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Inspiração feminina na reportagem: conheça Márcia Detoni

The opinions expressed in this article are the writer’s own and do not reflect the views of Her Campus.
This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

No dia 7 de abril foi comemorado no Brasil o dia do jornalista. A data foi estabelecida em 1931, pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), como uma forma de homenagear Giovanni Battista Líbero Badaró – jornalista favorável à independência que foi assassinado por inimigos políticos em 1830. 

Como comemoração a essa data tão especial, a Her Campus Cásper Líbero conversou com a jornalista e professora de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero (SP) Márcia Detoni, ex-correspondente da BBC na capital inglesa, com passagens pela Folha de S. Paulo, Reuters e Radiobrás. 

Como ser um bom repórter

Márcia Detoni acredita que acompanhar jornais internacionais é uma das coisas mais importantes para um bom repórter brasileiro tornar-se ainda melhor.

“Olhar para o que está sendo feito em outros países, o jornalismo que é feito em outros países – mais do que simplesmente a tua interação com as fontes. Por exemplo, você vê o que está sendo feito nos Estados Unidos: a National Public Radio, estação de rádio, faz programas incríveis, noticiários incríveis. Você tem o New York Times, que é muito bom. Ler e conhecer esse material te faz pensar melhor”.

Sobre o mais importante na produção de uma boa reportagem, a jornalista explica: “A escolha da pauta é fundamental. Que história você quer contar? Qual é a relevância daquela história para as pessoas? Qual a estratégia, a narrativa que você vai encontrar para contar aquilo para as pessoas e como você pode fazer com que elas entendam aquela história que você está contando.” 

Ela ainda ressalta que trazer emoção e sentimento enriquece o texto e o torna marcante. “Eu acho que as melhores histórias para contar são as histórias mais humanas. Histórias de vida das pessoas sempre são aquelas que ficam mais no coração, porque elas tocam mais o coração das pessoas.”

Vida acadêmica

No início da vida profissional, Detoni ingressou no curso de Publicidade e Propaganda, pois gostava da ideia de trabalhar com fotos e vídeos. Logo que entrou, percebeu que aquilo não era exatamente o que procurava. 

No segundo semestre, ela mudou de curso por sentir que se encaixaria melhor na missão jornalística e diz que não se arrepende. “Eu queria mesmo era fazer uma diferença grande na vida das pessoas, e a publicidade estava estimulando o consumo. Eu percebi que o jornalismo seria mais adequado para mim e para minha vida”, conta.

“Às vezes, as pessoas dizem ‘Olha, na publicidade você poderia ganhar mais.’ Eu fiz o curso de Direito também e daí eu optei pelo jornalismo. Eu não me arrependo, porque eu acho que o jornalismo traz uma riqueza para a vida da gente, que poucas profissões trazem – que é a possibilidade de você estar onde as coisas estão acontecendo e conversar com as pessoas, ouvir suas histórias, participar do debate público, levar as questões para a sociedade. Então eu acho que essa é a grande riqueza do jornalismo. Eu vivi bastante, conheci muito, aprendi muito, graças às oportunidades que o jornalismo me trouxe”, comenta.

Trabalho como correspondente

Detoni viveu em Londres por 10 anos, mas confessa que o trabalho de correspondente nem sempre pareceu plausível – e que conseguir um trabalho após a faculdade já era algo impressionante na época.

“Quando eu me formei, se eu achasse um emprego na área, eu já estaria feliz. Eu acho que é um pouco o sentimento da maioria dos alunos, porque, quando eu me formei em meados dos anos 1980, o mercado passava por uma grande transformação, como também passa agora. Existiam poucos empregos nas redações”, afirma. 

No entanto, ela sempre quis estudar fora e gostava do noticiário internacional, de forma que, assim que surgiu a oportunidade, ela não hesitou em aceitá-la.

“Eu fiz faculdade em Porto Alegre e, com cinco anos formada, eu já trabalhava num jornal e como comentadora de política à noite numa emissora local de televisão. Eu achei que precisava aprender melhor o inglês e também conhecer mais o mundo, porque estava falando de política aos 25 anos de idade, mas não tinha vivido muito. Isso foi em 1989. Eu tinha uma amiga que morava em Londres e me convidou pra ir para lá, e eu não tive hesitação. Larguei o meu emprego – em uma posição boa – para ir pra Inglaterra arriscar e tive sorte, porque fiz um ano de curso de inglês, e participei do teste seletivo da BBC. Fui aprovada e durante dez anos eu trabalhei com noticiário internacional e fiz reportagens em vários países.” 

