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5 Iniciativas Populares de Jornalismo Para Você Acompanhar

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

A histórica hegemonia da mídia tradicional ainda prevalece no Brasil. Os principais meios de comunicação apresentam uma programação ainda excludente, na qual as narrativas populares são sufocadas, muitas vezes, por discursos elitistas e pelo oligopólio da mídia empresarial.

Diante dessa limitação representativa e funcional, o jornalismo independente surge para confrontar a chamada “grande mídia”, propondo a comunicação como uma expressão horizontal, plural, e acima de tudo, libertadora. Com a missão de acabar com a rouquidão das minorias e dar protagonismo às classes historicamente oprimidas, os veículos independentes contestam sobretudo o monólogo que se estabeleceu nos meios de comunicação e o modo com que essa disposição limitou a mídia aos horizontes das elites.

A cobertura jornalística da grande mídia quase sempre se pauta nas regiões onde se concentra o poder econômico, nos centros urbanos. Em contrapartida, as comunidades periféricas se reduzem a relatos de violência e estatísticas de pobreza, sem haver de fato informações que captem o sentido, a diversidade, o povo e a cultura das reigões suburbanas. 

Em regiões onde a ausência do Estado faz com que itens básicos como energia e saneamento sejam escassos, a informação igualmente é uma necessidade da qual carecem os moradores. Nesse recorte, serão apresentadas a seguir 5 iniciativas de jornalismo independente engajadas na luta por maior visibilidade das periferias na mídia. 

Agência Mural

Há quase 10 anos, a Agência Mural atua com o compromisso de minimizar as lacunas de informação acerca das favelas paulistanas. O grupo acredita que a desigualdade na produção de conteúdo reforça também as desigualdades sociais do país e, por isso, busca fazer com que o leitor perceba e compreenda a sociedade em que vive, para que assim, seja capaz de transformá-la.

Diferentemente dos veículos tradicionais, a Agência considera primordialmente a perspectiva dos cidadãos em relação aos fatos relatados, por isso, seus repórteres são os próprios moradores das comunidades – os chamados “muralistas”- que constituem uma equipe com mais de 100 pessoas responsáveis por produzir os conteúdos. Os muralistas têm perfis diversos, possuem idade entre 18 e 60 anos e são de diferentes credos e religiões, etnias e raças, gêneros e orientações sexuais, fazendo com que as matérias abarquem a diversidade e os múltiplos sentidos das periferias.

Desconstruir os estereótipos das favelas e dar enfoque às iniciativas culturais, sociais, políticas e econômicas das regiões marginalizadas são os principais objetivos do coletivo.

O grupo também promove alguns projetos como o Mural nas Universidades, que são palestras e oficinas ministradas em faculdades que discutem a cobertura jornalística das periferias nos veículos tradicionais, e o Mural nas Escolas, também palestras e oficinas mas para alunos do Ensino Médio de escolas públicas de São Paulo, discutindo a importância do jornalismo para a sociedade e para democracia.

Desenrola e Não Me Enrola

“O acesso à informação muda a forma como a pessoa enxerga a própria vida”, declara Ronaldo Matos, morador do Jardim Ângela e co-fundador do Desenrola e Não Me Enrola. Criado em abril de 2013, o projeto busca retratar e enaltecer os movimentos socioculturais que se desenvolvem nas periferias de São Paulo, mas que raramente são noticiados. Buscam destacar e estimular um olhar positivo sobre essas regiões, relatando iniciativas na música, no teatro, no esporte, na literatura, e outras atividades artístico-culturais que são produzidas nas comunidades.

Além do trabalho jornalístico, o Desenrola também realiza programas educacionais na área de comunicação, como o Você Repórter da Periferia, que por meio de oficinas teóricas e práticas de jornalismo comunitário, impulsiona jovens da periferia a produzirem reportagens escritas e audiovisuais.

A partir das reportagens realizadas no projeto, o grupo também desenvolve o Congresso de Escritores da Periferia de São Paulo, um evento que reúne literatura periférica e coletivos culturais, traçando perspectivas de organização e comunicação de eventos para os jovens das comunidades. Nas edições anteriores, o Congresso discutiu temas como a literatura negra, o rap e literatura, literatura feminista, políticas públicas para a literatura e empreendedorismo cultural. Além disto, também criaram o Centro de Mídia e Comunicação Popular M`Boi Mirim, um espaço localizado no Jardim Ângela que possui escritório colaborativo, estúdio multimídia de fotografia e vídeo, auditório e também a sede da redação do portal, tudo destinado aos moradores das favelas.

