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Como O Povo Yanomami Vêm Sendo Atacado Pelos Homens Brancos?

The opinions expressed in this article are the writer’s own and do not reflect the views of Her Campus.
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

O povo Yanomami é o maior do Brasil, com aproximadamente 27 mil indígenas organizados, divididos em 255 aldeias localizadas em mais de nove mil hectares entre os estados de Roraima e Amazonas. Por possuir o maior território, são os mais afligidos pela carência do Estado e suas consequências. 

Esse povo vem sofrendo desde o final dos anos 1960, e, agora, se encontra no que é considerado um terceiro processo de genocídio. O primeiro foi em 1968 com um surto de sarampo que disseminou cerca de 80% dos indígenas. O segundo foi em 1993, que ficou internacionalmente conhecido como Massacre de Haximu, onde garimpeiros fortemente armados invadiram a aldeia localizada nas proximidades do Rio Demini, no Amazonas, e realizaram uma chacina em que cerca de 12 indígenas foram mortos. Atualmente, as principais ameaças são a malária, a forte desnutrição de crianças, a Covid-19 e o garimpo. 

Júnior Hekurari Yanomami é presidente da Condisi-YY (Conselhos Distritais de Saúde Indígena) e, junto com Dário Kopenawa, um grande defensor dos direitos Yanomami. Em abril deste ano, ele denunciou o abuso e morte de uma jovem de 12 anos da comunidade Arakaça, e, desde então, vem sendo ameaçado pelos garimpeiros. 

Essa não é uma realidade apenas para Júnior, mas sim para todos aqueles que se pronunciam contra a mineração, como ele mesmo conta em entrevista: “Os garimpeiros nos ameaçam dizendo que se nós denunciarmos, eles vão nos matar. Se a comunidade levantar a voz, tiros são disparados contra nós. Estão nos silenciando. A situação é muito triste.”

O garimpo em território Yanomami

O garimpo, é o problema que mais se desenvolveu nos últimos anos, provocando violência e graves problemas sanitários e sociais, mas é uma ameaça aos Yanomamis desde 1987, quando a corrida do ouro começou nas terras indígenas. O número de garimpeiros registrado foi de 30 a 40 mil, cerca de cinco vezes a população indígena residente na época. 

Apesar de o número ter começado a diminuir a partir do começo dos anos 90, hoje, o problema voltou a preocupar. O número de garimpeiros já quase supera o número de indígenas. Júnior afirma que a situação no território Yanomami é alarmante: “Os garimpeiros estão levando muitas armas pesadas, dando essas armas aos mais jovens, gerando conflitos nas comunidades.”

Em maio de 2021, houve um conflito entre garimpeiros e indígenas na comunidade Palimiú, em que três garimpeiros foram mortos e cinco pessoas baleadas, uma delas um indígena que foi atingido na cabeça. Júnior denunciou o ataque às autoridades, entretanto, em documento oficial, não foram registradas mortes e nem o número exato de feridos. 

A comunidade Palimiú ficou em conflito por 4 meses ano passado (de maio a agosto). Ela foi invadida por garimpeiros armados atirando. Levei as autoridades à comunidade, mas mesmo assim os garimpeiros não respeitavam o local, atiraram contra os policiais. A situação na terra indígena Yanomami está fora de controle. Não há segurança. Estamos vivendo sozinhos na floresta junto com os garimpeiros. Garimpeiros continuam a destruir fortemente a terra indígena Yanomami, a floresta, os rios, intimidando e ameaçando as comunidades.

Júnior Hekurari Yanomami

Até o século 19, os Yanomamis mantinham contato apenas com outros grupos indígenas vizinhos. Foi apenas no começo do século 20, entre 1910 e 1940, que os contatos com outras culturas começaram. Como qualquer grupo isolado, os Yanomamis nunca tinham entrado em contato com uma série de doenças, que já haviam chegado no Brasil há bastante tempo, portanto, não possuíam imunidade para combater as enfermidades, e, por isso, muitas vidas foram perdidas. 

Mesmo com a maior interação com o homem branco, a imunidade dos indígenas é muito diferente daqueles que vivem em cidades populosas. Assim, garimpeiros vêm levando doenças como malária e o Covid-19 para essas populações mais isoladas, praticamente as exterminando. 

Hoje, centros de atendimento médico contando com os tratamentos básicos são encontrados em algumas comunidades, mas elas vêm sofrendo com a falta de medicamentos básicos em seus estoques. Em outubro de 2021, acompanhado de Júnior, a equipe do Fantástico visitou algumas aldeias Yanomami e denunciou a falta de medicamentos básicos há mais de seis meses. 

Em entrevista, Júnior contou que nada foi feito para resolver a situação da falta de remédios. Quanto ao Covid-19, a vacinação aos indigenistas teve seu início em janeiro de 2021, com muita dependência de missões privadas. 

O desmatamento e contaminação dos rios também tem afetado a saúde dos indígenas. Segundo um recente estudo realizado pela Fiocruz, 8 a cada 10 crianças Yanomami sofrem com desnutrição. Isso acontece porque, com o desmatamento, muitos dos animais que os indígenas caçavam e se alimentavam sumiram, e o peixe, que antes podia ser pescado e comido sem preocupação, está contaminado por metais pesados trazidos aos rios pelo garimpo. Além disso, o desmatamento aumentou em 140% no último ano, segundo o IMAZON, e 57% desde a posse do presidente Jair Bolsonaro.

O governo Bolsonaro

Desde que Bolsonaro assumiu a presidência, os índices de desmatamento e mineração cresceram no país. O número de garimpeiros em terras indígenas dobrou, chegando a mais de 20 mil apenas em território Yanomami. “Desde o início do governo Bolsonaro, o número de garimpeiros na terra indígena Yanomami só vem crescendo, ela está nos sendo tomada!”, diz Júnior.

Em maio de 2021, Bolsonaro visitou as terras dos Yanomami e disse que respeita a decisão dos indígenas contra o garimpo, mas que trabalha para aprovar a mineração em terras indígenas porque, segundo ele, essa é uma demanda “dos índios”. 

Em novembro de 2020, o presidente já havia afirmado acreditar que a terra indígena Yanomami não deveria existir. Repetindo um argumento mentiroso utilizado por ruralistas, ele disse que a demarcação de terras ameaçava o agronegócio e se vangloriou de não ter dado sequência a processos demarcatórios em seu governo. “Se um homem no poder diz que está tudo bem, vai se garimpar cada vez mais”, afirma Hekurari.

Muito aflige o povo Yanomami e os indígenas brasileiros, mas Júnior acredita que há esperança com a eleição de um novo presidente. Mesmo com a negligência do Governo Federal, organizações e instituições privadas, nacionais e internacionais, vem ajudando com doações de recursos, como remédios e alimentos. Quanto à proteção das terras indígenas e a retirada dos garimpeiros, apenas uma ajuda militar e governamental resolveria.

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O artigo acima foi editado por Mariana Miranda Pacheco.

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Luiza Pojar

Casper Libero '25

Always trying to take the best from life. Sometimes you can't do as much as you would like for people or the world, so write about them :)