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Doutor, me explica! | Tudo Que Você Precisa Saber Sobre Sexo: Do Prazer Às Melhores Práticas

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

 

A ginecologista Poliana Pacello respondeu questões sobre DSTs, métodos contraceptivos e, até mesmo, o que esperar da sua primeira vez

 

Sexo deveria ser um assunto como qualquer outro, mas ainda é um tabu. Provavelmente, você já teve alguma dúvida a respeito e sentiu vergonha de perguntar. Mas informação e esclarecimento são fundamentais quando se trata de sexo, e podem evitar muitos problemas futuros — desde constrangimentos até doenças.

Por isso, conversamos com a ginecologista Poliana Pacello, que esclareceu várias questões sobre o assunto.

Doenças

DST é a sigla para Doença Sexualmente Transmissível. Existem várias: clamídia, sífilis, hepatites B e C, HIV, HPV, herpes genital, gonorreia etc. Elas recebem aquela denominação especial porque são transmitidas durante o sexo, através da troca de fluidos e atrito. Ou seja, para evitá-las, não tem jeito: é necessário usar camisinha!

Uma das DSTs mais prevalentes é o HPV (papilomavírus humano). “Existem mais de 100 tipos de HPV, e alguns são relacionados ao câncer do colo do útero feminino”, explica Pacello. “A prevenção do câncer de colo de útero é feita através de um exame de rastreamento chamado Papanicolau, que tem como objetivo identificar lesões pré-câncer causadas pelo HPV, em estágios ainda bastante confortáveis para tratamento”. O Papanicolau é colhido anualmente a partir do momento em que a mulher completa 25 anos, desde que já seja sexualmente ativa.

Pacello acrescenta que também existe um HPV responsável pelas verrugas genitais, que são consideradas uma DST. “Essas verrugas não têm relação com câncer de colo de útero e devem ser tratadas, porque são altamente contagiosas”.

Felizmente, existe uma vacina que protege contra alguns tipos de HPV. Em tese, qualquer pessoa, de qualquer faixa etária, pode tomá-la, mas o programa do Ministério da Saúde oferece o imunizante gratuitamente a pessoas de nove a 13 anos. “Essa é a faixa etária em que temos mais chance de abarcar as pessoas que ainda não têm vida sexual. É o que chamamos de prevenção primária”. A prevenção secundária consiste na vacinação de pessoas que já são sexualmente ativas. “Esse tipo de prevenção melhora o sistema imunológico da pessoa contra possíveis HPVs que já tenha ou com os quais ainda vai entrar em contato”.

Pacello enfatiza que é de extrema importância que as pessoas procurem se imunizar contra o HPV. “Existe uma intenção mundial de vacinar toda a população mundial, mas, como isso é caro e existem problemas de logística, além de outros problemas sanitários mais urgentes, em países pobres, essa vacinação acabou sendo restrita”.

Quanto às infecções vaginais, existem sinais que indicam a sua presença. No entanto, Pacello ressalta que nem todo conteúdo vaginal — também chamado de corrimento — é alarmante. O corrimento ocorre em todas as mulheres, devido aos hormônios produzidos desde a puberdade até a menopausa. Normalmente, é um fluido transparente ou leitoso, inodoro.

O problema é quando esse conteúdo vaginal apresenta odor forte ou coloração diferente, ou vem acompanhado de outros sintomas, como prurido, ardência ou dor na região do baixo ventre. Nesse caso, é fundamental que a paciente procure o ginecologista. “Lembrando que, quando tratamos infecções vaginais, o objetivo não é acabar com o corrimento, mas com a infecção”.

Métodos contraceptivos

Métodos contraceptivos são aqueles que evitam a gravidez, como camisinha, pílula, implante, DIU (Dispositivo Intrauterino) etc. De todos esses, o único que previne contra DSTs é a camisinha (tanto masculina quanto feminina), pois ela impede que haja contato entre os órgãos genitais.

Pacello lembra que a pílula do dia seguinte não é um método contraceptivo. “Como o próprio nome diz, é uma pílula de emergência, com alta dose hormonal. É indicada pra situações como estupro ou em casos em que o casal faz uso exclusivamente de preservativo de forma absolutamente correta e, muito ocasionalmente, existe a ruptura do preservativo. Se o casal só usa camisinha e toda hora ela fura, esse casal precisa trocar de método, e não usar a pílula do dia seguinte”. Isso porque o medicamento possui uma elevada dose hormonal, além de perder sua eficácia se usado com frequência.

