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A screenshot of the movie Everything Everywhere All At Once
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Culture > Entertainment

Do Romance Ao Terror: Os Filmes Atuais Conseguem Superar Os Clássicos?

The opinions expressed in this article are the writer’s own and do not reflect the views of Her Campus.
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Uma das principais discussões presentes no universo cinematográfico atual consiste na qualidade das produções modernas com relação às clássicas. Mesmo que elas retratem períodos diferentes da história da arte, não é incomum ouvir frases como “já não se faz mais filmes como antigamente” ou termos definitivos como a “morte do cinema”. Mas antes de tudo, é impossível falar de cinema e não apresentar o maior símbolo da produção audiovisual do mundo: Hollywood.

A Era de Ouro de Hollywood 

Pautada por um modelo empresarial único que unia paisagem variada, localização estratégica e clima favorável para o desenvolvimento de conteúdos, a Era de Ouro de Hollywood se consolidou entre os anos 1920 até 1960, em Los Angeles, Estados Unidos. Essa época foi marcada pela inovação de técnicas cinematográficas, crescimento contínuo de produtoras de filmes bem como a ascensão de artistas famosos, conhecidos até hoje.

A transição do cinema mudo para o falado incrementou ainda mais a concorrência entre os estúdios vigentes, ao passo que o crescimento da demanda apenas firmou essa indústria como um grande mercado lucrativo. Por mais que não tenhamos vivido a Era de Ouro do cinema estadunidense, não significa que não podemos presenciar a consolidação de novos clássicos hoje em dia.

Avanços tecnológicos e efeitos visuais 

“Desde o início do cinema houve o desejo de empurrar o limite visual para completar a experiência da história” afirmou Mike Sanders, Senior Visual Director dos estúdios da Activision, em entrevista ao Correio Braziliense. Sanders participou do desenvolvimento de tecnologia para 80 longas, dentre eles clássicos como Piratas do Caribe, as últimas sequências de Star Wars e até mesmo Avatar. O diretor também afirmou acreditar que quanto mais se avança tecnologicamente, mais desejamos estimulações sensoriais na hora de consumir produtos audiovisuais.

A era digital nos permitiu, mais do que nunca, escapar da realidade e viajar para diferentes mundos através das telas. Com o objetivo de melhorar cada vez mais a experiência do usuário, o desenvolvimento tecnológico decerto serviu como grande propulsor dentro da indústria cinematográfica para criação de efeitos visuais inovadores, criativos e impactantes. No entanto, o aprimoramento das tecnologias visuais não é o único fator para classificar um filme como clássico ou não.

Mas afinal, o que pode ser considerado clássico?

O questionamento é mais complexo do que parece, uma vez que a influência de uma obra cinematográfica pode variar bastante – dependendo desde aspectos como técnicas de gravação até relevância para sociedade. Alguns estudiosos acreditam que para um filme ser considerado clássico, ele precisa entrar no National Film Registry até 25 anos após seu lançamento. Já para outros, os seguintes critérios são mais levados em consideração: 

  1. Os recordes de bilheteria e premiações 
  2. Originalidade, que se destaque diante da maioria
  3. Influência cultural e o impacto no cotidiano das pessoas
  4. Atemporalidade e a construção de uma memória coletiva

Alguns filmes com certeza se passaram na sua cabeça que não necessariamente fizeram parte da Era de Ouro de Hollywood, não é mesmo? Por mais que a palavra “clássico” inconscientemente acabe remetendo ao cinema em preto e branco, muito se pode aproveitar das obras atuais já que elas são originais, atemporais, já ganharam prêmios e possuem um impacto enorme na vida das pessoas, cada uma a sua maneira.

“A base do cinema moderno é exatamente o cinema clássico, que transcendeu determinados limites, quebrou barreiras e remodelou cânones. O cinema se reinventou”, afirma Marcelo Müller, editor e crítico do Papo de Cinema à Academia Internacional de Cinema (AIC), onde é professor. Um marco desse período que merece ser relembrado é “Cidadão Kane” (1941), popularmente conhecido no âmbito jornalístico até hoje.

Embora a obra não tenha sido bem recebida pela imprensa na época, as técnicas de profundidade de campo, retroprojeção, closes demasiados além da pulverização da narrativa são apenas alguns pontos que revelam sua influência na sociedade. Tendo isso em mente, é possível fazer paralelos com produções antigas e atuais nos seus mais variados gêneros.

Do romance ao terror

Uma análise mais profunda consegue destacar filmes específicos ao longo da história do cinema que, por mais que sejam recentes, se enquadram na categoria de clássico. Um exemplo disso é o musical “La La Land: Cantando Estações” (2016) que ganhou seis estatuetas do Oscar além de ter sido muito bem aclamado tanto pelo público quanto pela crítica especializada. Também contendo uma quantidade notável de Oscars- onze – outro clássico do romance estreava cerca de 20 anos antes nos cinemas: “Titanic” (1997). Baseado em fatos reais, o longa ocupa o terceiro lugar no ranking de maiores bilheterias da história e possui cenas clássicas como a orquestra tocando durante o naufrágio ou os protagonistas na proa do navio, vislumbrando o oceano. A trilha sonora é outro fator relevante já que é impossível ouvir “My Heart Will Go On” da Céline Dion e não se lembrar do casal principal.