Vida de repórter

Detoni explica que sua rotina dependia do veículo e das pendências diárias. “Na BBC eu fazia reportagens, mas também apresentação e produção de programas. Dependendo do dia, eu era escalada para fazer a apresentação do programa e, se tinha alguma reportagem especial, eu saía para fazê-la. Então eu sempre tinha uma rotina de chegar na redação e verificar qual era a tarefa para mim naquela semana. Na Folha de S. Paulo, eu chegava na redação e tinha uma reunião de pauta. Nós tínhamos um trabalho que era de redação das notícias e outro de apuração por telefone ou por e-mail, porque o Internacional da Folha era feito a distância, mas, eventualmente, a gente ia fazer uma cobertura no exterior.”

O que a jornalista mais gostava como repórter era a possibilidade de viajar e poder estar perto das pessoas, além de valorizar a oportunidade de ter trabalhado com rádio sem editorias fixas.

“O que eu mais gosto no trabalho de repórter é estar no local onde as notícias estão acontecendo. No caso do jornalismo internacional, você faz esse deslocamento para fazer as reportagens. Então, esse contato frente a frente com as pessoas mais diversas. Trabalhava lá na BBC com rádio, e a gente não tinha editorias fixas, trabalhava cobrindo economia, política, cultura e essa variedade foi muito boa para mim. Então, essa acho que é a parte mais legal da reportagem, estar onde as coisas acontecem, ouvir as histórias das pessoas e poder contá-las.” 

Por outro lado, a profissional da notícia destaca que o trabalho com reportagem, especialmente com rádio, pode ser muito solitário.

“Eu viajava sozinha, só eu e o meu gravador. No jornal, às vezes, você viaja com o fotógrafo e, na televisão, com a equipe. Hoje eu faço documentários de vídeo e sempre faço as entrevistas em equipe, o que é muito gostoso. É melhor você estar em equipe.”

Reportagens e viagens marcantes

Márcia já conheceu mais de 30 países com seu trabalho, tendo a oportunidade de conhecer lugares incríveis e de fazer reportagens para lá de interessantes.

“Eu passei 45 dias no leste europeu para registrar a transição do comunismo para o capitalismo. Passei por 11 países e foi muito interessante, porque a gente não tinha muita noção do que tinha sido o comunismo. Eu pude enxergar o comunismo destruído realmente e ouvir as pessoas relatarem como era a vida nele. Percebi também que o capitalismo estava chegando de uma maneira bem selvagem, deixando muitas pessoas de fora daquele processo. Eu vi o quanto foi o sofrimento daquelas pessoas e aquela reportagem me marcou. Quando eu voltei do leste europeu, fiquei um pouco triste, um pouco deprimida como ser humano. Incapaz de viver numa sociedade mais igualitária, nem no comunismo e nem nesse capitalismo que se apresentava, então parecia ser ‘Bom, não temos uma saída’”, relata.

Além dessa experiência histórica, a radialista também relembrou visitas à África e Ásia.

“Eu viajei para os países de língua portuguesa e foi muito legal. Você está em Angola, Moçambique, em Goa, na Índia, em Macau, na China. Eu fiz uma reportagem pela Ásia, que foi muito legal também, sobre uma crise econômica que teve em 1998, e eu estive por cinco países do Sudeste asiático”.

Tais viagens impactaram não só a forma como a comunicadora exercia o jornalismo, mas também seu próprio sentido de identidade

“Quando eu saí do Brasil e fui para Londres, começo a conhecer melhor o Brasil estando fora. Eu me surpreendi muito, porque tinham coisas que eu pensava que só existiam no Brasil, e existiam em outros países. Tinham coisas que eram melhores em outros países, e não tinha no Brasil. Também a minha própria personalidade – o que em mim é da minha personalidade, e o que é da minha cultura. A minha própria identidade fica mais clara quando eu me confronto com outras culturas”.

Detoni também destaca a temporada no Reino Unido como uma das experiências mais transformadoras da carreira.

“Lá na Inglaterra, você tem a melhor emissora de televisão do mundo, que é a BBC, e também os melhores jornais. Um jornal que é muito bom,por exemplo, é o The Guardian. Então, quando eu passei a ler veículos que fazem um jornalismo mais bem apurado, que investem mais recursos jornalísticos, comecei a ver quais eram as possibilidades da profissão”, ela finaliza.

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O artigo acima foi editado por Gabriela Antualpa.

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    Olivia Nogueira

    Casper Libero '26

    Brazilian journalism student who loves to talk about music, books, TV shows and Formula One.