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Entenda A Pandemia Na Índia E Os Motivos Que Deixam Vários Países Em Estado De Alerta

This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Território imenso, segundo país mais populoso do mundo, transmissão descontrolada, variantes e sistema de saúde em colapso. A Índia tem enfrentado recordes diários de casos de Covid-19 no país, sendo o último (07/05) de quase 414 mil registrados em 24 horas. Contudo, a situação caótica vivida pela população já tinha apresentado melhoras em fevereiro, o que surpreendeu vários países. A população presenciou, em menos de um mês, uma percepção de controle para um completo caos, marcando a segunda onda da pandemia no país.

Retrospectiva da pandemia no país

Quase no mesmo período de 2020, em março, Narendra Modi declarava um rigoroso lockdown nacional que impedia o funcionamento dos comércios, voos nacionais e internacionais, como também o do transporte ferroviário. Bloqueios policiais ao redor do país foram uma das principais medidas para garantir a efetivação do plano decretado pelo governo indiano. Nesse momento, o país apresentava um número relativamente pequeno de casos confirmados, ultrapassando um pouco mais de 100.

Já em meados de junho, o sistema econômico começou a apresentar grandes problemas, mesmo com um saldo positivo no número de casos do novo coronavírus. O país exibiu um dos maiores declínios, com o recuo de quase 24% do seu PIB, comparado ao ano anterior. Assim, o governo, preocupado com o rumo da economia no país, deliberou o projeto de flexibilização do lockdown. Os resultados negativos da medida foram percebidos em setembro, quando os casos de coronavírus já contabilizavam 4 milhões.

A primeira onda ultrapassou 150 mil mortes, tornando-se o terceiro país a registrar a marca, depois dos Estados Unidos e do Brasil, já em janeiro de 2021. No mesmo mês, a Índia aprovou o uso emergencial das vacinas contra a Covid-19, desenvolvidas pela empresa farmacêutica britânica AstraZeneca com a Universidade de Oxford e pela empresa local, Bharat Biotech. Ainda lançou uma das maiores campanhas de vacinação do mundo, começando pelos profissionais da saúde.

Em fevereiro, a Índia tornou-se o primeiro país a alcançar a marca de 5 milhões de pessoas vacinadas. Entretanto, o ânimo do governo indiano que afirmava estar na fase final da pandemia, tendo Modi declarado vitória sobre o coronavírus, fez com que, rapidamente, os protocolos de segurança fossem ignorados. Casamentos, comícios políticos e religiosos foram liberados. O momento que era para ser aproveitado com o declínio das infecções para acelerar a vacinação, teve rumo contrário, desacelerou. No começo de abril, mais de 3 milhões de peregrinos se juntaram às margens do Rio Ganges para o festival religioso de Kumbh Mela, sem nenhum distanciamento social ou uso de máscaras.

Cenário atual

Pouco tempo depois, o país presenciou o aumento exponencial de casos de Covid-19, variantes foram detectadas dentro do país e a disseminação acentuada sobrecarregou o sistema de saúde. Agora, o país vivencia um colapso, com os números de mortes e de infectados cada dia mais altos. Em Nova Delhi, capital do país, os hospitais não têm mais leitos de UTI. Em alguns, seguranças estão impedindo a entrada de pessoas, já que não há recursos disponíveis. Milhares de pessoas estão morrendo ao lado de fora dos hospitais, nas filas ou dentro de suas casas.

Há falta de remédios e de oxigênio, necessários para manter e estabilizar pacientes em estado grave. Os laboratórios estão sobrecarregados, testes de Covid e exames demoram dias para retornarem, o que impede a avaliação do progresso da doença e do tratamento adequado. Sem os insumos básicos, a quantidade de mortes é incessante. Cremações em massa são feitas para dar conta do número de vítimas do vírus. Os crematórios chegam a relatar falta de madeira para as piras fúnebres.

