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Segundo O Datafolha, 1 A Cada 4 Brasileiros Não Tem Comida Suficiente Em Casa. Que Brasil É Esse?

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

O retrato da fome no Brasil, infelizmente, não permanece apenas nos clássicos literários, como exposto nos versos de Graciliano Ramos em Vidas Secas, ou, muito menos, em uma memória distante do passado. Hoje, no Brasil de 2022, segundo dados apresentados por uma pesquisa do Datafolha, 24% dos brasileiros não tem certeza de quando farão uma refeição novamente. 

Por isso, compreender os porquês de  ¼ da população de um dos maiores produtores de alimento no mundo passar fome, é essencial para buscar mudanças nesse cenário frio e cruel que adoece e mata todos os dias. 

O Cientista Social, Bruno dos Santos Joaquim, formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), atribui a questão da fome no Brasil a diversos fatores. O primeiro deles sendo o tardio término da escravidão no país, principal gerador de desigualdades socioeconômicas. Tal fator constitui a história do Brasil e perdura até hoje, em uma das maiores crises de alimentação da história do país. 

Bruno dos Santos também explica a questão da dificuldade de acesso às terras como fator crucial para compreender a fome brasileira: “a desigualdade no acesso à terra acaba gerando um processo de urbanização que é muito desordenado no Brasil, causando um aglomerado de pessoas e mão de obra disponível de baixa qualificação nos centros urbanos”.́ 

Além disso, Bruno explica também a submissão que a população rural sofre em relação ao agronegócio. 

“O Brasil é um dos grandes produtores de alimento no mundo, mas, na verdade, está produzindo muitas commodities para exportação, que servirão como matéria-prima para alguns países do mundo. Ao mesmo tempo, não está conseguindo garantir a alimentação interna do país. Isso se dá porque a exportação é uma atividade muito mais lucrativa para o setor do que o mercado interno. É o pequeno agricultor, de agricultura familiar, que, de fato, alimenta os brasileiros”.

Outro fator apontado pelo Cientista Social como agravador da questão da fome, é a questão da desigualdade regional dentro do país, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, também crescente no Sudeste brasileiro: “ região Sudeste vem sofrendo um período de desindustrialização, de desaquecimento na economia, fatos que entram na conta de todos esses anos em que a indústria brasileira vem sendo abandonada. Por consequência desses fenômenos, há o crescimento do desemprego. “ última década no Brasil é vista como ´a década do desemprego´”.

A ineficiente gestão da pandemia também é apontada como razão do aumento tão grande dos índices de fome no país. 

“Os dois anos completos de pandemia também não colaboram em nada com a resolução desse problema, há uma piora grave nos dados que envolvem a qualidade da alimentação do brasileiro. Se há menos capital circulando, consequentemente, há menos oportunidade de trabalho e isso vai gerar uma insegurança alimentar, especialmente porque a cultura do trabalho informal é muito forte no país. A mão de obra pouco qualificada na informalidade, gera dúvida se amanhã o trabalhador poderá colocar comida na mesa ou não”, explica Bruno. 

Agravando a questão, o fantasma da inflação voltou a ser um problema no cotidiano do brasileiro. O Cientista Social explica que é quando os preços aumentam e o salário não, a população passa a ter que deixar de comprar itens essenciais. Por isso, o primeiro item a ser cortado é a carne, depois se vê obrigado a cortar o frango, o ovo, e assim, a alimentação vai perdendo a qualidade e gerando essa insegurança, que pode até levar a uma subnutrição: “esse é o retorno do Brasil para o mapa da fome”, finaliza Bruno

Dessa forma, é possível entender, mas não se conformar, com as razões históricas que marcam a vida do povo brasileiro. A fome no Brasil não é apenas uma crise, mas uma característica de um país mal distribuído e desigual, no qual procurar por restos de ossos animais parece não ser mais o suficiente para mobilizar projetos e mudança de conceitos e prioridades dentro da sociedade. 

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O texto acima foi editado por Beatriz Testa.

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Mariana Cury

Casper Libero '25

I like to write about what I feel, what I see and about stories that cross my path.