A série Cidade Invisível, lançada em 2021 na Netflix com a premissa da valorização do folclore brasileiro, atingiu o ranking dos mais vistos na plataforma em 40 países. Após dois anos, a segunda temporada chegou ao streaming.
No entanto, não podemos deixar de lado os burburinhos que vieram junto da primeira temporada.
QUAL FOI A REPERCUSSÃO DIANTE DA SÉRIE?
Na primeira temporada, repercutiram muitas críticas diante das personagens e lendas, uma vez que foram interpretadas, em maioria, por pessoas brancas e pretas, não indígenas.
Lai Munihin, pesquisadora nas áreas de relações étnicos-raciais, comentou, via Twitter, várias de suas percepções de atos errôneos cometidos pela série. Nesse caso, ela menciona a caracterização da personagem Iara (Jessica Córes) que, mesmo sendo de água salgada originalmente, foi transformada em mãe d’água doce.
Já o Boto Cor-de-rosa (Victor Sparapane)foi chamado de Manaus, uma versão aportuguesada do nome de um povo indígena, os Manaós.
Fabrício Titiah, ativista da tribo Pataxó HãHãHãe, fala que a série confunde quem vê.
“Há uma diferença muito grande entre exaltar uma produção nacional e colaborar para a venda da imagem de um Brasil onde a cultura sagrada de um povo é tratada como uma fantasia exótica, reforçando pensamentos equivocados que os gringos tem sobre nossa cultura”, diz ele.
A Netflix não chegou a se pronunciar diretamente sobre esse assunto. Porém, é evidente que, com o lançamento da segunda temporada e a forma como é desenvolvida, houve uma tentativa de retratação com o público, após os erros cometidos.
Essa nova temporada – diferente da anterior, que foi retratada no Rio de Janeiro – se passa inteiramente em Belém, Pará. O cenário deu abertura para a nova trama, que se volta à proteção da Floresta Amazônica.
Dessa forma, aparece essa oculta tentativa de retratação, com a inclusão de atores e atrizes indígenas, lendas originárias do local e indígenas no backstage.
Mesmo com as falhas que rolaram no processo da série, ela chegou ao público com a intenção de valorizar e trazer visibilidade para a cultura e o patrimônio histórico brasileiro. O folclore, por sua vez, tem como definição ser um elemento cultural que influencia, através de músicas, comidas, danças e com as lendas, e tem forte importância para a preservação histórica dos povos originários.
as lendas retratadas
Confira algumas figuras que aparecem na segunda temporada:
- Mula Sem Cabeça, em sua versão original, são mulheres que, caso tivessem relações sexuais antes do casamento, principalmente com padres, seriam amaldiçoadas e se tornariam no ser.
- Boiúna é uma cobra gigantesca que vive no fundo dos lagos da Amazônia. Através de seu olhar, ela atrai e se alimenta de pescadores próximos. Boiuna consegue se transformar em mulher, navio ou canoa.
- Lobisomem, na série, é também conhecido como Bento. A lenda consiste na maldição dada ao oitavo filho, após o nascimento de sete meninas. Em noites de lua cheia, ele se torna metade lobo.
- Zaori, também conhecido como Lazo, lenda da região Sul, é um homem nascido na Sexta-feira Santa que, devido a isso, ganhou a habilidade de enxergar além do normal. Sendo assim, ele enxerga as riquezas da Terras, como minas de ouro e pedras preciosas.
- Cobra Norato é a cobra vista no primeiro episódio, atacando um garimpeiro, que ao ser capturado, se transforma em indígena. A lenda consiste em uma mulher que ficou grávida do Boto e deu à luz a gêmeos, que, na verdade, eram cobras – a menina se chama Maria Caninana e o irmão Norato. Os irmãos viviam nas águas por ordem imposta a sua mãe, por parte do pajé.
- Pajé Jaciara, também conhecida na série como Matinta Perê, é uma velha bruxa que se transforma em um pássaro à noite, como a coruja. Matinta assobia até que alguém lhe prometa algo para acabar com o barulho, caso o combinado não seja cumprido até o dia seguinte, uma tragédia acontecerá. Esta é uma lenda conhecida no Norte do Brasil.
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O artigo acima foi editado por Fernanda Alves.
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