Existem algumas práticas que às vezes são usadas com o intuito de evitar a concepção, mas que não são eficazes. Coito interrompido ou ejaculação externa, segundo Pacello, são métodos falíveis. “No caso do coito interrompido, antes da ejaculação e sem que o homem perceba, o pênis libera líquido espermático, que contém espermatozóides capazes de engravidar. Quanto a ejacular fora da vagina, mas próximo da região da vulva ou do intróito vaginal, existe o risco de gravidez porque, dependendo do dia do ciclo em que isso acontece, não só o espermatozoide tem mobilidade, como também a vagina está mais lubrificada e consegue “puxar” o espermatozóide para dentro”.

Para quem usa a pílula, Pacello recomenda muita atenção. Esquecer de tomar o medicamento diminui muito a sua eficácia, aumentando consideravelmente o risco de gravidez. Se esquecer a pílula, a paciente não deve ingerir duas simultaneamente no dia seguinte. Em vez disso, a recomendação é continuar tomando as pílulas normalmente, como se nada tivesse acontecido, até que a cartela acabe, com o intuito de evitar irregularidades menstruais. No entanto, Pacello lembra que todas as relações sexuais ocorridas até o final dessa cartela devem contar com o uso da camisinha, pois, nesse caso, não é possível confiar apenas na eficácia da pílula. Na cartela seguinte, o medicamento recobra sua eficácia.

Para as mais esquecidinhas, Pacello recomenda que conversem com a sua médica ou médico, e procurem uma alternativa à pílula.

Primeira vez

A primeira vez pode gerar muita dúvida e ansiedade. Contudo, Pacello relembra que é importante que, nessa ocasião, ambas as partes estejam relaxadas, para que possam desfrutar do momento.

Uma situação muito comum, mas sobre a qual ninguém fala, é a dificuldade de que ocorra a penetração nas primeiras vezes. “É muito comum que, nas primeiras relações, exista alguma dificuldade, ou porque há um certo receio, a pessoa está mais ansiosa, contraída, então a vagina não consegue dilatar, ou porque no momento em que o pênis vai entrando na região genital ainda tem o hímen, e algumas mulheres sentem desconforto”.

No início, pode ser que a penetração não consiga ocorrer, e isso é normal. Talvez o hímen demore mais de uma tentativa para romper, o que é igualmente natural. Algo que pode ajudar nesse processo é realizar a penetração com os dedos — primeiro um, depois dois, quem sabe até três — para que a mulher vá se acostumando com a sensação de ter algo dentro da vagina. Ela mesma pode fazer isso, ou então o parceiro pode participar também. “A relação sexual é um aprendizado que cada par vai descobrir o seu jeito, a sua forma de fazer”.

Outra dúvida comum é em relação ao sangramento nas primeiras relações. Pacello afirma que existem hímens vascularizados, que sangram (muito ou pouco) ao romper, e hímens cujo rompimento não provoca sangramento. 

Prazer

Sexo, a princípio, deveria ser algo bom, mas nem sempre é. Há quem tenha dificuldades quanto se trata de sentir prazer, e a libido pode variar de acordo com vários fatores — como medicamentos e doenças. Segundo Pacello, estar em estado depressivo pode minar a libido. Nesse caso, é necessária ajuda psiquiátrica. Antidepressivos também podem diminuir o apetite sexual.

Mas você sabia que os pensamentos também afetam a vontade de transar? “É importante lembrar que temos um centro na região do hipotálamo (sistema límbico) que trabalha com as emoções e os prazeres. Podemos estimular essa área através do pensamento e da visualização. Precisamos lembrar de fazer sexo, falar sobre sexo, pensar sobre sexo, colocar o sexo no planejamento da nossa vida. Eu sempre falo que, quando acordamos de manhã, elaboramos uma lista mental do que precisamos fazer no dia. Se nunca colocamos sexo na nossa lista, no fim do dia não sobra energia para fazer sexo”.

Além disso, fatores como dor ou desconforto durante a relação contribuem para um menor interesse por sexo. Se a causa não for patológica, o que pode gerar essa dor é a posição sexual ou a baixa excitação da mulher.