As trilhas sonoras são mais importantes do que conseguimos perceber. Outra melodia bastante conhecida, até entre aqueles que não assistiram ao filme, é o de “Psicose” (1960). Um dos maiores clássicos do gênero terror de todos os tempos, a trama possui 34 cenas com música, sendo o restante composto por diálogos ou cenas de silêncio. Essa fragmentação da narrativa em diversas perspectivas permitiu construir o clima de suspense ideal para transmitir a tensão entre os personagens trabalhados. Seguindo esse mesmo viés, o filme “Nós” (2019) conta com um clássico do hip-hop californiano de 1995: “I got 5 on It”, interpretado por Luniz. A respeito da escolha da trilha, o diretor Jordan Peele explicou que queria explorar essa jornada altamente relacionável de ser um pai e perceber que talvez muitas das músicas que se ouviam na sua época não eram tão apropriadas para suas crianças. “Isso foi um dos motivos, mas eu também amo a sensação e o elemento assombroso que ela tem. Sinto que a batida tem uma energia tensa, quase algo da trilha sonora de ‘A Hora do Pesadelo’”, o cineasta concluiu para a Entertainment Weekly.

Partindo para um gênero não muito distante, é impossível falar de ficção científica sem mencionar “Star Wars” (1977). Ao longo de todos os filmes, séries e spin-offs, a franquia atravessou um desenvolvimento técnico e visual impressionante, que fez com que o público se aprofundasse ainda mais no universo ficcional criado por George Lucas. Por mais antiga que a estreia tenha sido feita, essa trama ainda está tão imersa no imaginativo das pessoas que é muito comum ver indivíduos usando produtos de personagens ou até fazendo referência de frases presentes na obra.

A trilha de entrada do Darth Vader é outro ponto inesquecível, mesmo aproximadamente duas décadas após a estreia do último filme das prequels, “Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith”. Mas sendo de romance, terror, ficção científica ou qualquer outro gênero cinematográfico, não são todos os filmes que apresentam esse lado original que toda obra deveria ter. Na verdade, um número significativo de obras atuais está recorrendo à nostalgia e deixando de lado a criatividade no processo de criação.

A nova onda de remakes e reboots

A regravação de conteúdos similares ou no mesmo universo de “Harry Potter”, “Crepúsculo” e uma grande quantidade de produções da Disney – especificamente da Marvel – são apenas alguns exemplos da crise criativa de Hollywood.

De acordo com o site Internet Movie Database (IMDb), uma média de 100 remakes ou reboots foram anunciados, estão sendo produzidos ou já possuem data de estreia agendada. Por mais que o apelo à nostalgia seja uma estratégia mercadológica adotada pela indústria cinematográfica há alguns anos, a reutilização das mesmas fórmulas prontas não trazem nenhuma inovação e desencadeiam apenas em lucros seguros para esse mercado, sempre propiciando “mais do mesmo”.

A criatividade deixa de ser o foco principal e as produtoras se voltam para filmes com histórias já conhecidas pelo público e com garantia monetária. “É um indício de uma tendência conservadora da indústria”, declarou Pedro Butcher, crítico de cinema, pesquisador e professor da ESPM, em entrevista para a revista laboratorial da faculdade.

“Mostra um certo medo da inovação em filmes com investimentos altos que podem ter pouco ou nenhum retorno financeiro”, concluiu. Por outro lado, mesmo que pouco recorrente, ainda é possível ter filmes originais que façam parte desse mundo de reproduções. Afinal, mesmo os remakes precisam se adaptar ao período e contexto em que vão ser relançados. O problema é quando as produtoras o realizam apenas frisando fins comerciais.

Os novos clássicos da modernidade

Com a demanda cada vez maior por entretenimento nas telonas, a quantidade se tornou o principal objetivo a ser atingido enquanto a qualidade ficou em segundo plano. Embora o cenário soe desanimador, ainda existem filmes que conseguem se destacar e se fomentar como novos clássicos da modernidade, como é o caso de “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” (2022), ganhador de sete estatuetas no Oscar. Há quem diga que a atemporalidade e originalidade só podem ser encontradas na época de consolidação de Hollywood, outros acreditam que a onda de remakes e reboots foi feita para ficar. O fato é que um modo de fazer cinema, de fazer arte, não desmerece o outro. 

É indiscutível a evolução na construção de personagens e no modo de fazer história nos últimos anos, sendo possível verificar esse fato justamente pelo repertório e pela memória coletiva criada pela sociedade a partir de produções anteriores, consideradas clássicas.

Por mais que as motivações variem muito dependendo do contexto, sejam elas políticas, econômicas ou sociais, não apenas os filmes bem como nós mesmos invariavelmente estamos designados a carregar esse repertório conosco. Seja fazendo referências, reaproveitando técnicas e efeitos visuais de sucesso ou até consumindo produtos relacionados a essas obras no nosso cotidiano, sempre fomos responsáveis por consolidar os clássicos da indústria cinematográfica.

Recente ou antiga, clássica ou moderna, as produções têm a capacidade de se superarem por si mesmas. Por assim dizer, os filmes mais aclamados de hoje serão os clássicos de amanhã.

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O artigo acima foi editado por Gabriela Antualpa.

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Marcela Abreu

Casper Libero '24

My name is Marcela and I'm a student at Cásper Líbero. I'm a bookstan, writing lover and fond of history who loves meet new people and their unique adventures.