Meninas brincam de boneca e meninos brincam cercados de ação e aventura, certo? É assim que diversas crianças crescem ao redor do mundo, o que acaba resultando em um desenvolvimento muito diferente de coordenação motora entre homens e mulheres. Já na fase adulta, as atividades continuam sendo dividas e incentivadas conforme o gênero, como é o caso dos serviços de manutenção doméstica.
Mexer com ferramentas, fazer reparos em coisas que quebram em casa e trabalhar com marcenaria são funções socialmente ligadas às pessoas do sexo masculino. Por essa razão, muitas mulheres se sentem perdidas quando precisam desse tipo de serviço, e foi a partir dessa demanda que os cursos femininos de manutenção doméstica surgiram. Conheça mais sobre eles a seguir.
1. Agiliza Lab
Imagem: Facebook/Agiliza Lab
As advogadas Fernanda Lehnen e Fernanda Maropo e a engenheira Isabela Mendes, além de possuírem a mesma idade, 23 anos, carregam outra semelhança: são mulheres que saíram da casa dos pais cedo, moraram sozinhas ou com outras mulheres e enfrentaram dificuldades em situações de necessidade de reparo residencial. As jovens relatam que já se sentiram vulneráveis por precisarem receber prestadores de serviço desconhecidos e homens em casa para realizar consertos domésticos e, por isso, tentam ao máximo resolver seus problemas sozinhas.
É fato que casos de assédio acontecem frequentemente nessas situações, e que preços abusivos são cobrados por serviços simples, usando do desconhecimento das clientes. Como as três amigas não conheciam nenhum tipo de curso que ensinasse consertos domésticos para mulheres, decidiram que o fariam assim que a oportunidade surgisse.
Imagem: Facebook/Se Vira, Mulher!
Foi para auxiliar mulheres nessas condições que o “Agiliza Lab”, um laboratório prático e de conhecimentos cotidianos que agilizam a vida, nasceu. Mariana Pavan, instrutora e idealizadora da empresa, conta que o curso foi feito para mulheres em geral, que têm curiosidade ou necessidade de aprender a resolver, de forma mais autônoma, as necessidades mais cotidianas de manutenção residencial, como trocar uma resistência de chuveiro ou consertar uma tomada pingando.
Segundo Mariana, o curso não é profissionalizante, ou seja, o conteúdo que elas trazem pode ser aplicado por qualquer pessoa, com ou sem experiência prévia. É pra quem quer saber se virar melhor nessas atividades e depender menos de outras pessoas para fazê-las. A empresa não tem um perfil ou faixa etária definida, ela relata que já deu aulas para adolescentes de 16 anos, até senhoras de 82. O Agiliza Lab acredita que em um mundo cada vez mais digital, criar uma coisa com as próprias mãos é revolucionário.
2. Se vira, Mulher
Imagem: Facebook/Se Vira, Mulher!
Thaís Nobre é a fundadora da empresa “Se vira, Mulher”, um negócio que reúne cursos de marcenaria, elétrica, hidráulica, jardinagem e mecânica automotiva, todos voltados para o público feminino e oferecidos tanto de forma presencial quanto online.
O objetivo dos cursos é proporcionar autonomia para que as mulheres resolvam os próprios problemas em casa ou no carro, sem depender da ajuda de outra pessoa. Também servem para que elas tenham base na argumentação com prestadores de serviços, quando precisarem contratá-los.
O machismo é recorrente neste tipo de trabalho, mas Thaís conta que a “Se vira, Mulher” acaba criando uma bolha segura dentro desse segmento por não trabalhar diretamente com homens. Mesmo assim ela conta que já trabalhou como engenheira em obras e que realmente não é fácil.
“Somos subestimadas, diminuídas e testadas o tempo todo, muitas vezes até assediadas e desrespeitadas de outras formas. É uma luta diária. Mas acredito muito na nossa força e percebo que já estamos mudando aos poucos essa cultura machista de achar que existem lugares onde não podemos estar. Somos tão capazes quanto eles e estão começando a reconhecer isso”, manifesta Thaís.
“Mulheres são como água, crescem quando se juntam”, diz um mote feminista. Os cursos de reparo residencial crescem cada dia mais espalhados por todo o Brasil e pela internet. Mulheres ensinando outras mulheres e promovendo a autonomia feminina, esse é o lema desse tipo de negócio.