Pacello lembra que a área mais erógena da vagina é a parte externa, sobretudo o clitóris. Se ele não estiver sendo estimulado, é mais difícil que essa mulher fique excitada e, consequentemente, desfrute da relação. Muitas mulheres afirmam que não conseguem gozar com penetração porque o clitóris não está sendo devidamente estimulado nessa situação. Também é importante ressaltar que não necessariamente vai ser possível gozar em qualquer posição; isso é muito variável.

O que nos leva à próxima questão: como saber se tive um orgasmo? Essa é uma pergunta mais frequente do que pode parecer à primeira vista. É comum algumas pessoas dizerem que, se você realmente teve um orgasmo, você vai saber. Pacello explica: “O orgasmo é uma sensação que dura segundos, ou fração de segundo, em que há uma sensação de muito prazer que rapidamente acaba. Na mulher, não ocorre ejaculação. Se a mulher fizer uma experiência de manipular seu próprio clitóris, se masturbando, vai perceber que vai ficando cada vez mais excitada até que essa excitação acaba. É o auge do prazer”. Em alguns casos, se a mulher estiver muito excitada, é possível que saiam algumas gotinhas de urina durante o clímax.

Cuidados

Por fim, vamos falar sobre algumas práticas boas e outras nem tão boas assim quando o assunto é sexo.

Muitas pessoas relatam coceira ou ardência após a relação sexual. Segundo Pacello, fatores como a intensidade e a duração da relação podem implicar um maior atrito do pênis com a vagina, levando a uma esfoliação da mucosa vaginal. Essa mucosa esfoliada arde — ao lavar a região ou urinar, a mulher poderá sentir uma ardência. Em seguida, a mucosa vaginal cicatriza, e o sinal disso é o prurido (coceira). Ou seja, trata-se de um sintoma normal, que não deve ser medicado.

Segundo a ginecologista, é fundamental ressaltar que a prática de se automedicar não é indicada. “Muitas vezes, de forma equivocada, as mulheres, após a relação sexual, acham que estão com candidíase. Elas então se automedicam com pomadas ginecológicas que contêm antibióticos, o que pode causar um problema maior, pois esses medicamentos alteram a flora vaginal e podem causar uma infecção maior na sequência. Esse sintoma não deve ser medicado”.

Pacello recomenda que, após a relação sexual, a mulher tente urinar, ainda que saiam apenas algumas gotinhas. Isso porque a movimentação do pênis pode levar bactérias nativas da vagina para a uretra, causando uma infecção urinária. “Essa infecção é, muitas vezes, causada por bactérias da própria mulher, mas que deveriam ficar restritas à região vaginal, e não entrar em contato com a uretra”.

  Além disso, é recomendável que a mulher faça a higienização da região vaginal da forma como está acostumada a fazer normalmente, restringindo-se à área externa. Não é necessário lavar ou esfregar o canal vaginal, pois ele possui um mecanismo de autolimpeza. Lavar a região interna da vagina pode levar à alteração da flora vaginal e, consequentemente, a infecções ginecológicas.

Pela mesma razão, se o casal decidir alternar entre sexo vaginal e anal, é importante trocar a camisinha, para que o material que teve contato com o ânus não entre em contato com a vagina. “A vagina não é estéril, tem uma flora bacteriana, mas as bactérias que colonizam o ânus são bactérias patogênicas para a vagina”.

Finalmente, com relação à prática sexual durante o período menstrual, Pacello afirma que não é recomendável — não por perigo de engravidar, mas devido a uma alteração no pH vaginal. Normalmente, a vagina possui pH ácido, que a protege de infecções, mas durante o período menstrual a elevação do pH faz com que essa proteção deixe de existir. “Então o pênis pode pegar bactérias da pele ou da própria vagina e jogar para dentro do colo do útero, essas bactérias então poderiam através do colo do útero, do útero, das trompas chegar até a cavidade pélvica, causando infecções mais severas, como a doença inflamatória pélvica, e até mesmo esterilidade. Mesmo com camisinha pode haver problemas, porque o problema é o atrito do pênis”.

 

Lembrando que sempre que surgirem dúvidas, você deve consultar seu ginecologista!

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Esse artigo foi editado por Carolina Grassmann.

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I’m a writer and Journalism student at Cásper Líbero. Besides writing and reading, I’m fascinated by culture, arts and wellness.