Periferia em Movimento

O portal, fundado por três jovens em 2009, tem a intenção de produzir um jornalismo sobre e para as favelas, fazendo com que a população marginalizada possa se reconhecer verdadeiramente na mídia. O projeto busca, em suas matérias, sempre destacar a representatividade, a empatia e a equidade, produzindo conteúdos sobre cultura e identidade, democratização da mídia, educação, gênero e sexualidade, meio ambiente, mobilidade, moradia, resistência indígena, saúde e trabalho.

Além de realizar projetos com jovens moradores de periferia, como o Repórter da Quebrada, o grupo também atua em tribos indígenas como a Tenodé Purã, onde são realizadas oficinas e reportagens coletivas com as comunidades, demonstrando que elas também podem ser protagonistas e agentes transformadores de seu próprio contexto.

Eventos em universidades, como a Faculdade Cásper Líbero, a Universidade Paulista e a Universidade Cruzeiro do Sul, são realizados para a discussão da importância da representatividade das periferias nas mídias. Além de projetos educacionais e sociais, também promovem eventos culturais como o Cultura ao Extremo, um fórum que busca localizar e divulgar artistas de favelas do extremo Sul de São Paulo, pessoas que lutam diariamente por direitos, respeito e reconhecimento.

Agência de Notícias das Favelas (ANF)

A ANF foi reconhecida em 2001 pela Reuters como a primeira agência de notícias de favelas do mundo. Criada para atender a demanda por informação nas favelas do Rio de Janeiro, a Agência acredita que a luta das favelas e comunidades carentes não pode ser desvinculada da luta global contra a ordem capitalista, e atualmente tem foco não apenas nas periferias do Brasil, mas também de toda América Latina.

Em 2005, a agência foi instituída como ONG e conseguiu levar adiante sua luta pela democratização dos meios de comunicação e o objetivo de tornar os moradores das favelas protagonistas de seus próprios contextos.

A organização também produz o jornal A Voz da Favela, um material escrito por moradores e ativistas das favelas de forma colaborativa, que atualmente possui uma tiragem de 50 mil exemplares mensais. Além disso, desenvolve projetos nas áreas de cultura, cidadania e educação como palestras e cursos preparatórios para vestibular destinados a moradores de favela.

Em 2018, ano de eleições nas esferas federal e estadual, a ANF promoveu também o Encontro da Favela com Candidatos ao Governo do Estado, um evento realizado no Complexo do Alemão que visou o debate de questões e propostas políticas. Também promoveram o Esquina da Democracia, projeto que incluiu debates políticos e apresentações culturais, contando com a presença de políticos e artistas.

Nós, Mulheres da Periferia

Formado por mulheres de periferias paulistanas, o coletivo surgiu a partir da publicação de um artigo intitulado “Nós, mulheres da Periferia” no jornal Folha de S. Paulo, que discutia a invisibilidade de mulheres da favela. O artigo repercutiu não apenas em outros grandes veículos, mas principalmente entre mulheres que vivenciavam a mesma realidade. Produzindo conteúdos em formato investigativo, literário e artístico, as publicações relatam os desafios de mulheres que vivem em favelas e a resistência diária dessa minoria.

O grupo iniciou projetos como o Desconstruindo Estereótipos, que são oficinas realizadas em bairros periféricos de São Paulo com o objetivo de compreender e discutir de que modo essas mulheres se sentiam representadas pela mídia.

Também produziram o curta metragem Nós, Carolinas (2017), um documentário lançado no Dia Internacional da Mulher, que relata a luta e o empoderamento de quatro mulheres negras e periféricas de São Paulo. Racismo, solidão, maternidade e a busca por autoestima são alguns dos temas abordados. As entrevistadas do documentário possuem entre 18 e 93 anos e, embora possuam trajetórias distintas, estão conectadas por experiências cotidianas comuns.

O título “Nós, Carolinas” homenageia Dona Carolina, uma das entrevistadas, e faz menção honrosa à escritora Carolina Maria de Jesus, autora de “Quarto de Despejo – O Diário de uma Favelada”.

Helena Figueroa

Casper Libero '22

Apaixonada pelo poder revolucionário das palavras, gosto de escrever sobre o que ninguém se atreve a escrever, sobre o que passa despercebido, sobre o ignorado, sobre o esquecido, sobre o invisível.
Giovanna Pascucci

Casper Libero '22

Estudante de Relações Públicas na Faculdade Cásper Líbero que ama animais e falar sobre séries.