Preocupação global

A situação do país do sul asiático preocupa o mundo inteiro, afinal o vírus é um problema global. Todavia, a importância econômica da Índia é um dos fatores que mais atrai a atenção dos países. A Índia é o segundo país mais populoso do mundo, com maioria jovem e é a sexta maior economia do globo considerando o PIB nominal. O país é visto por outros países como parceiro economicamente estratégico dentro do continente asiático.

Além disso, o que mais concerne os outros países dentro do contexto pandêmico, é que a Índia é a maior produtora de vacinas do mundo, já que fabrica 60% da demanda mundial, tendo a capacidade de produzir 90 milhões de doses por mês nas suas duas maiores fabricantes, entre elas o Instituto Serum. Para atender a demanda interna do país, o ministério das relações exteriores decretou a pausa das exportações da vacina. Outro fator alarmante é que pela alta população e densidade, a Índia é uma incubadora  perfeita para este vírus experimentar mutações e espalhar para países do entorno, como Nepal, Bangladesh e Paquistão. Podendo afetar em uma escala global o contágio pelo vírus e prolongar a duração da pandemia no mundo. Segundo Tedros Adhanom, líder da Organização Mundial da Saúde (OMS), o caos na Índia é um lembrete devastador do que o vírus pode causar.

A comunidade internacional já começou a ajudar a Índia, países como Reino Unido, Alemanha, França, Singapura enviaram insumos, equipamentos médicos e de proteção ao país. Segundo o Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV, em uma entrevista ao podcast “O Assunto” da Globo, a diáspora indiana teve um grande papel na pressão por ajuda diante dos outros países.

Pressão nas redes

Como exemplo, a atriz Priyanka Chopra, que em seu Instagram e twitter tem pedido ajuda para a Índia. Em um de seus tweets marcou o próprio presidente norte-americano, Joe Biden. Além dela, o ministro das relações exteriores da Índia também fez uma postagem no twitter dizendo que “O mundo precisa ajudar a Índia, assim como a Índia ajuda o mundo.”

O lobby político ainda contou com uma reportagem endereçada “aos amigos dos EUA”, criada pelos cinco maiores think tanks indianos, pedindo para que Biden revogasse a proibição de exportação de insumos para a vacina. Pouco tempo depois, o New York Times publicou uma matéria com a seguinte manchete: “Em meio a um surto mortal na Índia, EUA são pressionados a liberar insumos.” No dia 26 de abril, em ligação telefônica com Narendra Modi, Joe Biden prometeu ajuda de emergência à Índia, visto que o país norte-americano conta com um excedente de vacinas.

A população indiana não tem uma previsão de melhora da situação do país. Os índices de mortes e contágios são cada vez mais altos e desproporcionais. Muitos especialistas afirmam que a discrepância entre os dois índices é resultado da subnotificação, principalmente das áreas rurais, já que a  população não dispõe  nem de infraestrutura, nem de disposição para participar da coleta de dados necessária. Ou seja, o número de mortes por Covid na Índia pode ser muito maior do que o divulgado.

Ainda assim, Modi recusa adotar um lockdown nacional novamente, com medo de que o bloqueio tenha um impacto negativo na economia, como em 2020. Alguns estados adotaram medidas de restrição, por exemplo, o fechamento dos estabelecimentos e redução da capacidade de pessoas nos locais de trabalho ou públicos. Entretanto, a Índia precisa de um plano efetivo e acelerado de vacinação para prevenir a propagação do vírus, porque só assim não apresentará risco ao mundo inteiro. Há uma grande carência logística e estrutural por parte do governo indiano, o qual só vem difundindo medidas tardias no combate do coronavírus. Em uma carta a Modi, Rahul Gandhi, líder do Congresso, criticou a falta de um plano coerente e uma estratégia de vacinação eficaz, pois isso colocou a Índia em uma situação perigosa. Ainda reiterou que se o custo econômico preocupa Modi, o custo humano será mais trágico ao povo indiano.

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The article above was edited by Angela C. A. Caritá.

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Sarah Romero

Casper Libero '24

Estudante de Rádio, Tv e Internet na Faculdade Cásper Líbero e de Artes Cênicas na Escola de Artes Célia Helena. Apaixonada pela arte e tudo que a vida pode expressar!