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Doutor, Me Explica! |Tudo O Que Você Precisa Saber Sobre O Tabagismo

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.
Em entrevista à Her Campus Cásper Líbero, a cardiologista Juliana Previtalli falou sobre a doença e a campanha anti-tabagista que ela desenvolveu, “Paradas Pro Sucesso”

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dentre todas as doenças, o tabagismo é a primeira na classificação das causas de mortes evitáveis. Pode provocar uma série de doenças, sendo que a mais lembrada é o câncer de pulmão.

No Brasil, o percentual de fumantes (considerando-se pessoas acima de 18 anos) diminuiu nos últimos anos, o que é, de fato, um avanço. Mesmo assim, essa doença ainda está presente em nossa sociedade, e deve ser combatida.

Em Piracicaba, interior de São Paulo, a cardiologista Juliana Previtalli desenvolveu uma campanha anti-tabagista intitulada Paradas Pro Sucesso. Em entrevista exclusiva à Her Campus Cásper Líbero, a médica compartilhou informações preciosas sobre a campanha, o tabagismo e seus riscos, além de desmistificar diversas questões relacionadas ao tema.

Tabagismo e tabagistas

O tabagismo é uma doença crônica caracterizada pelo vício na nicotina, uma das substâncias presentes no tabaco. Para ser considerado tabagista, o indivíduo deve ter fumado um mínimo de 100 cigarros na vida, independente da frequência ou da ocasião em que fuma.

Existe também o tabagista passivo. “Trata-se de um indivíduo que não fuma, mas que convive com alguém que está fumando em ambiente fechado”, explica Previtalli. Ela lembra ainda que “ambiente fechado” se refere a qualquer local com paredes e teto, estejam as janelas abertas ou fechadas. “O tabagista passivo está sujeito aos mesmos problemas de saúde que o tabagista originário”, lembra a médica.

Finalmente, temos o chamado “tabagista de terceira mão”, o indivíduo que circula por um ambiente no qual alguém fumou. “O cigarro possui várias substâncias particuladas muito pequenas, que se depositam sobre as superfícies, como roupa, mobília, plantas etc. O cheiro característico do fumante, inclusive, é devido ao alcatrão. Essas partículas acumuladas contaminam o ambiente, e quem circula por esses locais acaba inspirando substâncias nocivas. Isso pode levar a inflamações do sistema respiratório, como bronquite, por exemplo”, reforça.

Tipos de fumo

Além do cigarro tradicional, existem vários outros tipos de fumo, todos eles prejudiciais à saúde. Cachimbo, charuto e cigarro de palha possuem tabaco e, portanto, oferecem riscos a quem os consome – o cigarro de palha, por exemplo, sequer possui filtro, o que faz com que a tragada seja muito maior e carregue muito mais substâncias nocivas para dentro do organismo.

Outras formas de fumo muito preocupantes são o cigarro eletrônico e o narguilé. Previtalli explica que, como as propagandas de cigarro estão há muito tempo proibidas no Brasil e foi criada uma imagem muito negativa em torno do cigarro tradicional, a indústria de tabaco tenta alcançar novos públicos com o cigarro eletrônico e o narguilé – este último vem chegando com muita força entre os jovens. No entanto, conforme a médica reforça, não há consumo seguro de tabaco. “O cigarro eletrônico e o narguilé ainda possuem o agravante de terem aditivos para que fiquem mais palatáveis, como odor e sabor, o que acaba por atrair mais consumidores para o vício”, diz. “Uma hora fumando narguilé equivale a fumar seis cigarros”.

A cardiologista ainda explica que, como a venda do cigarro eletrônico é proibida no Brasil, não existe regulamentação para ele, o que torna os riscos ainda mais graves.

Doenças causadas pelo tabagismo

Existem mais de 60 doenças tabaco-relacionadas, isto é, diretamente ligadas ao consumo de tabaco. A mais comum e mais lembrada é o câncer de pulmão. Além disso, as doenças cardiovasculares são as mais prevalentes, isto é, são as que possuem maior incidência.

“É importante lembrar que, ao fumar, o indivíduo faz com que o tabaco entre em seu organismo, afetando diversos órgãos além da boca, garganta e pulmão”, adverte a médica. As chances de acidente vascular cerebral (AVC) aumentam 300% em tabagistas. Doenças do trato digestivo (gastrite, pedra na vesícula, câncer de boca, laringe, esôfago e estômago, por exemplo) também são mais frequentes em indivíduos fumantes. Além disso, outras doenças, como câncer de bexiga, leucemia, câncer de cólon, de intestino, diabetes, câncer de mama e enfisema pulmonar podem estar associadas ao tabagismo.

