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This article is written by a student writer from the Her Campus at Casper Libero chapter.

Nesse sábado (6), aos 91 anos, Ziraldo faleceu em sua residência, na Zona Sul do Rio de Janeiro, segundo informações confirmadas pela família. Com a saúde debilitada desde 2018, o artista já havia sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Por recomendação médica, não concedia mais entrevistas desde então.

Ziraldo Alves Pinto nasceu em Caratinga, Minas Gerais, em 24 de outubro de 1932. Como era costume na época, seu nome nada convencional, vem da mistura de Zizinha e Geraldo, seus pais.

Pode-se entender que fugir das convenções foi algo que lhe acompanhou durante toda a sua trajetória. Sempre apaixonado pela ilustração e pela literatura, com apenas seis anos já pôde publicar seu primeiro desenho no Jornal Folha de Minas – no qual voltaria a trabalhar no futuro. 

Mesmo que em 1957 tenha se formado em Direito, Ziraldo estabeleceu sua carreira com o desenho. Assim, trabalhou em jornais como o Folha da Manhã (atual Folha de São Paulo), Jornal do Brasil e na revista O Cruzeiro, esta que proporcionou uma maior notoriedade nacional para o artista. 

Muito além de “O Menino Maluquinho”

Mesmo que seu maior sucesso seja a obra “O Menino Maluquinho” – lançada na década de 1980, vencedora do Prêmio Jabuti e que, ao todo, vendeu mais de 4,1 milhões de exemplares – Ziraldo tem dezenas de livros publicados, seja como autor, colaborador ou ilustrador. 

Em 1960, lançou a “Turma do Pererê”, a primeira revista em quadrinhos a cores produzida no país e a primeira a ser feita por um só autor. Censurada após o início da Ditadura Militar, voltou a circular apenas na década seguinte. 

Sua primeira obra infantil, a “Flicts”, foi publicada nos anos 1970. Ela conta a história de uma cor solitária, nomeada como Flicts, que não se encaixa no arco-íris e busca por pertencimento. Novamente fugindo das convenções, Ziraldo foi capaz de mostrar às crianças a importância da inclusão diante das diversidades, de maneira simbólica e didática através de um poema gráfico. 

O sucesso foi tanto que a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil deu uma cópia de presente aos astronautas americanos que fizeram parte da primeira expedição à lua. Comovido pela história, Neil Armstrong disse ao autor que A lua é Flicts.

Ziraldo teve diversos outros sucessos, como “O Joelho Juvenal”, “O Menino da Lua” (mais um finalista do Prêmio Jabuti, em 2007), “Uma Professora Muito Maluquinha”, “Menina Nina”, “O Bichinho da Maçã” e “O Planeta Lilás”. Ao todo, suas obras foram publicadas em mais de dez países.

Responsável por moldar gerações com suas belas histórias, o ilustrador foi capaz de ultrapassar os marcos na literatura, levando suas criações para a televisão, o cinema e, hoje, até mesmo para os streamings. “O Menino Maluquinho”, por exemplo, foi adaptado em 2006 para uma série de televisão, pela TV Brasil, e, nas telonas, teve até uma sequência intitulada de “Menino Maluquinho 2 – A Aventura”. Em 2022, o querido menino com a panela na cabeça e a capa improvisada também ganhou uma animação, produzida pela Netflix

O cinema também ganhou uma adaptação mais recente: “Uma Professora Muito Maluquinha”, estrelada por Paolla Oliveira. O filme mostra a história de uma professora que consegue conquistar seus alunos – e, depois, a cidade inteira – através de seu jeito extrovertido e singular. 

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Sua atuação política

Mesmo que hoje seja mais conhecido por sua atuação dentro da literatura infanto-juvenil, ao longo de sua carreira, o cartunista produziu obras que refletiam seus valores e ideais sociais. De artista gráfico a jornalista e cronista, integra o ideal simbólico do país também no setor político.

Durante a Ditadura Militar (1964 – 1985), publicou suas charges e cartuns nos jornais e revistas em que trabalhava, como O Cruzeiro e Jornal do Brasil. Ao tornar-se uma grande voz de resistência ao autoritarismo, foi preso pela primeira vez em dezembro de 1968, um dia após a promulgação do AI-5 (Ato Institucional Número 5), que deu início ao período mais duro do regime. 

Um ano depois, foi um dos fundadores do jornal O Pasquim, um dos principais veículos da contracultura da época, utilizando o humor para abordar temas censurados, como sexo, drogas e feminismo, além de, claro, ser forte oposição à ditadura militar. 

Mesmo tendo sido preso mais duas vezes e ter passado por diversos ataques, em 2007, disse à Folha de São Paulo que “ter podido atravessar os anos de chumbo fazendo O Pasquim foi uma dádiva. Morríamos de medo, mas fazíamos de tudo”. 

Em relação aos partidos, foi membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, nos anos 2000, filiou-se ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), em que foi responsável pela criação da logo utilizada até os dias atuais. 

Em 2008, Ziraldo e outros jornalistas que foram perseguidos durante o regime tiveram seu processo de anistia e indenização aprovado pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Foi indenizado em mais de R$1 milhão e, ainda, recebeu uma pensão vitalícia de cerca de R$4.300.

Nas eleições mais recentes, manteve-se ligado à esquerda, declarando apoio ao Partido dos Trabalhadores (PT), tanto com Dilma Rousseff quanto com Fernando Haddad. Durante a pandemia de Covid-19 e o período de vacinação, Ziraldo continuou demonstrando suas opiniões através de ilustrações em suas redes sociais.

Além de criar histórias infantis e posicionar-se diante do cenário político, Ziraldo também criou cartazes para filmes, como “Os Cafajestes” e “Os Fuzis”, de Ruy Guerra

Sua história (com a autora deste texto)

Com um legado que ultrapassa todas as gerações, Ziraldo foi capaz de criar obras que moldaram as percepções intelectuais, literárias, políticas e sociais de muitos brasileiros. Dentro e fora da literatura, o artista foi único para muitas crianças — inclusive para mim. Esse texto é um até logo, de uma fã para um ídolo, mas com o intuito de manter seu legado para sempre presente.

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Editado por Ana Luiza Sanfilippo

Fernanda Alves

Casper Libero '25

Future journalist, writer in training and lover of culture.