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A presença feminina na linha de frente das torcidas organizadas de futebol no Brasil

The opinions expressed in this article are the writer’s own and do not reflect the views of Her Campus.
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

A presença feminina nos estádios de futebol tem sido cada vez maior, mas é de conhecimento geral que o público masculino é predominante. Aliás, não só dentro do estádio, mas em tudo o que envolve o esporte. Muito se questiona sobre como as mulheres que estão na linha de frente das torcidas organizadas lidam com a pressão das arquibancadas, com o machismo e com a busca incessante de provar competência, além de quais as iniciativas que devem ser tomadas para aumentar cada vez mais o número de mulheres associadas.

A PRIMEIRA MULHER PRESIDENTE DE UMA TORCIDA ORGANIZADA NO BRASIL

Dulce Rosalina, nascida em 1934, foi a primeira mulher a presidir uma torcida organizada no Brasil. Em 1956, aos 22 anos, ela tomou a frente da Torcida Organizada Vasco (TOV), do clube carioca Vasco da Gama, onde introduziu a bateria e o papel picado nas festas do estádio. A imagem de Dulce era muito importante no clube, tanto por parte dos torcedores quanto dos atletas. Ela era totalmente entregue ao Vasco e marcava presença no estádio São Januário, na cidade do Rio de Janeiro, em todos os esportes do clube, não apenas no futebol.

Devido a algumas divergências políticas, a torcedora deixou a presidência da TOV em 1977 e fundou a torcida ‘Renovascão’. Dulce Rosalina tornou-se uma torcedora-símbolo e inclusive venceu o concurso de melhor torcedor do Brasil, realizado pela “Revista do Esporte”, no início da década de 60. 

Um dos episódios mais importantes da sua trajetória nas arquibancadas aconteceu quando a vascaína foi detida no estádio do Maracanã ao entrar com papel picado e, após as notícias se espalharem pelo vestiário, os jogadores do Vasco alegaram que só disputariam a partida caso Dulce fosse solta, o que acabou acontecendo e a equipe entrou em campo.

Até hoje Dulce Rosalina serve de inspiração para várias mulheres que colocam suas energias na torcida de seus times do coração.

EXISTE RESPEITO COM MULHERES EM CARGOS DE GRANDE RESPONSABILIDADE NAS TORCIDAS ORGANIZADAS?

Mesmo com o aumento da presença de mulheres no estádio, o número daquelas que ocupam um cargo no topo da hierarquia de uma torcida organizada ainda é muito baixo, e não há expectativa de um crescimento significativo, porém é possível encontrá-las. Dois exemplos de torcidas com presidente mulher são a torcida Comando Azul, do clube São Caetano, presidida por Lahrissa Cocà e a torcida Urubuzada, do Flamengo, presidida por Carla Ribeiro.

Em entrevista para o canal Cartolouco do YouTube, Lahrissa conta que chegou à presidência por voto popular e os seus colegas de arquibancada têm muito respeito por ela. Apesar disso, a caetanense reconhece que o lugar que ela ocupa é um ambiente hostil para mulheres, e constantemente os torcedores comuns (que não são associados às organizadas) e os torcedores rivais diminuem sua importância e atestam incompetência da Comando Azul por ter uma presidente do sexo feminino. Isso se intensifica pela situação atual que o clube enfrenta: foi recentemente rebaixado para a série D do Campeonato Paulista. Muitos acreditam – ou procuram qualquer motivo para simplesmente serem misóginos – que Lahrissa faz parte da inépcia do São Caetano.

AS MULHERES ESTÃO CHEGANDO, E ESTÃO CHEGANDO EM PESO

Em busca de mais espaço dentro dos estádios, grupos de torcedoras de diversos times espalhados pelo Brasil passaram a criar suas próprias torcidas organizadas, exclusivamente compostas por mulheres. O movimento foi responsável por incentivá-las cada vez mais a acompanhar seus respectivos clubes de perto, trazendo segurança, apoio e acolhimento no futebol. 

A primeira torcida organizada feminina, a Tira-Prosa, foi criada no dia 21 de setembro de 1975 por cinco irmãs torcedoras do São Bento, de Sorocaba, interior de São Paulo, e até hoje têm participações ativas dentro do clube. Apesar da admiração, ainda havia muito preconceito com o fato de mulheres comandarem uma torcida organizada e as irmãs chegaram até a fazer cursos de arbitragem. Havia hostilidade, xingamentos e desrespeito, mas elas resistiram e aos poucos foram conquistando espaço, atraindo cada vez mais mulheres para os jogos.

Hoje em dia é mais comum encontrarmos torcidas femininas, ainda que não sejam numerosas. Alguns exemplos dessas torcidas são a Força Feminina Colorada do Internacional; a Torcida Tricoloucas do Bahia; as Torcedoras Raíz do Ceará; a FluMulher do Fluminense, entre outras. 

LUGAR DE MULHER É NO ESTÁDIO… MAS COMO PUNIÇÃO?

No ano de 2023 foi tomada uma medida inédita no Brasil: a presença exclusiva de mulheres em alguns jogos como punição por brigas de torcida em partidas anteriores. Os clubes nordestinos Sport e Ceará e os paranaenses Coritba e Athletico Paranaense foram julgados pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por graves conflitos contra os torcedores rivais e a punição consistia na proibição de torcedores homens por um jogo. A massa feminina invadiu os estádios e dezenas de milhares de mulheres ensurdeceram a Ilha do Retiro no Recife, a Arena Castelão em Fortaleza, o Couto Pereira e a Arena da Baixada, ambos em Curitiba.

Percebemos que as mulheres torcedoras de times de futebol existem, querem participar, querem ser vistas e deveriam ser muito mais do que mera atração por uma punição.

A LUTA CONTINUA

Nós mulheres sabemos que ainda temos um longo caminho a percorrer para conquistar mais espaço em inúmeros âmbitos sociais, e o futebol é um deles, principalmente por ser um “esporte de homem”. É uma tarefa difícil para aquelas que gostam e acompanham o esporte, já que precisam provar o seu conhecimento o tempo todo, além de terem as opiniões invalidadas. No entanto, é ainda mais difícil para aquelas que vivem o futebol, viajando, ocupando os estádios e dando a vida pelo clube, porque além da constante provação, também precisam conquistar respeito e autoridade. 

Em 2017 ocorreu o primeiro encontro de mulheres de arquibancada, no Museu do Futebol, em São Paulo. A reunião contou com cerca de 350 mulheres de diferentes estados que discutiram o espaço feminino nas torcidas e ações contra o machismo nesse meio. De pouco em pouco as torcedoras vêm deixando cada vez mais claro que lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive nos estádios de futebol.

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O artigo acima foi editado por Giuliana Miranda.

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Marília Navarro

Casper Libero '27

Brazilian, 25y, sagittarius and moved by passion. Graduated in Business and now studying journalism. Always apologizing for talking too much.