Mas, afinal, por que as pessoas começam a fumar?

Segundo Previtalli, muitos jovens começam a fumar para imitar comportamentos de pessoas que admiram, como influencers, cantores ou personagens de filmes e séries. Além disso, a adolescência e a juventude são uma fase de contestação. “Uma vez ouvi de um paciente que começou a fumar para desagradar a mãe, que não admitia essa prática”, conta a médica.

Além disso, é muito forte a vontade de pertencer a um grupo e parecer descolado. Por isso é que muitos jovens começam fumando “socialmente” – algo que, embora pareça inofensivo, é muito perigoso. “Muita gente pensa que fumar ‘socialmente’, em festas, aos fins de semana ou ao tomar uma cerveja não configura vício. A pessoa pensa que está no controle e que pode parar quando quiser, mas a verdade é que essas ocasiões se tornam gatilhos que ativam a vontade de fumar, ou seja, o indivíduo está realmente viciado”, alerta.

A médica lembra ainda que não é possível prever de antemão se uma pessoa desenvolverá ou não o vício pela nicotina, que é a droga mais viciante de todas – mais até do que cocaína e crack. De cada quatro indivíduos que se submetem a fumar, um desenvolverá o vício, a partir da terceira ou quarta experiência. O melhor, segundo Previtalli, é não fumar de jeito nenhum: “É uma roleta russa, não dá para saber se você vai desenvolver o vício ou não. Embora existam estudos que buscam compreender o peso da genética nessa questão, eles ainda não são conclusivos”.

Quero parar de fumar. E agora?

Os números são preocupantes: apenas 5% das pessoas que decidem parar de fumar conseguem fazê-lo espontaneamente. De acordo com a médica, isso se deve ao fato de muitos indivíduos não terem uma rede de apoio ou acesso a medicação. “Quem decide parar de fumar precisa de muito apoio psicológico – mais até do que de remédios, embora estes também possam ajudar nesse processo”, esclarece.

A médica explica que existe um tratamento específico para aqueles que decidem abandonar o vício, mas nem sempre esse tratamento é acessível a todos – seja pela burocracia, seja pelo preço. “Quando decide parar de fumar, a pessoa precisa se inscrever num programa do Sistema Único de Saúde (SUS) ou do convênio, e só assim ela poderá conseguir os remédios necessários”, conta. O problema é que nem sempre há inscritos o bastante para que o programa se inicie. “Essa demora atrapalha o tratamento, porque quem quer largar o vício tem pressa, dificilmente consegue se manter decidido por mais de um mês sem resposta”. Além disso, os preços dos medicamentos são outra barreira: “Os comprimidos saem por, pelo menos, R$ 150,00 ao mês, além dos adesivos de nicotina, que podem chegar a R$ 60,00 por semana”, conta a cardiologista.

O tratamento dura três meses e faz uso de comprimidos com substâncias que se encaixam nos receptores de nicotina, além do adesivo transdérmico de nicotina, que ajuda a repor essa substância no organismo e ressensibilizar o indivíduo. A médica adverte que existe um medicamento fitoterápico, o Fumazil, que o indivíduo pode comprar sem estar inserido nesse programa de tratamento. No entanto, a médica explica que ele não tem eficácia comprovada em nenhum estudo sério, ao contrário dos remédios utilizados pelo programa.

A cardiologista acrescenta que é muito importante que a pessoa que decidiu abandonar o vício saiba exatamente o que está por vir. “Depois de duas ou três horas, esse indivíduo entra em abstinência. Ele sofre tontura, ansiedade, nervosismo. O fumante precisa saber que pode sentir tudo isso. O tratamento adequado minimiza esses sintomas, e consegue dobrar, triplicar a chance de sucesso no tratamento”, diz.

Os benefícios de parar de fumar

De acordo com a médica, nunca é cedo ou tarde demais para parar de fumar. “Em qualquer momento da vida, a pessoa que parar de fumar terá benefícios tanto em quantidade quanto em qualidade de vida”, afirma.

