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A Jornada de Sarro: Resenha do Filme “Lion”

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Uma criança perdida. Separada da família. Sem rumo certo. Um lugar desconhecido. Tudo embalado por uma trilha sonora emocionante. Unir esses elementos faz com que você obrigatoriamente se desidrate (e muito) no decorrer das cenas do longa “Lion: Um Jornada para Casa”. A emoção, que é proposital, faz parte da fórmula usada no filme que se destacou entre os indicados ao Oscar nesse ano.

Sahoo pequeno. Foto: Observatório do Cinema

Apelativo? Seria mais se fosse ficção. Na verdade, personagens e cenário se encontram para reconstruir passagens que realmente aconteceram fora da tela. Sim, a consciência disso faz com que a carga emocional aumente consideravelmente. O ponto é que o roteiro foi baseado no livro autobiográfico do indiano Saroo Brierley, cujo título é A long way from home, no qual ele relata a sua trajetória desde os cinco anos de idade, quando se perde do irmão mais velho Guddu. Ele, que só sabia falar o idioma Hindi, se vê, após horas adormecido em um trem, em Calcutá, onde o idioma falado é o Bengali. Entre desencontros, dificuldades e maldades pelo caminho, o garoto é destinado a um abrigo. Saroo tira a sorte grande e consegue ser um entre muitos a conseguir uma adoção por um casal australiano, vivido pelos atores Nicole Kidman e David Wenham.

O longa pode ser dividido em três grandes momentos. No primeiro deles, o estreante Sunny Pawar, com um carisma e naturalidade de cair o queixo, interpreta o protagonista na infância. E se você gostou das aparições dele durante a temporada de premiações, com certeza vai adorar saber que ele rouba a cena nos primeiros 40 minutos do filme. E só dá ele! Nesse tempo, é impossível desgrudar os olhos da tela: você precisa saber e acompanhar o destino daquele menino. Novamente, a emoção surge como forma de instinto protetor. E nada no filme é construído de forma tão pura e singela quanto a relação entre os irmãos Saroo e Guddu, vivido por Abhishek Bharate. Mérito dos atores mirins, que parecem dispensar o script e viver as cenas como um recorte da realidade deles.  

Saroo e sua namorada. Foto: c7nema

Enquanto a atuação de Sunny pode deixar no ar um gostinho de indicação ao Oscar, Dev Patel, que foi indicado e interpreta o Saroo adulto não fica para trás. Começa a segunda parte do longa e Saroo se encontra na nova família. Neste momento, o garoto conhece o irmão Mantosh, também adotado pelo casal australiano. Mas os dois têm temperamentos e história muito diferentes. Oposto do irmão, Mantosh é rebelde, agressivo, desvendando, assim, o passado que havia tido até chegar ali. Um ponto negativo, aqui, se revela: a história é apresentada, mas não aprofundada. O tempo passa, os meninos crescem e essa transição de fases não ganha muita ênfase.  

Logo, estamos diante da terceira e última seção do filme, quando Saroo, já na universidade, entra em conflito consigo mesmo e com o seu passado. E assim, a trajetória que ele acreditava ter deixado para trás, volta, em flashes, a atormentá-lo. Ele precisa reencontrar a família, precisa redescobrir as origens, como um enigma que deve ser resolvido para que a vida dele pudesse prosseguir. E eis que a tecnologia dá um empurrazão no processo: o Google Earth ajuda e muito. Após passar horas e horas (que são repetidamente mostradas), ele encontra pistas e uma possível indicação de caminho para as origens. O que acontece a partir daí, você descobre indo aos cinemas ou esperando, no máximo, seis meses para assistir na plataforma streaming Netflix (sim, em breve, o longa estará disponível!).  

O protagonista e sua mãe em uma das cenas finais do longa. Foto: Shoujo Café

Não deixe dar uma atenção especial às imagens: elas são sensacionais! O que dizer sobre o momento em que Saroo, ainda menino, encontra-se em meio às borboletas amarelas? As cenas da infância e do passado do protagonista se sobrepõem como uma sombra que o persegue a cada passada. Os ângulos panorâmicos são feitos tanto nas cenas da Índia quanto nas cenas da ilha australiana.  Mas se por um lado é alo bonito de se ver, talvez não seja tão impressionante se pensarmos nos estereótipos reforçados. Os dois mundos que carregam lembranças da infância para o protagonista. Um clima de violência e constante medo permeia o território indiano. É o mesmo ambiente de denúncia que o filme “Quem quer ser um milionário?” , sim, também protagonizado por Dev Patel e que lhe rendeu uma estatueta do Oscar.

No fim, podemos concluir que o filme está longe de falar sobre as diferenças, sejam elas sociais, econômicas ou políticas, entre a Índia e a Austrália. Mas fala sobre ter um lar, ser e sentir-se acolhido, e de igualmente acolher o próximo. Num momento tão hostil quanto o qual estamos vivendo em relação aos refugiados, “Lion” nos comunica: “por que não abraçar o que vem de fora?”. É o sangue ou o afeto que importa? Talvez você tenha conhecido grande parte da história. Mas vale lembrar que a carga emocional e empática do longa não pode ser explicitada nessas breves linhas…

Observação: Esse é um filme para tirar os lencinhos do bolso e lembrar-se da importância da empatia e de acolher o outro! Você não vai entender o porquê do título do filme até assistir aos momentos finais. Então, não perca!

Edição: Marcela Schiavon

Giovanna Pascucci

Casper Libero '22

Estudante de Relações Públicas na Faculdade Cásper Líbero que ama animais e falar sobre séries.