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Após Um Ano Preso, Lula Dá a Primeira Entrevista

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

No dia 26 de abril de 2019, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu sua primeira entrevista após a prisão. Os responsáveis pela entrevista foram os jornalistas Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, e Florestan Fernandes Jr., do El País. A conversa durou cerca de duas horas e vários assuntos foram discutidos, como as relações com os Estados Unidos, a vida na prisão e a situação da Venezuela. Lula foi preso no dia 7 de abril de 2018, data dita como histórica por Bergamo. 

A entrevista começou com temas amenos, como por exemplo, o que o ex-presidente faz para ocupar seu tempo. Um de seus passatempos é realizar cursos do canal Paz e Bem, e ele contou que manteve o costume de acompanhar noticiários. Por esse motivo, durante a entrevista, Lula mostrou ter conhecimento do que estava acontecendo no país e no mundo, citando fatos como, por exemplo, a Reforma da Previdência. Ao debater as pautas de economia, relações internacionais e política, citou nomes de várias figuras públicas, fosse para convidar para conversar, para agradecer, ou até mesmo, para afrontar. 

Durante a entrevista, Lula mostrou possuir rancor de figuras políticas e da imprensa, que teriam corroborado com sua prisão, e inclusive mencionou diversas vezes o Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e o jurista, Deltan Dellagnol, pessoas as quais o entrevistado chamou de mentirosos e afirmou ter obsessão por desmascarar. O ex-presidente alegou ainda que foi por esse motivo que não aceitou conselhos do próprio partido para sair do país enquanto as investigações aconteciam. Lula afirmou que seu lugar é no Brasil, que irá provar sua inocência e que mesmo tendo a noção de que pode nunca sair da prisão, “não trocaria sua dignidade pela liberdade”. 

Demonstrando-se atento com assuntos da atualidade, o ex-presidente falou que não concorda com a Reforma da Previdência, afirmando que prejudicaria os pobres em detrimento das classes privilegiadas. Ele apresentou soluções alternativas de como movimentar a economia e diminuir as dívidas públicas. Criticou o Ministro da Economia, Paulo Guedes, por, em sua opinião, não fazer uma economia pensada para ajudar as classes mais baixas, e assim, se propôs a ensinar-lhe como poderia fazer isso. 

Lula também apresentou indignação com a posição do presidente Bolsonaro em relação aos Estados Unidos, citando a continência que ele bateu à bandeira norte-americana e afirmando que assim o presidente estaria corroborando com o complexo de vira-lata, ou seja, o Brasil se ver inferiorizado perante os EUA. Ele também acusou o presidente de estar desmanchando as relações internacionais e a visão que outros países possuem do Brasil. 

Temas polêmicos, como a perda do Partido dos Trabalhadores nas eleições de 2018, foram levantados durante a entrevista. Lula disse que uma das razões para ter aceitado a prisão foi o fato de que havia lhe sido dada a garantia, por todos os advogados que consultou, de que poderia se candidatar à presidência. Inclusive, destacou que cresceu 16 pontos dentro da cadeia.

O ex-presidente considera a eleição passada atípica, devido a fenômenos como a propagação de fake news e o uso da internet como principal meio de compartilhamento de informações. Ele também assumiu a falta de sensibilidade da esquerda, ao mesmo tempo que acredita que essa ainda tem chances e que está acumulando fortes figuras como Ciro Gomes (PDT), Flávio Dino (PCdoB), Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad (PT), quem Lula até supõe que poderia ter saído vitorioso se Bolsonaro tivesse comparecido a pelo menos um debate. 

Análise da entrevista

Para analisar essa entrevista, conversamos com o professor de Ciência Política da Faculdade Cásper Líbero, João Alexandro Peschanski. Formado em Jornalismo pela PUC-SP, Ciências Socias pela USP e pela Havard com doutorado em Sociologia por Winsconsin, ele nos contou o que considerou mais marcante e explicou a diferença entre “lulismo” e “bolsonarismo”. 

Peschanski considera impressionante a força pessoal de Lula. Um homem que está há um ano preso, que sofreu com falecimento do neto, do irmão e de amigos, contudo, no fim das contas é um homem que passa uma visão positiva e otimista, a de um sujeito que disse que sempre quis morar sozinho, que está controlando melhor o emocional, e já está constituindo um “plano de luta”, mencionando que quer fazer caravanas e “botar o pé na estrada”, ou seja, ele passa a impressão de que a prisão o está fazendo bem. Isso mostra uma força individual surpreendente.  

Peschanski explicou que, embora tanto o “lulismo” quanto o “bolsonarismo” coloquem a figura do líder carismático acima do partido, o primeiro parte de uma perspectiva de negociação de contraditórios, como por exemplo, a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, ao qual participou um membro do MST e um do Itaú, para chegarem ao consenso sobre o que seria melhor para a população. Enquanto isso, o segundo parte de uma ideia de “melhor Jair se acostumando”, ou seja, é uma linha de imposição política de pauta ativa, e não de negociações. 

O ex-presidente Lula está preso a mais de um ano, e caso não seja condenado no caso do sítio de Atibaia, pode entrar em regime semiaberto em setembro, quando já terá cumprido quase 18 meses de prisão. 

Marina Spinola is a History student who loves books, music, films, equal rights, cats and tea. She believes and fights for a better society hoping to build a chapter in the history books which future generations will be proud of.
Giovanna Pascucci

Casper Libero '22

Estudante de Relações Públicas na Faculdade Cásper Líbero que ama animais e falar sobre séries.