Após abandonar o tabaco, o organismo da pessoa se recupera. A partir das primeiras horas, já se observam benefícios, como a redução da tosse e a melhora da capacidade pulmonar. Também se reduzem os riscos de doenças tabaco-relacionadas. A chance de infarto, por exemplo, é 4 vezes maior em fumantes; esse número cai pela metade um ano depois de a pessoa parar de fumar. Após alguns anos, também diminuem os riscos de câncer. “A expectativa de vida de um tabagista é de 7 anos a menos do que um não-tabagista”, informa. “Ao parar de fumar, ao menos parte desse tempo pode ser recuperada”.

A cardiologista acrescenta que até mesmo quem já está sofrendo de uma doença tabaco-relacionada pode ser beneficiar do abandono do tabaco. “Muitas pessoas dizem: ‘Ah, mas se a pessoa já está com câncer de pulmão, melhor deixá-la continuar fumando’, mas isso é um equívoco. A própria quimioterapia, assim como outros tratamentos, funciona muito melhor se o paciente não fumar”, explica.

Mas eu conheço alguém que…

Todos nós já ouvimos anedotas de casos excepcionais que acabam se tornando referência – por exemplo, a senhorinha de 90 anos que fumou a vida toda e “nunca teve nada”. No entanto, a médica explica que não é bem assim: “Quando a pessoa diz que essa senhora ‘nunca teve nada’, isso muito provavelmente não é verdade. O que a pessoa está querendo dizer é que essa senhora nunca enfartou e nunca teve câncer, mas é altamente provável que ela tenha tido pelo menos uma doença tabaco-relacionada, como bronquite ou gastrite, e certamente se encontra extremamente envelhecida”, explica. Ela lembra que é importante que não façamos de casos excepcionais um padrão, já que, a cada 3 pessoas que fumam a vida inteira, 2 morrem de doenças relacionadas ao tabaco.

Paradas Pro Sucesso

Como cardiologista, a médica se preocupa muito com o tabagismo, pelo fato de estar atrelado a doenças do coração. Isso, aliado ao fato de que há poucos médicos especializados em tabagismo, despertou nela a vontade de estudar mais sobre o assunto. “Nós não temos aula sobre o tratamento do tabagismo em nossa formação médica”, conta. “Fica uma lacuna, que antes mesmo da pandemia eu já busquei preencher com cursos, estudos”.

Em 2020, veio a ideia, junto com um amigo músico, de fazer uma campanha criativa contra o tabagismo. “Eu queria ser referência nessa área, e achei que uma campanha poderia ajudar nisso”, lembra. A campanha, nos moldes em que foi feita, foi produto de colaborações entre a cardiologista e amigos. A ideia era fazer algo que a aproximasse do público, para chamar a atenção e criar empatia. O nome criativo, Paradas Pro Sucesso, assim como o logo, une a temática da música e do tabagismo.

“Começamos convidando músicos que conhecíamos para participar, e eles aceitaram e indicaram outras pessoas também. É tudo voluntário”, diz a médica. Foram então gravados pequenos vídeos com cada artista que, ao final, trazia alguma informação, elaborada pela médica, relacionada ao tabagismo.

A campanha foi muito bem recebida pela mídia e pelos artistas locais. “Quando a pandemia arrefeceu no ano passado, realizamos um festival no Teatro Municipal. Também conseguimos o apoio de uma ONG que faz a tradução dos vídeos para libras. Os jornais e as rádios também têm ajudado muito na divulgação”.

Para o ano de 2021, o plano é fazer uma parceria com as escolas públicas para que os jovens realizem projetos ligados ao tabagismo. “Pretendemos realizar um concurso entre os alunos das escolas públicas de Piracicaba. É possível participar em duas categorias: enviando vídeos em que toquem e cantem ou mandando desenhos. O prêmio é uma bolsa de estudos durante um ano para estudar música ou desenho em escolas da cidade”, conta a cardiologista. “Nosso objetivo é conscientizar esse público para evitar que ele desenvolva a doença”, explica.

Mensalmente, a cardiologista realiza lives com outros médicos no Instagram. Ela faz postagens relacionadas ao tabagismo e à campanha, que também possui um canal no YouTube.

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O artigo acima foi editado por Carolina Grassmann.

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I’m a writer and Journalism student at Cásper Líbero. Besides writing and reading, I’m fascinated by culture, arts and wellness.
Carolina is a national contributing writer and was formerly a summer and fall 2021 editorial intern at Her Campus. She's a Brazilian journalist and writer, and she's very passionate about TikTok, coffee shops, and Taylor Swift.