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This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

A literatura e o jornalismo sempre estiveram ligados por um laço muito forte: o de contar histórias, sejam elas de ficção ou não. É através do jornalismo literário, entretanto, que essa relação se torna mais visível. Esse gênero surgiu em meados das décadas de 60 e 70 nos Estados Unidos, chegando ao Brasil em 1966, com a “Revista Realidade”, e tem como fundamento a ideia de transmitir os fatos jornalísticos com o uso de recursos literários.

Os livros-reportagem se inserem nessa categoria e são fundamentais para entender uma série de temas complexos, não suportados pelos jornais. Tratando de problemáticas verídicas sobre os mais diversos assuntos, trazem informações detalhadas, tornando os fatos mais interessantes, envolventes e emocionantes. É a chance de se aprofundar e entender melhor os acontecimentos transmitidos diariamente pela mídia, muitas vezes de maneira superficial ou distorcida.

Com esse objetivo, aqui vão 5 livros-reportagem marcantes e que dialogam com temas atuais, que podem somar à programação das férias:

 

Os sertões, de Euclides da Cunha

Muitos atribuem o primeiro romance de não-ficção à obra Hiroshima, de John Hersey (baseada no artigo publicado em 1946), porém, esse título é na verdade do livro Os sertões, lançado originalmente em 1902. De caráter regionalista, a obra em questão trata sobre a Guerra de Canudos (1896-1897), que ocasionou a destruição total da cidade de Canudos, no interior da Bahia. Contrastando as discrepâncias entre o que ocorre no litoral com o sertão, o autor se baseia em diversas áreas do conhecimento, dividindo seu trabalho em três partes: a descrição geográfica do local, o perfil do sertanejo e o relato do próprio confronto nas suas quatro expedições.

A sangue frio, de Truman Capote

Esse romance não-ficcional é, com certeza, o mais emblemático livro-reportagem já escrito no mundo. Tratando de um assassinato brutal de uma família tradicional americana, na cidade de Holcomb, Kansas, prende a atenção do leitor de uma forma surpreendente pela descrição minuciosa, ao mesmo tempo que sensível. Cometido em 1959, por Perry Smith e Dick Hikcock, o crime teria sido motivado por uma quantia de 10.000 dólares, guardados na casa invadida. Capote, que se tornou famoso mundialmente por esse best-seller, entrevistou inúmeras pessoas que poderiam estar relacionadas ao caso e memorizava todas as informações sem anotar nada.

Eichmann em Jerusalém, de Hannah Arendt

Adolf Eichmann ficou conhecido por ser um dos mais famosos nazistas, principalmente por pensar na “solução final” para os judeus, ou seja, a dizimação. Arendt, filósofa judia, teve a oportunidade de acompanhar o seu julgamento em Jerusalém, Israel, e ficou impressionada ao se deparar com uma pessoa bastante comum, com os mesmos anseios e dilemas gerais. É nesse contexto que, de forma brilhante, ela desenvolve o conceito de “banalidade do mal”, traduzida como a incapacidade que muitos funcionários têm de refletir criticamente, justificando ações absurdas alegando o puro “dever” de cumprimento às ordens do Estado. Repleto de questões éticas e profundas, esse livro torna-se uma leitura essencial para compreender muitos conflitos humanos.

Notícias de um sequestro, de Gabriel García Márquez

Conhecida pelo alto nível de apuração, essa obra de Gabriel García Márquez, mais carinhosamente atendido por Gabo, trata da febre de sequestros ocorrida nos anos 1990 na Colômbia, pelo grupo do Cartel de Medellín, liderado por Pablo Escobar. Primeiramente, a ideia era investigar o rapto de uma amiga, Maruja Pachón, na época ministra da educação da gestão de César Gaviria. Porém, ao longo da apuração, Gabo sentiu a necessidade de expandir seu campo de pesquisa e analisar os dez sequestros realizados entre 1990 e 1991, todos de membros com certa influência para o mandato de Gaviria, e é claro, boas moedas de troca para a chantagem dos traficantes.

Presos que menstruam, de Nana Queiroz

Com um título significante, que remete à tendência comum de se utilizar a referência masculina como regra e a feminina como exclusão, a ativista Nana Queiroz busca tocar num tema muito negligenciado na sociedade brasileira: o tratamento dado a homens e mulheres nas penitenciárias. Utilizando a mesma medida para dois pesos distintos, essa indiferenciação acaba por configurar-se extremamente desigual. Em uma série de entrevistas com mulheres em cárcere, a autora discorre sobre muitas dificuldades chocantes as quais elas são submetidas, como por exemplo a falta de absorventes internos, muitas vezes improvisados com miolo de pão. Impactante, a obra de Queiroz constata um sistema prisional falido, ineficaz e cruel.

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The article above was edited by Letícia Giollo.

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Ivana Fontes

Casper Libero '21

Jornalista e pesquisadora, gosta de falar sobre música, literatura, cultura em geral, arte e política. Tem experiência em rádio e redação, na área de entretenimento.
Giovanna Pascucci

Casper Libero '22

Estudante de Relações Públicas na Faculdade Cásper Líbero que ama animais e falar sobre séries.