana.
Vegano, orgânico ou sustentável?
Ao longo dos anos diversos nomes foram adotados para classificar os cosméticos. Cruelty Free (não testado em animais), Paraben Free (livre de Parabeno, ingrediente cancerígeno), veganos (sem matérias-primas de origem animal), orgânicos (com matérias-primas certificadas como livre de agrotóxicos), naturais (sem aditivos químicos), entre outros.
Essas inúmeras denominações podem acabar trazendo o sentimento de sustentabilidade, porém, não obrigatoriamente um produto vegano, por exemplo, é eco-friendly, ou seja, amigável ao meio ambiente.
Mas e aí, qual desses é o certo para reduzir todos os impactos negativos dos cosméticos? A resposta é: basta ficar atento aos rótulos dos produtos. Tem certificado de eco-friendly? Pode comprar tranquilamente. Agora, se aparecer “orgânico”, não quer dizer que ele é totalmente sustentável, ele apenas gera menor impacto ambiental, se tornando uma opção melhor do que produtos que não possuem nenhum desses selos.
Para confundir o consumidor ainda mais, algumas marcas apostam no greenwashing, uma estratégia de marketing enganosa, onde empresas vendem seus produtos como ambientalmente responsáveis, mas sem cumprir essas promessas.
Na dúvida, escolha com consciência
Então isso quer dizer que precisamos parar de usar todos os nossos produtos de skincare? Lógico que não.
Algumas marcas brasileiras já possuem alternativas melhores para um mundo mais sustentável. A Natura, por exemplo, se destaca por ações consistentes nessa área. A empresa criou a primeira agroindústria na Ilha do Marajó, produzindo cosméticos a partir de sementes da região, como o óleo de patauá e a manteiga de murumuru. Toda a energia da fábrica vem do sol, e a comunidade local também ganha com o projeto.
Já o Grupo Boticário, por meio de marcas como Quem Disse, Berenice?, oferece pontos de coleta para embalagens usadas, inclusive de outras marcas, promovendo a logística reversa e o descarte correto de resíduos.
O consumo consciente não exige a exclusão de cosméticos da rotina, mas sim uma mudança de perspectiva. Escolher produtos com menor impacto ambiental, pesquisar as práticas das marcas e priorizar empresas que adotam ações transparentes são atitudes que contribuem para um mercado mais sustentável.
A beleza pode, e deve, estar alinhada com o cuidado ao meio ambiente. Afinal, é possível cuidar da pele e do planeta ao mesmo tempo.
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O texto acima foi editado por Anna Goudard.
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